Sempre passei férias na praia da Luz, perto de Lagos. Pelo menos, desde há quarenta e tal anos. Conheci aquela estãncia de verão quando ainda era uma rua apenas com casas baixinhas de pescadores e umas raras casas de férias, algumas de famílias nobres, outras de ingleses reformados que escolhiam o
nosso país para acabar as suas vidas num clima ameno.
Era uma praia muito pacata, mesmo no pino de Agosto, mas a pouco e pouco surgiu o primeiro mini-mercado que se transformou em supermercado e depois em hipermercado no espaço de vinte anos.
Quando fui para lá pela primeira vez, as compras tinham de ser feitas em Lagos, onde havia lojas e restaurantes. Na Luz só havia um barzito de madeira no meio da praia,o Paraíso, onde por vezes iamos tomar um martini ao fim da tarde. A primeira boutique, Capricho, com donos ingleses, foi um sucesso pois vendia jornais e pequenos objectos todos feitos em Inglaterra com aquele charme britânico que nós tanto apreciávamos.
A Luz era partilhada por portugueses e ingleses em harmonia, com alguma subserviência da parte dos empregados que serviam nos restaurantes ou nos supermercados, alguns preços proibitivos, mas com uma escolha de produtos que só fora do país se conseguiam arranjar: compotas, caris, conservas, carnes frias, fast food,take away, uma variedade enorme, que até custava a acreditar existisse numa zona balnear tão pequena.
A Luz era um pequeno paraíso, a nossa casa de férias um local feliz para os meus Pais que para lá fugiam muitas vezes ao fim de semana. Não tínhamos telefone nem TV. A viagem era horrível pela estrada antiga, mas ao chegar, abria-se o mar imenso na nossa frente e a palmeira da nossa Avó saudava-nos
do alto da sua copa. Também havia a fortaleza, uma casa arruinada, com janelas acessíveis, onde os meus irmãos entraram uma vez numa acção digna de livro dos Cinco.
As rochas, onde passávamos grande parte do tempo, eram lisas e permitiam andarmos até ao Burgau a 5km da Luz, contemplando as pequenas baias, onde o mar transparente deixava entrever milhares de seixos e rochas de cores variegadas.
A igreja, monumento nacional, só tinha missa ao domingo, vindo um padre de fora celebrá-la. Agora já tem mais missas e está sempre aberta, vendo-se o lindo retábulo dourado de todo o largo.
Foi nesta terra pacata que Maddie desapareceu a 3 de Maio de 2007.
Não se sabe como.
Há mistério que se sente no ar quando se sobem as ruelas que vão dar ao resort Ocean Club. A criança volatilizou-se e quem conhece a Luz, como eu, tem dúvidas sobre a possibilidade de ter havido um rapto naquele sítio ermo, cheio de gente simpática, segurança total e uma beleza natural espectacular. As crianças costumavam brincar na praia até anoitecer e mesmo depois, sempre se viam casais a jantar e as crianças sozinhas na praia a correr , a andar de baloiço ou a chapinhar no mar.
Nunca se saberá o que aconteceu, penso eu, mas a investigação vai recomeçar, agora já sem a colaboração dos media que foram implacáveis em 2007. Ver os pais na TV fez-me reviver aqueles meses em que seguia o caso pelos jornais e internet avidamente, como se de um thriller se tratasse.