sábado, 10 de novembro de 2012

De novo a lareira...com os MUSE



Foi hoje que voltei a acender a lareira.

Mais por necessidade de calor psicológico do que por estar frio. Chove, mas o ar é cálido e não há vento.
Hoje não saí , a não ser para a varanda e à janela. Estava cinzento e húmido.

Estive parte da tarde a escrever o LP - Livro do professor - que acompanha o nosso projecto. È espantoso como depois de concebidos os manuais, ainda há tanto que fazer! Hoje em dia, os colegas têm a "papinha toda feita" e se quiserem, basta pegar no material e ir para a aula, não necessitam de fabricar, improvisar ou criar nada de novo.

É claro que isso é impossível para pessoas como eu, que na minha vida profissional, muitas vezes, ignorava os materiais ( mesmo os que tinham sido criados por mim ) e fazia a aula a partir do zero. Depois do nascimento da Internet, que nos oferecia um manancial de propostas actuais, interessantes e sobretudo, imprevisíveis, era uma tentação levar fotocópias para os alunos, gastando assim algum dinheiro do meu bolso numa aula especial.

O suspense, a expectativa são essenciais numa sala de aula. O aluno que sabe de antemão tudo o que o prof vai dizer ou mandar fazer é um aluno decapitado à partida. A vida não deve ser assim. O professor tem de criar um ambiente de tensão no início da aula, para depois haver feedback e resposta. Lembro-me de inumeras técnicas que usei para criar essa expectativa, desde a música até às transparências, que eram reveladas aos poucos, como se estivéssemos a espreitar pelo buraco da fechadura. ..

Pensava nisto tudo, sentada em frente da lareira, a ver as chamas sempre belas e a madeira a crepitar. O calor enchia-me de paz e de certezas. Também de saudades duma sala de aula...há muito tempo.

A música tirou-me a nostalgia. Enquanto houver música, não morrerei de depressão.

Ouvi os Muse, uma das bandas que mais me faz vibrar hoje em dia. São inúmeras as canções deles que me soam bem ao ouvido e o instrumental acompanhado da voz sussurrante de Matt Bellamy é um verdadeiro paliativo para a depressão. Costumava ouvir estas canções no clube, enquanto fazia bicicleta e passadeira, já há dois anos. Infelizmente o médico proibiu-me tudo isso. Não lhe perdoo.

Deixo-vos com uma canção que é uma mensagem também para nós jovens! Blackout.

O poema é o mais simples possível.  Não se deixem enganar. Aproveitem ao máximo pois a vida é curta demais. Penso o mesmo.


don´t kid yourself
and don´t fool yourself
this love´s too good to last
and i´m too old to dream
don´t grow up too fast
and don´t embrace the past
this life´s too good to last
and i´m too young to care
don´t kid yourself
and don´t fool yourself
this life could be the last
and we´re too young to see

MUSE - Absolution




quinta-feira, 8 de novembro de 2012

revisitar o passado


Hoje estou em maré de nostalgia.

Fui ao cinema com a minha filha ver um filme americano com os ingredientes todos para levantar a moral - com cenários espectaculares de mar e de ondas gigantes - chamam-lhes mavericks - a história dum surfista notável que morreu aos 22 anos depois de cavalgar ondas monumentais, sempre com a ambição de se superar.  A foto foi tirada quando Jay Moriarti venceu uma onda com 16 anos e se tornou um mito.
O filme é feel good q.b. com pessoas bonitas e um ambiente tipicamente para famílias.
Não me aborreci, sabia que ia ser assim, queria ver as ondas e o mar...como se estivesse a ver um documentário. É espantoso como o Homem consegue vencer as forças da natureza, até ao momento em que elas o conseguem tramar. E há sempre esse momento....se não se souber, ou quiser, parar. Fiquei nostálgica e perguntei-me se é lícito aventurar-nos assim tanto na vida.


Em casa oiço cantatas de Bach no Brava HD. A catedral barroca de Mainz é o sítio ideal para ouvir estas vozes a cantar em alemão.

Em vez de trabalhar no meu projecto como deveria, fui ao arquivo de fotos e encontrei uma série de pinturas de 2008-9. Há quanto tempo as não via...não as tenho em casa, dei-as todas. Só tenho as fotos que guardei.
 Umas são feitas em pastel de óleo, outra em guache, outra em acrílico. Rudimentares....mas minhas.














A doçura das crianças

Hoje os meus netos vieram cá a casa depois do colégio , como é habitual às 4ª feiras.

Já sabem o ritual. Chegam , tiram os casacos, sapatos e encostam as mochilas na entrada, depois seguem para a cozinha, onde se sentam à espera de qualquer mimo. Contentam-se com iogurte, bolachas ou pão com fiambre, mas já sabem que têm de comer tudo na cozinha para não fazer migalhuça na sala.
Pessoalmente, como muitas vezes na sala em frente à TV - privilégios de quem é adulto e livre de formalidades - mas eles devem habituar-se a algumas regras, tal como em casa.

Já sabem que, até certa hora, não há TV, por muito que lhes custe, devem entreter-se com jogos, desenho, pinturas ou outras actividades, agora que já não dá para ir para o pátio ou ao jardim botanico. Já se habituaram a essa regra e não há problemas.

O mais velho pegou no meu laptop, o do meio jogou scrabble com a minha filha, o mais pequenino quis fazer uma pintura com pincel. Dei-lhe uma tela  e ensinei-o a pintar com acrílico. ficou encantado com as cores e concentrou-se na Arte.

Eis a sua primeira obra em acrílico :)


A certa altura disse-me: "Vóvó, não saias daqui ao pé de mim, não vás trabalhar!"
Notei-lhe alguma ansiedade na voz. Sentei-me ao lado dele, fiz-lhe festas no cabelo e voltei aos meus tempos de mãe, em que passava horas com o meu filho mais velho em Chaves, procurando aquecê-lo e aquecer-me com ternura em dias de temperaturas negativas nos longos invernos que lá passámos em 1977-78.

Ás 6,15, começaram a ver TV. Não houve mais meninos... o Pokemon tomou conta deles.

Quando se foram, senti um vazio.

Também eu queria ter alguém a fazer-me festas no cabelo:)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Outono







Ouço sem ver, e assim, entre o arvoredo,


Ouço sem ver, e assim, entre o arvoredo, 
Vejo ninfas e faunos entremear 
As árvores que fazem sombra ou medo 
E os ramos que sussurram de eu olhar.
Mas que foi que passou? Ninguém o sabe. 
Desperto, e ouço bater o coração - 
Aquele coração em que não cabe 
O que fica da perda da ilusão.

Eu quem sou, que não sou meu coração?



Fernando Pessoa

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Maré alta

Ando em maré de criatividade...apetece-me fazer experiências, trabalhar com as mãos, apanhar folhas e colá-las em madeira, envernizá-las....sei lá!

A minha Mãe adorava trabalhos manuais e até aos 80 sempre criou mil e uma maneiras de se entreter com as mãos. As suas eram longas com os dedos bonitos, unhas bem cuidadas. Tinha uma vista fantastica, que eu herdei, conseguia coser e ler sem óculos como eu. Tinha miopia, que eu já não tenho. Pura e simplesmente não uso óculos, o que na minha idade é raro e um privilégio.
A minha mãe fazia caixinhas para tudo, até para nos dar algum dinheiro no Natal quando não tinha saúde para ir comprar prendas. Os cartões eram uma preciosidade, com bonecos recortados e colados em cartolina presos por um fio. Não desenhava, mas a sua letra era linda.
Adorava mostrar-me as suas preciosidades quando eu ia a Lisboa, bordados, crochets e até uma casa da Barbie que fez para os netos e bisnetos, mas que acabava por ser de todos. A minha Mãe poderia ter tido um atelier e ensinado muitas gente nova a fazer coisas bonitas. Felizmente alguns netos herdaram estas qualidades.

Também adoro trabalhar com as mãos - estou a fazer um pulover para o meu neto mais velho que cresce mais depressa do que devia, faz amanhã já 9 anos. Já não sei quantos pulovers fiz para eles...

Tudo isto para dizer que hoje alem de pintar um quadro que ainda não acabei, estive a fazer experiências com algumas fotos que tirei ontem. O resultado é artístico, diria mesmo que parecem pinturas algo surrealistas. Aqui estão.

O sol entra-me pela sala adentro com a suavidade outonal e calor quase de verão. Daqui a nada vou buscar os meninos ao colégio e já sei que querem lanchar no café, onde cobiçam aquilo que o outro pediu e querem provar de tudo um pouco. Eu também era assim.)

                                                     
                                                    Vida calma....em maré alta. Laos Deo!

domingo, 4 de novembro de 2012

Mar adentro

Era o que me apetecia se fosse surfista, pescadora ou suicida....

Hoje a Foz estava tão grandiosa, tão bela, em dia de sol com nuvens, que se fosse mais nova, até era capaz de tomar um banho só para sentir em pleno a maravilha que é o mar.

Não há nada que me apaixone tanto e me emocione desta maneira. Aqui no Norte, o mar é imenso, é belo, é o perto e o longe. E depois, não é só a água, é a areia, os seixos, os limos, os mexilhões, as lapas, as cascas de carangueijo, os búzios, tudo a brilhar ao sol. Respira-se o sal e o cheiro da maresia.

Desta vez, não ficámos sentadas em contemplação. preferimos percorrer todo o caminho desde a Rua do Farol até ao Castelo do Queijo, indo por baixo pelas passerelles , onde não se vêem os carros e a vista é só rochas e mar.

Havia pouca gente, talvez porque estava fresco, mas eu ia tão bem agasalhada que até tive calor.


Equipada com a minha máquina - que seria de mim sem ela? - era a mulher mais feliz  da vida.

A luminosidade era tanta que as minhas fotos não ficaram tão boas, até custava a ver o que fotografava. Mesmo assim algumas estão diferentes e lembrar-me-ão sempre momentos bem felizes.

É dificil descrever o que sinto quando saio com a minha filha. Os silêncios, os sorrisos, a cumplicidade são totais.
Quando ela era mais novinha, nunca pensei vir a ter uma aliada como esta para tudo.
Respeito as suas saídas sozinha, nem sequer pergunto onde vai, sei que volta com um sorriso e sempre disposta a fazer-me aquele recado ou favor. Muitas vezes estamos silenciosas as duas, passamos horas juntas em que cada uma sabe de si, não precisamos de comunicar e adoramos a privacidade.








Ir à Foz foi sempre um dos nossos passeios favoritos.

Já o fizémos vezes sem conta, mas é sempre a primeira vez, como canta o Rui Veloso.