Passar de autora dum manual escolar ao estatuto de Avó em 20 minutos tem que se lhe diga.
Ainda os chips estão sincronizados para a pedagogia, para as fórmulas e os skills da língua inglesa e já temos de os formatar para se tornarem meigos, pacientes e netos-friendly.... e, sobretudo, aptos a ouvir as coisas mais pândegas e inesperadas do mundo.
Vir a casa da Avó já se tornou um hábito para eles à 4ª feira , mas gosto de lhes oferecer algo diferente. Hoje fiz panquecas. Estão ali à espera que eles venham, muito douradinhas e mesmo apetitosas. Vou tirar umas fotos! Para acreditarem que não estou a inventar!
Ui, já aqui estão. Com as mochilas, os casacos, as sapatilhas....a minha entrada parece o Banco Alimentar de roupas e objectos escolares!
Lancham bem, mas um deles prefere uma laranja à panqueca e o outro quer antes um pão seco, que lhe sabe a pouco. Só o mais velho come três panquecas com compota e mais comeria, se eu deixasse.
E agora depois de lancharem, há que entrar em "modo de persuasão" para que a TV desapareça e só surja à luz do dia ( ou da noite!) daqui a meia hora ... se não os pais queixam-se de a Avó usar a TV como babysitter...não, a Avó tem de ter paciência por inerência do cargo.
Joga-se ao scrabble com o neto do meio ( sete anos), que quer escrever palavras inventadas por ele - com ç e o diabo a quatro - e fica piurso quando digo que essas palavras não existem. Amua e diz-me baixinho:
Estás a ficar velha! Agora é a minha vez de ficar piursa!!
Este meu neto tem o condão de dizer o que não deve e o meu drama é que herdou essa qualidade (?) para além dos traços físicos, desta Avó.
Muita gaffe cometi quando era miúda e muito ralhete apanhei por isso. Digo-lhe que não me importo nada de envelhecer e que os meninos não devem dizer essas coisas às pessoas mais velhas porque elas ficam tristes. Será que entendeu? Duvido!
Umas palavras depois, inventadas ou não, arruma-se o Scrabble e finalmente podem ver TV. Calados como ratos, só se ouve o barulho irritante dos bonecos animados, qual deles mais palerma e mais deseducativo. O que vale é que dura pouco...
O mais novo que tem três anos quer vir para o meu colo e eu conto-lhe a história do Capuchinho Vermelho. Fica feliz e ouve-me com atenção. Quando acaba, pergunto-lhe: Queres que te conte a do Lobo e dos Sete cabritinhos? Responde que não: Não, vóvó, essa é quase igual à do Capuchinho!
E não é que é mesmo?
A verdade está na boca das crianças;-).