A minha Avó materna faria hoje 113 anos. resolvi homenageá-la através da lembrança de uma planta, de que ela gostava e que já fazia parte da família. Infelizmente morreu nestes inverno, não se sabe porque. Não foi nenhum tsunami, nem o vento, nem a chuva. Morreu porque sim.
A minha Avó comprou-a aquando do casamento da minha Mãe em 1940. Ficava bem no canto da grande marquise da Rua Vale do Pereiro em Lisboa, Avó aconselhava-nos a não chegarmos muito perto pois podíamo-nos picar ou magoar. Ainda me estou a lembrar da cena.
Quando a minha Avó teve de deixar o apartamento onde vivia porque o prédio ia ser vendido para construirem um mais moderno e quase todos os moradores tinham morrido de velhos e só a minha Avó se mantinha lá nesse 5º andar sem elevador, o meu Pai que gostava muito de plantas, sugeriu levá-la para a Luz, pois tínhamos comprado a casa em 1964 e ainda não havia árvores por ali. Plantaram-se duas, uma que a minha Avó tinha conseguido fazer germinar a partir dum caroço de tãmara e esta, a da família, que já teria uns vinte e cinco anos. foi plantada na parte inferior do jardim, mesmo em frente da casa e via-se à distância. Levou tempo a pegar, estava muito delgada, parecia que não vingava e que acabaria por morrer. A de cima, a mais nova, ficou linda, mas teve de ser cortada, pois ao meterem os canos de água, cortaram-lhe a raíz e ela ameaçava cair em cima da casa ou no jardim.
Um dia a nossa velha palmeira começou a crescer e a crescer, de tal modo que ocupava um grande espaço no jardim de baixo, fazia sombra
e alguns miudos gostavam de jogar a bola por ali. Lembro-me de fazermos um piquenique numa tarde em que uns amigos nossos alemães nos foram visitar.
Lembro-me de cortarem os ramos secos e do meu filho joão montar uma casinha só com ramos tipo palhota, onde se escondia, todo risonho. Lembro-me dos belos cachos doirados que, ao pôr do sol pareciam lingotes em cascata. Lembro-me das noites de luar,
em que a palmeira em contra-luz dava àquele jardim uma atmosfera
tropical, paradisíaca, duma beleza infinita. Ainda no ano passado tirei estas duas fotos do luar. Lembro-me de a pintar em pastel, há dois anos, já muito depois do meu sobrinho Pedro ter escrito um texto tipo diário da palmeira, que a minha Mãe guardou religiosamente. A palmeira era o
ex-libris da nossa casa.
Tinha dito aos meus filhos que, quando morresse, queria que as minhas cinzas fossem enterradas ali, onde estavam as minhas raízes, o único local , onde toda a minha família alargada esteve e foi feliz.
Ficam aqui algumas fotos tiradas nos vários anos que ali passei.Vai-me fazer impressão não a descortinar da varanda nas noites de luar.
ADEUS, AMIGA! Até sempre!