sábado, 11 de agosto de 2012

Agosto -desgosto


 Que tristeza é esta cidade neste mês de estio.

Parece que metade da população anda dormente - os ingleses usam a palavra numb - entorpecidos e sem vontade de dar o litro nem por nada. Estão-se nas tintas.

Chama-se um táxi e ao fim de 20m, depois de dois telefonemas para a central lá aparece o táxi com um motorista meio avelhantado - quase nem chegava ao volante - e com poucas maneiras, resmungando que o restaurante ficava na Av.da Boavista e não na R. Antonio Cardoso para onde o tínhamos chamado.
Como assim, se nós estávamos em frente ao dito cujo e não há mais nenhum com o mesmo nome?

Resmungou que ia ter de pagar 4 euros do bolso dele...e que culpa temos nós de não saberem a quantas andam?

Não adianta reclamar...é assim em Agosto, espera-se ao sol, que nem está demasiado forte... e ainda se pede desculpa ao motorista por ter de

usar o táxi:)



Na Loja onde fomos comprar um sofá-cama e mais meia dúzia de coisas para a casa do meu filho, as meninas solícitas dizem : Deixe ficar, que nós levamos à caixa e depois paga tudo junto. Encantados.
Chegamos à caixa e a menina diz com ar enfastiado: Ninguém trouxe aqui nada!


Olhamos bem em volta..nada de tapete, nada de candeeiro, nada de máquina de sumos. Só temos a lâmpada que trouxémos na mão.
Desapareceu tudo e já nem nos lembramos do que era ao todo:).
Por fim, lá conseguimos reunir tudo e assegurar-nos de que têm a morada certa e de que vão dois homens na 2ª feira para transportar o sofá-cama para o 8º andar. Só então terei a certeza de que as coisas chegam ao destino.


Será que estou com pouca paciência e ansiosa por sair daqui? Deve ser.

Estou saudosa dos meus netos e com vontade de me atirar ao mar.

Lá é que se está bem!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

As papoilas

São flores do campo, simples , leves, à menor brisa as suas pétalas dum vermelho vivo agitam-se e dobram-se quais meninas num atelier de ballet. O coração é negro e o pé muito verde e muito fino, embora forte, cravejado de penugem que não pica, só afaga.



Adoro papoilas desde a minha infância. Tínhamos-las aos montes em redor da nossa casa nos terrenos baldios, que ninguém esperava se tornassem jardins um dia.
Saltávamos o muro baixo da nossa casa e estávamos no oeste.

Eram pedregulhos, espigas, cardos, urtigas, mil e uma flores silvestres, sapos, lagartixas, bichos de conta, joaninhas....essas agarrávamo-las e metíamos em caixinhas de fósforos.

Joaninhas e papoilas, todas elas vermelhas e negras, graciosas e perenes na nossa infância despreocupada. O cheiro ficáva-nos nas mãos durante horas.

Um dia aprendemos a fazer meninas com as papoilas, dobrávamos as saias para baixo e com o caule apertávamos a cintura, deixando o corpete verde do lado de cima.
Imaginávamos que seriam duma escola, em que o uniforme era todo vermelho - um pouco como o nosso do QES - sempre brincámos muito às escolinhas, fossem elas de papel, de cartão ou de papoilas! Ser professora já me estava na massa do sangue.

Entretanto um amigo meu enviou-me estas fotos de papoilas, malmequeres e joaninhas....agradeço-lhe do fundo do coração pois por alguns minutos voltei a sentir o cheiro a lavado do campo em flor.

Ontem e hoje fiz mais um quadrinho em homenagem às papoilas....um campo cheio de elas....a perder de vista...quem me dera estar ali...naquele momento da minha infância feliz.




E aqui fica uma canção a propósito:




Ai noite de Lua
Meu lume de arder
O finas areias
O clara manha
O rubras papoilas
Da cor da roma
O rosto da terra
E abismos do mar
Ouvide o seu canto
De longe a arfar
Abriram-se as velas
Mal rompe a manha
Na luz e nas trevas
Lá vai a louça
Da morte zombando
Na aurora lunar
Num jardim suspenso
Do seu folgar





Zeca Afonso

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A magia continua


As experiências com o Picasa são infindáveis.

Por enquanto, estou-me a limitar ao mais elementar, mas adoro o resultado e creio que é assim que muitos fotógrafos conseguem apresentar algumas das suas produções como se fossem pinturas.


Hoje restringi-me à Afurada e à Foz, mas as fotos que aqui vêem são muito diferentes do original e produzem mais impacto.








quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Abstracto em cores pastel


De vez em quando gosto de experimentar algo que desconheço. E hoje foi o que fiz. Dividi a tela em partes e resolvi experimentar cores pastel bastante diluídas em cada uma delas, obtendo um resultado que me agradou pela imprecisão e tonalidades pálidas.

É uma espécie de sonho...de imaterialidade...ausência de violência e de sentir....imprecisão...poema....




Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes


Um toque de magia



Hoje em dia podemos transformar quase tudo o que é fotografia com  softwares milagrosos que nem custam dinheiro, são-nos oferecidos pelo google, pelo I'photo ou Photofilter e tornam-se apelativos pelas múltiplas facetas que nos oferecem.

Podemos estar aqui horas e horas a transformar as nossas fotos, tornando-as pinturas, salientando as cores, modificando as formas, apagando os fundos, retocando as manchas, enfim manipulando todos estes cambiantes de modo a obter pequenissimas obras de arte, originais e diferentes.



Há dias que "ando" nisto e estou contente com os resultados. Como detesto o que é "eterno", uma fotografia que não é maleável, uma obra prima em que nunca mais se toca, para não estragar...gravo o original e parto para a experiência.

Uso o Picasa que só por si já oferece multiplas hipóteses. Eis alguns resultados:















terça-feira, 7 de agosto de 2012

Os sopros


Há quem valorize muito as cordas - estou a falar de instrumentos de música, logicamente - e que não dê grande valor aos instrumentos que se escondem lá atrás, por vezes tapados pelo maestro e pelos outros músicos. Sem eles, a música não teria o mesmo encanto, a mesma magia...

Aprendi a gostar dos sopros com o meu filho e nora que tiraram o curso de flauta transversal no conservatório do Porto até ao fim, a par dos seus cursos de engenharia. O meu filho sempre tocou piano simultaneamente, mas dedicou-se mais à flauta em dada altura, pois podia transportá-la para qualquer lado e tocar sempre que lhe apetecesse com amigos ou colegas do conservatório.


Quando pego numa flauta não consigo produzir nenhum som, só sai ar, de modo que acho espantoso como é que se consegue só com a respiração fazer vibrar aquele tubo de prata ou de ouro, manipulando apenas com os dedos a entrada de mais ou menos ar. Parece um autêntico milagre. Inacessível para muitos.

Em tempos fui a um concerto no Rivoli em que o ensemble barroco consistia apenas de violinos e violoncelos. Confesso que foi uma desilusão, o som naquela sala perdia-se, faltava qualquer coisa, o canto dos sopros, a melodia, a voz.

Desde então aprendi a gostar mais e mais dos oboés, das trompas, dos clarinetes, dos piccolos e até das trompetes. Peças só com cordas são monocórdicas.....sobretudo sem piano. O piano sozinho é uma orquestra inteira.

Hoje resolvi homenagear aqui a flauta, que tantos momentos de prazer me tem dado, sobretudo quando os meus filhos tocam em conjunto, nas minhas exposições, em pequenos concertos ou em casa. Até no dia do seu casamento o fizeram para grande surpresa dos convidados.

Fica aqui uma das peças mais bonitas que eles tocam...e me dedicam muitas vezes: O Canto de Orfeu de Gluck.







domingo, 5 de agosto de 2012

Quem me dera ser gaivota




Foi sempre o meu sonho....voar, nadar e andar bem em terra firme....as gaivotas have it all . 

O dia duma gaivota deve ser espectacular , ver o mundo de cima cruzar o céu como um avião, poisar em qualquer lado, sem receio de cair, descansar na crista da onda e mergulhar para apanhar algum peixito, voltar para terra e andar pela areia com o seu ar altaneiro....é a realização duma vida....ou não?









Ontem fotografei gaivotas na Afurada...hoje na Foz. Um amigo meu tem um album  no Facebook só de gaivotas; é lindo, já contribuí com várias.

Hoje estava um dia maravilhoso, daqueles , nem demasiado quentes , nem frios, uma temperatura ideal com o sol a esconder-se de vez em quando para não ficarmos em brasa.



Estivémos lá umas horas e desta vez resolvi passear na praia, chegando a molhar as sapatilhas numa onda que se agigantou...adoro mexer nos sargaços e nas pedrinhas luzidias, tão polidas e variadas; .estavam algumas pessoas, mas não muitas.


Gosto imenso destas praias cheias de rochas, onde nos podemos sentar em qualquer lugar...não é como as praias da linha em Lisboa, que ficam enxameadas de gente e só têm areia.

Aqui anda-se à vontade, os turistas deliram com este sol e mar a dois passos do centro da cidade, andavam vários no autocarro que apanhámos para lá.

Ali do café desfruto duma vista imensa e com a minha nova máquina ainda consigo ver mais além. O zoom é fabuloso, valeu bem a pena.












Ficam aqui algumas fotos mais originais que tirei.

E ofereço-vos um dos mais belos tributos às gaivotas que conheço : Fernão Capelo Gaivota, na voz inegualável de Neil Diamond