sexta-feira, 7 de outubro de 2011

HOWL - UIVO

Ontem fui ver este filme, que já  andava a namorar...

Li muito sobre a Beat Generation, como foi apelidada esta geração de jovens americanos, nos anos 50-60 s. Era o pós-guerra, uma época de boom industrial e também de revolta contra o materialismo, que se tinha instalado nas famílias dos G.I.s, formatadas e financiadas pelo Estado, vivendo nas suas casas iguais, em bairros todos iguais, com as suas grades brancas, a dividir os pequenos jardins, ilustrada num poema notável de Malvina Reynolds, que se segue:


Little boxes on the hillside,
Little boxes made of ticky tacky,
Little boxes on the hillside,
Little boxes all the same.
There's a green one and a pink one 
And a blue one and a yellow one,
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same.


And the people in the houses
All went to the university,
Where they were put in boxes
And they came out all the same,
And there's doctors and lawyers,
And business executives,
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same.


And they all play on the golf course
And drink their martinis dry,
And they all have pretty children
And the children go to school,
And the children go to summer camp
And then to the university,
Where they are put in boxes
And they come out all the same.


And the boys go into business
And marry and raise a family
In boxes made of ticky tacky 
And they all look just the same.
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one,
And they're all made out of ticky tacky
And they all look just the same.





A geração beat identificava-se com um fenómeno cultural que aliava a revolta, a experimentação com drogas, formas alternativas de sexualidade,  interesse pelas religiões orientais,  rejeição do materialismo,  idealização de meios de expressão exuberantes, coloquiais e vivenciais. Viviam com pouco conforto e são considerados precursores dos hippies, embora muito cultos e até com educação superior. Morreram jovens, à excepção de Ginsberg.


As suas obras, HOWL de Ginsberg, Naked Lunch, de Neal Cassady e On the Road  de Jack Kerouac conheceram um sucesso estrondoso, uma vez publicados, e simultaneamente, desencadearam protestos das alas mais conservadoras da sociedade americana ameaçadas pelas ideias boémias, hedonistas, não conformistas e pela criatividade espontânea destes novos vultos literários.

O filme retrata o processo a que foi submetido Allen Ginsberg, acusado de ter utilizado linguagem obscena na sua obra poética. O filme


apresenta excertos duma entrevista imaginária ao escritor e a leitura em voz alta do poema pelo próprio, traço relevante na estrutura do filme por ser apresentado a preto e branco. Aliados ao poema surgem pedaços de banda desenhada, com cores muito sugestivas e figuras plásticas, que, na opinião de alguns críticos estragam a sequência do filme, mas quanto a mim o tornam mais criativo e menos linear.
Gostei, embora reconheça que não é filme para todos os gostos, assim como PINA, um dos melhores filmes que vi este ano. Ainda bem que há realizadores a sair do mainstream e a tentar outras vias.

Só resta acrescentar que vi o filme completamente sozinha na sala e que a princípio apareceram trailers sem imagem, pelo que tive de ir à entrada queixar-me da falha técnica. Nunca tal me tinha acontecido! Como só pague bilhete senior, devem ter achado que só merecia som!!