sábado, 12 de novembro de 2011

Sabado sem história

Um sábado como tantos outros que já tive na minha vida...agradável, mesmo sem muito sol, nem futebol:))

De manhã estive a experimentar uma nova bicicleta estática
que comprei anteontem em Matosinhos a conselho dum amigo- é propria para pessoas que sofrem de artroses, pois não exerce pressão nas articulações, só nos músculos. A pessoa está sentada como num fauteil e as pernas é que se movem quase à altura da cintura. O contador regista o tempo, os kms, a velocidade e as calorias gastas.
Pu-la em frente à janela do quarto da minha filha, que tem uma vista privilegiada para os jardins da Casa das Artes, só se vêem árvores e céu, cortado, de vez em quando, por uma gaivota. Tb comprei um aparelho de step,que permite exercício das pernas para cima e para baixo suavemente. No inverno custa-me ir ao ginásio, de modo que vou cancelar a minha assinatura e fazer exercício todos os dias em casa. Não quero estragar o meu visual que está bem melhor do que no ano passado por esta altura. Tenho de me manter jovem (...) para os meus netos queridos. Ontem o mais velho que veio aqui ver a selecção exclamou, quando me viu: Oh Vóvó, já não te via há tanto tempo!! ( desde Domingo, dia dos seus anos :)

Almocei com o meu filho num restaurante novo chamado Altamira que fica no cruzamento da Rua da Venezuela e Bessa Leite. É barato e tem uma secção de venda de pão, frutas, legumes, bolos, mercearia e chocolates... excelente porque é mais perto do que o pingo doce e perde-se menos tempo a ir lá.

Tarde com electricista em casa. Um dos focos da sala estava estragado e a luz da cozinha era muito fraca. Mudei-a e ficou bem mais quente. Não gosto de ter coisas por arranjar, mas às vezes fico um ano assim à espera..:)

Pintei um quadro, entrementes, enquanto meu filho dormia uma sesta reparadora na cama da irmã...é bom ter filhos em casa:)). Acho que vou modificá-lo,porque não gosto muito dele.

Oiço uma sinfonia de Mahler no Mezzo, belo fim de tarde...as coisas simples dão-me imenso prazer, cda vez estou mais avessa a festas e barulho.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

As criadas

Não, não é a peça de Jean Genêt, nem se trata de nenhum filme português passado em Moçambique, mas poderia muito bem retratar os nossos anos 50-60 em Portugal, ressalvando pequenas diferenças.
Espero não chocar ninguém com este post, mas escrevo-o apenas e tão somente pelo que vivi e senti ao ver este filme, considerado pelos críticos como digno de 1 estrela e pelo publico de 4. Eu ficaria pelas 3, quanto ao tema, mas daria 5 pelas interpretações.

O tema é já bastante conhecido, tratei-o inúmeras vezes nas aulas, usando filme como Malcolm X, Glory, Away from Heaven, etc.
Em geral o racismo ou descriminação nos filmes era mais focado nos meios masculinos do que nas casas, onde as mulheres exerciam o poder, sobretudo a seguir à 2ª GG. As mulheres tinham filhos em barda - foi o baby boom ( tb eu sou fruto desse boom!!), viviam em casa, não trabalhavam fora, pois os homens ocupavam os empregos locais.
Eram muito fúteis, tinham sido educadas com todos os privilégios e amimadas, sobretudo, pelas criadas negras, que funcionavam como mães, confidentes, amigas e até enfermeiras. Até ao dia em que as meninas se casavam e se tornavam patroas.

Ainda me lembro de termos "criadas" em casa, dado que o meu Pai ganhava bem, éramos oito filhos e a casa enorme. A criada de meninos, de quem ficámos amigas até ela casar e, mesmo muitos anos depois disso, entrou para nossa casa em 1949, teria eu tres anos e só saiu quando eu tinha uns 10. Foi uma pessoa insubstituível na nossa vida, para lá de muitas outras raparigas novinhas que passaram pela nossa casa. Era com elas que nós nos abríamos quando tinhamos querelas e o seu sorriso ficará para sempre na minha memória. A minha mãe geria a casa e ajudava muito meu Pai em tudo, mas é claro que não sobrava muito tempo para estar connosco pessoalmente. Nunca a achei fútil, era uma pessoa intelectualmente superior e que nos transmitia tranquilidade e Paz. Mas não era pessoa para falar de coisas muito íntimas, penso que por pudor ou timidez...
Neste filme as criadas são negras, estamos no estado do Mississipi, baluarte da colonizaçao, ainda com resquícios de escravatura que, entretanto tinha sido abolida, mas acabava por existir de facto, dada a dependência e a ausência de direitos civis dos negros em geral.
As criadas negras eram, por vezes, maltratadas mentalmente, humilhadas constantemente, exploradas e responsabilizadas pelos mais ínfimos actos, que hoje seriam mais que justificados. As meninas que um dia se tinham abraçado a elas a chorar tornavam-se donas e senhoras fúteis e déspotas depois de casarem, com o destino das serviçais nas mãos.

O tema do filme é feminino, mal se vêem homens este filme, mas pode ser interessante
também para eles. É claro que tem clichés e vícios americanos, mas retrata um período importante e as personagens são credíveis e comoventes. Aquela sociedade existiu....basta ler e ver o "Gone with the Wind",
um dos livros e filmes mais espantosos que já li na vida.

Hoje em dia, já ninguém poderia tratar empregadas deste modo ( a não ser nas telenovelas rascas da TVI ou da Globo). Um longo percurso permitiu a emancipação das mulheres e a liberdade dos negros. Mas, ainda há muitas arestas a limar, sobretudo nestes tempos conturbados em que arranjar emprego , mesmo mal remunerado, é quase uma dádiva de Deus.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ver o Porto a definhar

Não gosto de me lamuriar ou de fazer deste blogue um rol de queixas, mas ontem foi demais. Resolvi ir à Baixa - nós chamamos Baixa na realidade a uma área que fica bastante alta na cidade. A Rua de Santa Catarina, a Praça da Batalha, as ruas de Passos Manuel e 31 de Janeiro ( que em tempos conhecia do Monopólio, apenas:) são ruas de sobe e desce, como o é quase toda a zona histórica do Porto. Em tempos estas rua regurgitavam de gente, ostentavam lojas caras e com pergaminhos, conhecidas de todas as senhoras elegantes, que não adquiriam as suas roupas num qualquer chinês ( não existiam ainda), nem sequer em armazéns no estrangeiro. Ainda me lembro de a minha sogra só comprar sapatos na Gentil e de o meu ex- ter os seus fatos manufacturados na Piloto. Nenhuma das lojas sobreviveu à fúria dos shoppings, que assolou os arredores do Porto nos anos 90.
Ontem constatei a morte de mais de dez lojas daquelas que eu frequentava, a Casa Forte, onde comprei muitos artigos para os meus filhos, a Tamegão, onde se encontravam artigos para a casa de todo o género, as mercearias finas junto à Casa Chinesa, a única loja que vendia chás de todo o género avulsos e artigos asiáticos extremamente difíceis de encontrar na cidade.
Tapumes e tapumes, carregados de posters a anunciar eventos artísticos, grafittis de mau gosto, lixo, jornais e desperdícios...encimados por árvores lindíssimas nos tons outonais. Quase chorei, ao subir Sá da Bandeira, uma das ruas mais comerciais do Porto. Será que não haveria mesmo maneira de manter estas lojas tradicionais abertas? Elas eram símbolos do comércio nortenho, davam um colorido e
uma patine a estas ruas, as pessoas sentiam-se bem melhor percorrendo estes passeios do que metidos em shoppings onde todos os estabelecimentos são iguais, não têm história, nem caché.
Que histórias encontramos numa Zara, num Cortefiel, num Body Shop ou num Modelo-Continente? Que vendedores nos ficam na memória? São armazens de produtos, cheios de luz, música péssima, kms de corredores pejados de latas, frascos, frutas, roupas, livros e CDs, plantas, mobílias, cuja intenção é apenas vender, vender, vender....não criar laços entre vendedores e clientes, uma semana trabalham uns,noutras trabalham outros, não se fixam caras e muito menos corações.
Não sou sentimentalista, mas sou sentimental. Tenho saudades das lojas da Baixa de Lisboa, onde ia com a minha Mãe, nos anos 60. E agora já tenho saudades do Bolhão ou da Bruxelas , ou... das papelarias...
Outono tristonho...uma cidade que adormeceu, como no conto da Bela Adormecida. O problema é que já
não há príncipes Encantados e a esperança destes locais já morreu. Não há reparação possível.

Ver o Porto a morrer