Ontem e hoje dediquei-me este quadro. Não é grande, mas tem algo que me surpreende. É diferente de todos os outros que já fiz,o colorido atrai-me. Será que o fundo do mar é assim? Continuo a especular criativamente.
Depois de passar um dia na cidade antiga, apeteceu-me ir até ao mar....como si fuera esta tarde la ultima vez:)). Sentia uma vontade entranhada de estar à beirinha das ondas. Não passei da esplanada, no entanto, pois a areia estava muito molhada e os meus sapatos enterram-se. A areia da Foz é grossa como nunca vi noutras praias, os grãos são pedrinhas pequeninas, não tão minusculas como em Matosinhos ou Leça. É uma areia linda, sobretudo quando está limpinha como hoje estava. As pessoas só apareceram a partir das 3 e eu cheguei lá pela 1.30. Era uma calmaria, não havia nuvens, só pedacinhos que de vez em quando encobriam o sol e mudavam a cor do mar resplandecente, como se pode ver nas fotos. Tudo parecia prateado. Crianças subiam aos rochedos com ousadia e mesmo algum risco, mas os pais não ligavam, e eles faziam o que queriam.
Ouvi música durante algum tempo, fechei os olhos, não sei se dormitei, sei que me senti feliz...feliz...
Falei com a minha filha pelo telefone. Estava na biblioteca a estudar, mas disse-me baixinho que em Leeds não pára de nevar desde há uma semana. Oxalá se mantenha até eu ir....adorava voltar a ver neve em quantidade, ir até parque ou a York, que é um postal ilustrado com neve. Falar com ela deu-me paz...é doce a minha filha.
Como sempre voltei de autocarro. Só velhos....bem mais idosos do que eu...com aspecto de quem vai apanhar um pouquinho de sol, mas nem tem dinheiro para ir a uma esplanada. Sorriem, conhecem-se de muitos e muitos domingos a apanhar o 204 naquela paragem da Rua do Farol. Lembrei-me dos versos de Jacques Brel da canção "Les Vieux":Les vieux ne meurent pas, ils s'endorment un jour et dorment trop longtemps. Ils se tiennent la main, ils ont peur de se perdre et se perdent pourtant.
Muito curta....só à capital e mesmo ao coração da dita.
O meu filho vai mudar de casa e a nova morada fica na Mouraria, terra do Fado nas Escadinhas da Achada. O nome diz tudo. Nunca vi tantas escadinhas na vida. Não pude tirar fotos porque chovia, estas são do google, mas voltarei lá mais vezes. A casa dele é um T0, num beco com vista para o Largo do Caldas. Um candeeiro típico de Lisboa em forma de lanterna ilumina-lhe a cozinha à noite, quase não é preciso acender a luz. Tudo muito típico, mas frio...:)), sem aquecimento, com um esquentador diabólico ( Já me tinha esquecido destes hábitos lisboetas, mil vezes o cilindro do Porto!! Como ele tinha exame amanhã, vim à noite no comboio das 8. A viagem foi linda, para lá e para cá, sempre a ouvir música e sossegada. Adoro viajar de comboio, sinto-me leve, independente, só, no bom sentido. Não preciso de companhia para viajar, adorava fazer uma viagem grande sozinha...um dia.
Tirei algumas fotos no caminho.
Portugal depois da chuva é mesmo lindo...os campos competem com os que vejo em Inglaterra, que neste momento devem estar brancos de neve. A minha filha diz que tem nevado todos os dias em Leeds e ela está feliz. Do quarto dela vê-se tudo coberto. Daqui a 15 dias estarei lá. Viajar agora é comigo.
E dado que ontem se celebraram os 75 anos da morte de FERNANDO PESSOA, fica aqui um poema a Lisboa do seu heterónimo, ÁLVARO DE CAMPOS:
Lisboa
Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias cores, Lisboa com suas casas De várias cores... À força de diferente, isto é monótono. Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto, Na lucidez inútil de não poder dormir, Quero imaginar qualquer coisa E surge sempre outra (porque há sono, E, porque há sono, um bocado de sonho), Quero alongar a vista com que imagino Por grandes palmares fantásticos, Mas não vejo mais, Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras, Que Lisboa com suas casas De várias cores.
Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa. A força de monótono, é diferente. E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo, Lisboa com suas casas De várias cores. Álvaro de Campos, in "Poemas"
Já falei aqui da Escola Pauta, academia de música que aplica o método Suzuki para a aprendizagem do violino, viola clássica ou violoncelo, desde a mais tenra idade. Os meus netos tocam violino e violoncelo ( o instrumento é quase maior que o artista que tem apenas cinco anos). Hoje houve uma audição a solo de dezanove alunos no auditório do ISEP. Cada um tocou uma peça, do mais elementar ao mais complexo, como um concerto de Vivaldi, tocado com virtuosidade por uma menina ainda. Os meus netos tocaram " O Balão do João" ( de autor desconhecido?!) e a "Gavotte"in D de Bach. A simplicidade com que decorreu o evento, finalizado com uma ceiazinha confeccionada pelos pais das crianças, foi a nota principal. As crianças que, no palco apresentam uma postura impecável, vestidos de igual, rapazes e meninas, respectivamente, cá fora, revelam-se como são na realidade, brincalhões, comilões ou hiperactivos. Tudo com ordem e bom ambiente, sem gritos, nem choros mas com imensa naturalidade, sem sofisticações. Como Avó, estou muito orgulhosa dos meus netos e seus pais, pois isto representa um enorme sacrifício, disponibilidade, empenho e entusiasmo.
Vai aqui um video do Concerto da Casa da Música em Maio deste ano: