sábado, 8 de dezembro de 2012

Saudades da Primavera

Pintei-o esta semana,

A foto não ficou muito boa, mas os quadro lembra-me os livros ingleses que lia em criança no meu colégio....


sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Ainda o outono

Custa a acreditar, mas cada vez que volto ao Botânico, ele me parece mais belo, mais mágico e fotogénico.

Hoje estava nervosa, tenho trabalhado demais e ansiava por uma paz que não encontrava em casa, dado que passo os dias em frente ao laptop e quando não trabalho, blogo ou facebooko ( verbos meus).

A hora era excelente, 4 da tarde, há sol bastante, mas não fere, nem agride as lentes, os contrastes são imensos e os efeitos extraordinários. As fotos que tirei não foram sequer modificadas, ficaram assim e apenas as emoldurei. É uma colecção imensa, a lembrar que o Outono ainda não acabou e que perdurará mais umas semanas. As folhas que atapetam o chão por todo o lado aí ficarão e transformar-se-ao em humus, e seiva de plantas ou árvores. É um encanto pensar nesta renovação da natureza e não consigo deixar de pensar que chorosos e medricas, temos benesses metereológicas que não merecemos. Mas prefiro sonhar e esquecer o país em que nos afundamos.






Gostava, um dia, de fazer um livro com as fotos que já tirei neste local encantatório.

Gostava, um dia, de mostrar estas fotos a Sophia e perguntar-lhe se reconheceria o seu jardim...ou a sua floresta.

Gostava de ouvir o Ruben A. falar da sua infância por entre estas áleas, caminhos e valados.

Gostava de ver o jardim como ele era dantes, sem o barulho da VCI a concorrer com os passarinhos que não desistem de cantar ao desafio.

Gostava de ver nenúfares até morrer como o Monet e de saber pintá-los como ele.

Gostava de fazer versos às fontes, às ervas que vão nascendo por entre o lodo do charco verde.









Gostava de trazer os meus netos aqui todos os fins de semana e saber que eles preferiam isto a quaisquer desenhos animados.

Gostava de dormir um dia ao relento e de ver a Lua por entre os ramos....

Gostava de viver o suficiente para nunca me cansar desta Beleza.





quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Anna Karenina

Fui ver.
Era a primeira sessão de estreia dum filme do qual esperava muito, dado que o realizador de Atonement e Pride and Prejudice, Joe Wright, não me é estranho, nem  o compositor Dario Marinelli um desconhecido.

Uma história de paixão sem ela. Performances que não entram no  nosso sistema, que não nos comovem, como comoveram noutros filmes. Não há aqui a Lara de Doutor Jivago, nem a Natasha de Guerra e Paz, nem sequer a infeliz Cecilia de Expiação.
Keira Knightley não respira nem transpira a Anna de Tolstoi. Não consegue ser dramática, nem infeliz.












Os cenários são originais, embora sem a grandiosidade , nem a vastidão das planícies russas, a música é envolvente,  há pessoas, olhares e vestuário sumptuoso, mas falta qualquer coisa - uma chama - que nos empolgue, que nos faça sofrer, alguma paixão ardente nos olhos dos amantes, lágrimas convincentes, ódios e conflito.





Fica aqui a crítica de Jorge Mourinha do Publico, com quem concordo plenamente desta vez.

 Um filme a ver, mas não a rever, na minha opinião.


Para esse efeito, Stoppard e Wright conceberam um dispositivo cenográfico ambientado num teatro do século XIX, cenário único e polivalente que se transforma de repartição em restaurante, de rua moscovita em palácio rural. A metáfora não é original - a sociedade como teatro onde cada um tem um papel a cumprir, com os escassos exteriores representando a liberdade que os homens (legisladores, maridos, pais) ainda vão conseguindo impor - mas é eficazmente traduzida em cinema, sobretudo através da fluidez coreográfica com que tudo decorre. Já sabíamos do gosto de Wright por panorâmicas vistosas, a natureza de estúdio do projecto permite-lhe levar esse gosto a um limite, com a câmara a ser tão virtuosa como as danças estilizadas que pontuam o filme. Se, no entanto, o dispositivo não trai o espírito nem a multi-dimensionalidade de Tolstoi, corre o risco de tombar no decorativismo e introduz um distanciamento que exige uma entrega total do actor para injectar a humanidade que a cenografia por si só não consegue. E é aí que Anna Karenina se perde - não porque os actores sejam maus, mas porque Keira Knightley e Aaron Taylor-Johnson são erros de casting, sem conseguir emprestar a Anna e Vronsky a experiência nem a gravidade que os papéis exigem, e o Karenin melancólico de Jude Law ou o Levin na mouche de Domhnall Gleeson não chegam para compensar. É, então, pena que seja ao deslumbrante decorativismo da produção visual que Anna Karenina se resuma, sem que as portas intrigantes que abre sejam inteiramente exploradas.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Multitasking

Andei às voltas com um texto sobre multitasking - a capacidade do homem ( e ainda mais da mulher) de fazerem múltiplas coisas ao mesmo tempo.

O texto é muito interessante, escrito por cientistas, sugerindo que a mania de que muitos se gabam de conseguir fazer multiplas tarefas simultaneamente é completamente falsa.

O que na realidade se passa é  que mudamos rapidamente de tarefa em tarefa, não nos quedando em nenhuma com suficiente concentração e, exigindo do cérebro uma actividade anormal, que se vai traduzir em cansaço, exaustão e mesmo stress.

Neste momento, diria que estou multitaskando (!!).

Preparei marmelos, cortando-os aos quartos e tenho-os ao lume para uma nova geleia, estou a rever um bloco do workbook do nosso projecto, corrigi há minutos um teste que me veio do revisor de inglês, tirei a loiça da máquina que estava cheia, fiz um nespresso e torrei um pão, comi-o com fiambre,  li as mensagens do blogue às quais respondi e apaguei uns quantos emails que só me enchiam a box.. Em meia hora ou menos!

Escrevo-vos neste momento a olhar para a chuva que vai cair.... e a ouvir o alarme enervante duma viatura aqui em frente.

Para isto tudo o meu cérebro teve de mudar de chip várias vezes, pois cada uma destas tarefas, segundo os cientistas, pode exigir zonas diferentes do cérebro. Não me sinto exausta, a minha adrenalina mantém-me à tona, mas se continuar a trabalhar a este ritmo, daqui a nada vêm os meus netos e fico zonza só de os ouvir!!

Há que séculos que não oiço música a sério - excepto num concerto na FEUP em que os violinistas da Pauta- entre os quais o meu neto mais velho - tocaram maravilhosamente e houve mais uns tantos números de dança.

Custa-me estar tanto tempo sem ir à CdM, mas os programas não me têm sido gratos. Estou blasée....ou formatada para o trabalho, o que é terrível na minha idade.






sábado, 1 de dezembro de 2012

No princípio eram as árvores

Posso dizer que as minhas pinturas nasceram com as árvores, foram elas que mais me seduziram e inspiraram, fiz muitos quadros com esse tema e alguns deles ainda estão aí, outros ofereci-os.

Uns foram feitos a guache como estes:




 Depois enamorei-me do pastel de óleo e fiz estas:

Por fim o acrílico com que fiz muitas mais. As árvores são e continuarão a ser temas da minha pintura. Têm qualquer coisa que me atrai.






quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Em casa da Avó

Passar de autora dum manual escolar ao estatuto de Avó em 20 minutos tem que se lhe diga.

Ainda os chips estão sincronizados para a pedagogia, para as fórmulas e os skills da língua inglesa e já temos de os formatar para se tornarem meigos, pacientes e netos-friendly.... e, sobretudo, aptos a ouvir as coisas mais pândegas e inesperadas do mundo.

Vir a casa da Avó já se tornou um hábito para eles à 4ª feira , mas gosto de lhes oferecer algo diferente. Hoje fiz panquecas. Estão ali à espera que eles venham, muito douradinhas e mesmo apetitosas. Vou tirar umas fotos! Para acreditarem que não estou a inventar!

Ui, já aqui estão. Com as mochilas, os casacos, as sapatilhas....a minha entrada parece o Banco Alimentar de roupas e objectos escolares!

Lancham bem, mas um deles prefere uma laranja à panqueca e o outro quer antes um pão seco, que lhe sabe a pouco. Só o mais velho come três panquecas com compota e mais comeria, se eu deixasse.



E agora depois de lancharem, há que entrar em "modo de persuasão" para que a TV desapareça e só surja à luz do dia ( ou da noite!) daqui a meia hora ... se não os pais queixam-se de a Avó usar a  TV como babysitter...não, a Avó tem de ter paciência por inerência do cargo.

 Joga-se ao scrabble com o neto do meio ( sete anos), que quer escrever palavras inventadas por ele - com ç e o diabo a quatro -  e fica piurso quando digo que essas palavras não existem. Amua e diz-me baixinho: Estás a ficar velha! Agora é a minha vez de ficar piursa!! 

 Este meu neto tem o condão de dizer o que não deve e o meu drama é que herdou  essa qualidade (?) para além dos traços físicos, desta Avó.
Muita gaffe cometi quando era miúda e muito ralhete apanhei por isso. Digo-lhe que não me importo nada de envelhecer e que os meninos não devem dizer essas coisas às pessoas mais velhas porque elas ficam tristes. Será que entendeu? Duvido!

Umas palavras depois, inventadas ou não, arruma-se o Scrabble e finalmente podem ver TV. Calados como ratos, só se ouve o barulho irritante dos bonecos animados, qual deles mais palerma e mais deseducativo. O que vale é que dura pouco...

O mais novo que tem três anos quer vir para o meu colo e eu conto-lhe a história do Capuchinho Vermelho. Fica feliz e ouve-me com atenção. Quando acaba, pergunto-lhe: Queres que te conte a do Lobo e dos Sete cabritinhos? Responde que não: Não, vóvó, essa é quase igual à do Capuchinho!

E não é que é mesmo?

A verdade está na boca das crianças;-).

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Despedida do outono


Pintei este quadro há dois anos, juntamente com outros que estiveram na exposição do Vivacidade em 2011.

É talvez um pouco sombrio e menos acessível do que outros que tenho sobre o outono. Já pintei esta estação do ano em não sei quantos quadros, mais de dez certamente. Este está aqui na minha sala num local pouco iluminado e quase não se dá por ele. Mas gosto de o ver a uma certa distância, sobretudo gosto do relevo e das cores.

Resolvi homenageá-lo hoje já que estamos no fim do outono e as árvores já perderam as suas cores mais brilhantes.

Venha o inverno, mas com calma. Ainda não estamos preparados para o frio intenso, as noites enormes, os enfeites de Natal...eu pelo menos, não estou!

Despedida do Outono

Pintei este quadro há dois anos, juntamente com outros que estiveram na exposição do Vivacidade em 2011. 

É talvez um pouco sombrio e menos acessível do que outros que tenho sobre o outono. Já pintei esta estação do ano em não se quantos quadros, mais de dez certamente. Este está aqui na minha sala num local pouco iluminado e quase não se dá por ele. Mas gosto de o ver a uma certa distância, sobretudo gosto do relevo e das cores.

Resolvi homenageá-lo hoje já que estamos no fim do outono e as árvores já perderam as suas cores mais brilhantes. Venha o inverno, mas com calma. Ainda não estamos preparados para o frio intenso, as noites enormes, os enfeites de Natal...eu pelo menos, não estou!

domingo, 25 de novembro de 2012

3 da manhã com Jackson Pollock

Há muito que queria ver este filme e descobri-o hoje no videoclube ZON por 99 centimos...

Comecei a ve-lo pela 1 da manhã, o filme tem duas horas que vi non-stop.

É a vida dramática dum dos maiores pintores americanos, indiscutivelmente. Nasceu em 1912 e faleceu em 1956.

Expressionista, cubista, influenciado por Picasso e Miró, mas adquirindo um estilo muito próprio que se confunde com o emaranhado da sua personalidade semi-psicótica, com uma força e inspiração extraordinárias, que a sua grande Mulher Lee Krasner sustentou e abraçou.

Sem ela, ele não teria sido ninguém...ela amava-o incondicionalmente.
Este filme lembrou-me o filme Bright Star, a vida do poeta Keats.

Gosto desta pintura desalinhada, adorei ver no filme como ele a pintava, tela no chão pincel a pingar sobre o linho branco, traços até onde o braço chegava.

Não me canso de admirar os pintores que levam uma vida de miséria, mas continuam a persistir na Arte contra tudo e contra todos. Sozinhos... ou com alguém que acredita perdidamente no seu talento.

Fez-me bem ver o filme, ainda que bastante trágico e com um fim verídico mas assustador. O álcool leva às maiores loucuras, ainda mais do que as drogas e outros desvios.





Vi quadros dele no MOMA de NY. Quem me dera lá voltar. É um dos locais mais apetecíveis da Big Apple, a par dos teatros e pontes!

sábado, 24 de novembro de 2012

6 da manhã


Acordei com o vento há uma hora . Tinha-me deitado perto das 3, mas dá-me a sensação de ter dormido a noite inteira. Estou sem sono...

O vento continua a uivar e as árvores lindas que desfruto da janela continuam a resistir para não perderem todo  o seu manto cor de fogo numa noite Agitam-se à luz do candeeiro da rua , há folhas a voar, mas mesmo assim, ainda não se vêem os troncos negros e descarnados do longo inverno que está para vir. Não chove, mas lá fora está escuro de breu.

Ouvem-se alguns carros a descer o Campo Alegre vertiginosamente, como é costume a esta hora do dia.

Estou inquieta,penso na vida, no envelhecimento ( o filme ontem deu-me que pensar) e no que vai acontecer nos próximos vinte anos que me restam...

O meu coordenador da PE, que foi meu estagiário e é muito meu amigo garantiu-me que as filhas com 6 e 2 anos ainda vão estudar por livros meus. Seria milagre ... e eu não pretendo ser nenhum Manoel de Oliveira:))


Para já penso neste meu projecto que está a andar veloz  e satisfatoriamente. Tenho as provas espalhadas pela mesa da sala....É bom estar activa, mesmo quando as agências de rating já nos consideram prontos para o lixo.

Como estas árvores, resistirei enquanto posso...

6 da manhã

Acordei com o vento há uma hora . Tinha-me deitado perto das 3, mas dá-me a sensação de ter dormido a noite inteira. Estou sem sono...

O vento continua a uivar e as árvores lindas que desfruto da janela a resistir para não perderem todo  o seu manto cor de fogo. Agitam-se à luz do candeeiro da rua , há folhas a voar, mas mesmo assim ainda não se vêem os troncos negros e descarnados do longo inverno que está para vir. Não chove, mas lá fora está escuro de breu.

Ouvem-se alguns carros a descer o Campo Alegre vertiginosamente, como é costume a esta hora do dia.

Estou inquieta,penso na vida, no envelhecimento ( o filme ontem deu-me que pensar) e no que vai acontecer nos próximos vinte anos que me restam...

O meu coordenador da PE, que foi meu estagiário e é muito meu amigo garantiu-me que as filhas com 6 e 2 anos ainda vão estudar por livros meus. Seria milagre e eu não pretendo ser nenhum Manoel de Oliveira:))

Para já penso neste meu projecto que está a andar veloz  e satisfatoriamente. Tenho as provas espalhadas pela mesa da sala....

É bom estar activo, mesmo quando já nos consideram prontos para o lixo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Is Clint done?

Será que Clint Eastwood já "deu o que tinha a dar"? Ou será que sou eu que, agora, ando em maré de reagir mal aos filmes americanos?

Havia uns três filmes que queria ver, mas a minha filha já os tinha visto todos excepto este que se estreou ontem.

Até ao fim esperei que o filme desse uma reviravolta para ser coerente com o título " As voltas que a vida dá", mas essa peripécia que eu esperava do grande realizador e actor que Clint é não chegou.

Ou então sou eu que ando avessa aos happy ends e só quero drama a sério.

Não vou alargar-me sobre a história para não tirar o suspense aos que vão ver o filme - só perdi dois ou três deste realizador excepcional - e sei que serão muitos os que esperam sempre o melhor dele, pois filmes como Hereafter ou Gran Torino ainda estão na nossa memória recente. Mas este filme comparado com as Pontes de Madison CountyMystic River ( para mim o melhor dele) ou Midnight in the Garden, deixa-nos um sabor a dejá vu, que nem o envelhecimento magnificamente interpretado pelo actor consegue apagar.

No fim, a minha filha disse que o filme a tinha posto bem disposta. Não se perdeu tudo.



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Demagogias

Cada vez ando mais irritada com algumas notícias e alarmismos sensacionalistas que leio nos jornais online e no FB quanto ao número estatístico de pessoas reformadas e inactivas que parecem ser parasitas da sociedade a eliminar.  Faz-me lembrar tempos que será melhor esquecer.

Sou reformada há quatro anos e ainda não parei de trabalhar. E quando falo em trabalhar, não é só trabalho remunerado, é outro tipo de trabalho sem o qual a sociedade não sobrevive. Não gosto de estar aqui a falar do que faço em prol da família ou do país, mas choca-me receber mails demagógicos e manipuladores sobre os idosos inúteis que abundam no país.

A geração dos 40-50 teve tudo, cursos ao seu gosto, entrada nas faculdades com médias de 10, liberdade total; sempre se apoiou nos pais para lhes pagarem as saidas para o estrangeiro, idas as discotecas, carros, etc...para lhes tomarem conta dos filhos e até os ajudarem nos trabalhos em casa.
É degradante ouvir chamar inactivos a pessoas que se dedicam de alma e coração à família e que sempre foram essenciais para a sobrevivência duma sociedade saudável.

Notícias como esta ( excerto) bradam aos céus!

No espaço de uma década, e comparando as estatísticas mais recentes com as do Censo de 2001, aumentou o número de portugueses a receber reformas (de 23,8% em 2001 para 27% em 2011), a receber o rendimento mínimo (0,5% para 1,1%), a receber subsídio de desemprego (2,2% para 3,3%) e a cargo de familiares (17,7% para 18% em 2011). 
Contas feitas, no ano de 2001, 44,2% dos portugueses não geravam riqueza e uma década depois o número já representa quase metade da população (49,4%). Já o número de portugueses que trabalham baixou de 52,6% para 49,9%.

Jornal I 

Já agora mandem todos os inactivos com as suas reformas para uma ilha paradisíaca e confirmem que eles não fazem cá falta nenhuma. Não me importo de ser a primeira a sair.

Evolução


Quando eu comecei namoro, em 1965, as meninas tinham de fazer um enxoval, ter um conjunto de roupas que se consideravam indispensáveis para qualquer casal. Esse enxoval era feito aos poucos, por nós com ajuda da minha Mãe, que cheia de paciência nos ensinava a fazer as bainhas dos lençois, os ajours, os bordados, as rendinhas.
O meu pai abriu-nos uma conta no banco que recebíamos aos 21 anos e que serviria para o nosso enxoval ou casamento ou mesmo para outros desígnios como ir viajar. Gastei algum, indo na minha viagem de curso, estando na Alemanha a tomar conta de crianças e na Áustria a aprender alemão à minha custa. Isso responsabilizou-me bastante, fez-me crescer e aprender a sobreviver sozinha.
Habituada a viver numa família grande, sentia muito a falta dos meus irmãos e mãe, chorava por vezes à noite, na Alemanha onde nem telefone tinha. Escrevia muitas cartas ao meu namorado, mas aqueles dias nunca mais passavam. Não tinha quase dinheiro nenhum, mas passava o tempo a namorar as lojas da Grafen Strasse em Viena...

Penso que hoje os jovens já não sentem tanta necessidade de sair de casa, há muitos que ainda vivem com os pais - não foi o caso dos meus filhos - instalam-se e as mães aceitam essa situação, convencidas de que estão a zelar pelos interesses deles.

Sinto a falta dos meus filhos rapazes - chego a estar semanas sem falar com o mais novo que mora a 15m da minha casa - e pouco vejo o mais velho pois tem uma vida diabólica, mas compreendo que não há obrigações, nem deveres, tudo deve vir do afecto que eles sentem - ou não- por mim. Detestaria que se sentissem na obrigação de me vir visitar ao fim do dia, como o meu ex- fazia com a minha sogra. A independencia é a coisa melhor que há. Enquanto for possível....

Estou a ver um programa Toda a Verdade em que se fala de autoritarismo e a falta dele. É curioso ver como os pais se sentem culpados por não terem educado os filhos com mais obediência e obrigações. Os proprios filhos, franceses,  dizem que os pais culpam sempre os profs quando eles têm má nota, sem querer ver se os filhos estudaram ou não para terem uma boa nota.
Fala-se agora das palmadas físicas, ninguém concorda com elas....eu também não. Preferia dar dois berros a bater nos meus filhos. E não suporto ver mães a bater nos filhos porque nunca a minha mãe me bateu ou foi fisicamente agressiva. Acho insuportável.

Tenho andado a trabalhar muito nos meus livros. Escrevo menos, mas agora vieram-me estas ideias à cabeça...e apeteceu-me falar convosco.

domingo, 18 de novembro de 2012

Serralves - A walk in the park

Os ingleses costumam usar esta expressão para designar uma tarefa muito fácil, que se leva a cabo num abrir e fechar de olhos....

Não é propriamente o que diria dum passeio em Serralves, onde passei umas duas horas nesta linda tarde de sol.

Serralves deixa-me sempre uma sensação ambígua. Acho que os homens não merecem aquela natureza, aquele espaço, aquele museu a céu aberto,  não o valorizam como deveriam.

O jardim é um dos mais belos que jamais vi, embora em Inglaterra tenha visto muitos que pertenciam a mansões senhoriais muito belas. Este jardim tem uma mistura de art nouveau e de parque selvagem que encanta qualquer um.
Desce-se umas escadinhas íngremes e está-se noutro mundo, num underground que poderia figurar no Fantasma da Ópera ( apesar do lago ser a céu aberto) ou numa ópera de Wagner.

Em Sintra, onde passava férias, havia cantinhos assim, húmidos e pedregosos, onde não se via vivalma. Hoje, domingo, não havia ninguém naquela zona do jardim. E não fui mais longe pois o meu joelho já estava a dar sinais de impaciência.

As árvores pareciam ter-se vestido de gala para nos receber. Uma luz penetrante, o céu de um azul gritante, um sol maravilhoso e o chão completamente coberto de folhas de todas as cores e feitios, uma verdadeira cama que os nossos pés não apreciavam devidamente.
A luminosidade era tal que até custava tirar fotografias, mas a tentação era enorme. As folhas tremelejavam com a brisa e iam caindo suavemente, sem um gemido.  Árvores muito antigas, a perder de vista, quase beijando os aviões que iam passando a caminho do aeroporto. Quando e quem terá plantado aquelas árvores? Quantas crianças terão brincado por ali nos tempos em que os animais falavam? :)

Infelizmente há o outro lado de Serralves.
Serralves não merece o restaurante que tem: um buffet péssimo, comida mal amanhada, estilo rancho para grandes famílias, sem jeito nem charme. 16 euros que custam a dar...lembrei-me com saudade das cafeterias dos museus ingleses, onde se come sanduiches com requinte. Aqui a comida e a apresentação são péssimas. Só gostei do pudim de Abade de Priscos que estava uma delícia.


 E depois há as lojas, o bazar de Natal com coisas daquelas que se oferecem quando não há mais ideias e as pessoas têm tudo: compotas caseiras a 6 euros cada frasco, objectos que são absolutamente desnecessários, mas que é "bem" oferecer, panos da loiça com design e signés, cestinhos de mel, caros como picadas de abelha!!
Para que quero eu saber quem é que desenhou o pano da loiça....se raras vezes o uso e se o uso é para sujar? Resultado: tenho uma gaveta com panos da loiça que não ouso pôr a uso e os que tenho são comprados no chinês ou já duram desde o meu enxoval:))).
E depois, há agora a moda dos azeites e vinagres, há que ter azeites de todas as espécies e feitios, rolhas e tampinhas, com cheiros e ervas, muito decorativos, mas que fazem o mesmo efeito que as garrafas mal jeitosas que compro no Pingo Doce. A minha cozinha é enorme e mesmo assim, não teria espaço para expôr tanta preciosidade. Sim, porque estas coisas têm de se expôr antes de se usar!!!






Mas Serralves não é só isto...devia ser arte e cultura. Exposições magníficas que nos fizessem ver e rever. Nada disso. Ao todo só lá vi umas três exposições que me encheram os olhos...o resto esqueci.Uma tristeza....será isto vanguardismo? Serei eu que sou parôla e não aprecio as vestes do Rei?

A melhor exposição é a que renasce todos os anos, a visão mágica e magnífica da natureza em todo o seu esplendor. Abençoado parque...


sábado, 17 de novembro de 2012

British jewels

Os ingleses sabem viver.

Pelo menos exportam toda uma cultura de lifestyle, que já não será o deles actualmente, mas que nos transmite uma imagem de conforto, bem estar e tradição preservada.

Não podemos esquecer que a nossa gastronomia é riquíssima e a deles o que se sabe.
No entanto, há preciosidades e receitas que todos nós apreciamos, pois têm aquele sabor inglês único.

Dantes quando ia a Inglaterra não resistia às tartes várias, aos shortbreads, aos pastries ou bolos de fatia, quase todos fabricados com manteiga. Tudo isso é calórico e aumenta o colesterol, de modo que ultimamente já me coibia de ceder à tentação. Mas a imagem do chá tradicional, que em nossa casa eram hábito de fim de semana, ficou-me na memória.

A minha filha foi hoje ao Bazar de Natal no Clube Inglês, aqui perto de nossa casa e trouxe de lá, para meu deleite, shortbread de gengibre e lemon curd.

Sei fazer ambas as coisas, mas  nunca ficam com este sabor....

Fiz um chazinho de cidreira, acompanhei-o com estas iguarias e pareceu-me que estava numa sala à inglesa, com a lareira acesa, biblioteca recheada de boa leitura e conforto espiritual. Só faltava uma das personagens de Dickens a fazer-me companhia, de preferência Miss Trotwood do David Copperfield:).

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

cores

Poderia pintar cem quadros que nunca me satisfariam...

As cores do Outono são demasiado voláteis, entram e saem da nossa visão sem as conseguirmos agarrar.

E o pincel queixa-se.



quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Embalada pelo piano

O meu filho encontrou em casa duma das minhas irmãs uma relíquia familiar, que colocou no Facebook e nos comoveu a todos, sobretudo aos que conheceram os meus avós, o casal mais original, mais carismático ( para mim) e mais carinhoso que jamais conhecerei.

Já aqui falei dos meus antepassados, sempre com orgulho; talvez a distância e a poeira do tempo me façam embelezar o quadro familiar, esfumando as neblinas que tenham porventura existido. Há muito que as saudades me impedem de ser racional. Vejo tudo cor de rosa.






Esta dedicatória que aqui vêem foi escrita, em 1927, pelo meu Avô numa partitura que  ofereceu à minha Avó, recordando os belos momentos em que a ouvira tocar "divinamente" aos 17 anos na saleta à meia-luz. Casaram dois anos depois.

O meu Avô tinha mais 17 anos que ela, mas ninguém reparava nisso, tal era a sua juventude de espírito, alegria de viver e encanto pessoal. Ele era o que se chama uma "força da Natureza" e talvez a pessoa que mais me influenciou em toda a minha vida, embora tenha falecido tinha eu 17 anos. Amava-nos a todos, conhecía-nos melhor do que nós próprios, escreveu os nossos perfis com uma clarividência espantosa, Ainda hoje me impressiono quando leio certa coisas que escreveu e vejo como éramos importantes para ele.

Não sei se este Arabesque é o de Debussy,  uma das peças que o meu filho toca no piano a meu pedido, pois a minha Mãe constumava tocá-lo depois de almoço, quando se sentava ao piano, há mais de 40 anos...um peça lindíssima, que me faz vir as lágrimas aos olhos.

Oiço Baremboim a tocar Liszt, os dedos sobre as teclas e penso na sorte que tive - e ainda tenho de nunca ter estado longe dum piano e de alguém que o tocasse.




terça-feira, 13 de novembro de 2012

O Outono a morrer no botanico

Hoje vi o Outono a morrer...apesar do sol radioso que iluminava o meu jardim.

Há árvores que ainda se julgam no Verão e aguardam não sei que milagre para não amarelecerem nem perderem as suas folhas, outras das quais já só se vêem os troncos esguios, filamentos negros no céu azul, rendas eternas, infinitas.

Este jardim é uma imagem de perenidade e de vulnerabilidade, simultaneamente. É a nossa imagem, afinal, perenes naquele momento em que, por milagre, resistimos a tudo e a todos, mas vulneráveis em tantos outros, em que nos faltam forças e quereríamos que tudo terminasse.
Cedros, ciprestes, arbustos como as camélias, buxos e mesmo os nenufares mantém-se bem vivos e verdes, como que a assegurar-nos de que a nossa vida pode manter a juventude até mais longe...   mas, depois, há os áceres, os castanheiros, os plátanos, a vinha virgem, a glicínea, as dálias, as rosas a morrer ou a despedir-se, atapetando os caminhos, as áleas, as fontes, as estátuas e as ruas, dizendo adeus até para o ano, ou adeus para sempre. 
Os áceres são as mais bonitas, em contraluz, dir-se ia que estamos na igreja diante de vitrais de todas as cores. Nenhuma fotografia consegue apanhar o irisado das folhas douradas e vermelhas, tremelicando ao vento ou reflectidas no lago, numa dansa maravilhosa mas macabra...

Não há dia, nem hora em que a Natureza seja igual, já tirei mais de 500 fotografias neste local e descubro sempre novos temas, novas nuances, matizes e diversidade infinita.

Andar meia hora aqui faz-me bem à alma. Quisera que as minhas cinzas um dia fossem deitadas junto à palmeira da minha Avó na Luz, mas agora que a palmeira morreu, julgo que preferia ficar neste lugar mágico, perto de gente, crianças e árvores que nunca morrem...

Hoje, dia 13, o meu filho mais novo celebra os seus 32 anos.

Foi um dos dias mais difíceis da minha vida...mas ele cá está para minha alegria e eterno agradecimento.

Aleluia! Viva a VIDA!