sábado, 26 de junho de 2010

E tudo os meninos levaram

Hoje fui à praia para tirar umas fotos às esculturas novas ontem construidas. Eram uma tartaruga, um polvo e um tubarão, muito maléfico. Estavam lindos , mas eu ontem esqueci-me da máquina. Hoje já tudo tinha sido destruído pelas crianças, que andavam por ali a brincar. Ninguém lhes disse que aquilo era sagrado. Hoje o escultor estava sentado ebaixo do chapéu de sol e olhou para mim, com ar desconsolado: Nada a fazer....ninguém aprecia nada.

Ainda tirei a foto ao polvo, que olhava ameaçador, mas perdeu os tentáculos....

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Lua cheia



É espantosa a luz que a Lua Cheia emana. Na cidade ninguém dá por ela, a não ser junto ao mar da Foz ou talvez nas margens do Douro, num local menos iluminado por luzes artificiais.
Aqui com os moradores fora, a nossa casa queda-se em silêncio. Sem as luzes do terraço - nunca as acendo para poder ver as estrelas - o jardim fica escuro e só a sombra da palmeira se agita em contra-luz ao vento. O luar é total, é pleno e parece quase dia, vêem-se as rochas , o perfil das plantas, as cadeiras do jardim, os mosquitos e uma mancha de prata sobre o mar, agitando-se e cintilando com a ondulação suave desta noite estival. E é tão belo o luar, que nem apetece fechar as persianas e pensar que no dia seguinte já não haverá a mesma visão.

Mas há as fotos. Para provar que é verdade o que aqui está.
E Há a música para nos lembrar que o luar inspirou muitos artistas e compositores desde sempre. Aqui uma versão muito especial do Clair de Lune de Debussy.

Noite de S.João (24de Junho)


O luar do meu jardim


A acompanhar, a eterna beleza da "sonata ao luar".

quinta-feira, 24 de junho de 2010

S, João no Algarve -Flores, flores, flores e memórias da infancia



É uma das imagens de marca da Luz: flores por todo o lado, quase se diria que estávamos na Madeira.Tudo aqui medra, tenha água e algum adubo.Há sol q.b. Todos os jardins têm flores e junto ao mar , elas parecem dar-se bem.
As que se vêem na colagem têm todas memórias da minha infância.Havia dois grandes arbustos de lantana, com cheiro intenso,no nosso jardim, mas nós detestávamo-la porque as bolas de jogar ao mata caíam lá dentro e nunca mais se encontravam...muitas bolas se perderam assim. A cevadilha servia para brincarmos ao mercado, pendurávamos folhas em arames ou cordeis numa cana e íamos vender as pessoas da casa como se fosse peixe fresquinho...a buganvília e os agapantos eram a coqueluche do meu Pai. Orgulhava-se da buganvília vermelha que por aqui subia até ao quarto deles...mas a minha mãe não gostava nada , dizia que entravam bichos pelas janelas...os agapantos cresciam em todo o lado...quanto aos hibiscos, havia um arbusto lindo aqui no jardim e teve de ser cortado quando se alargou a janela, pois tirava a vista do mar. Ainda hoje tenho saudades daquelas flores, que só duram um dia, mas são lindas enquanto duram.

Ontem fiz esta colagem para oferecer a um amigo meu que adora flores...fica aqui para festejar o dia de S. João - grande festa do Porto - a que não assisto pela primera vez após trinta anos de estadia nessa cidade.

Continuo com insónias, são 7 da manhã e ainda não preguei olho. O mar mudou, há ondas grandinhas que vêm rebentar com estrondo na prainha. Talvez por isso uma certa inquietação.
Mas tenho de voltar para a cama...senão como vai ser amanhã?

BARCO À VELA



Foto tirada a 23 de Junho de 2010

Acróstico:

B endito
A mor
R aro
C almo e
O ndulado...

A mor azulado...

V ela da minha madura idade,
E moção do meu coração cicatrizado,
L uz do farol do meu porto tão procurado,
A ncora da embarcação da minha real felicidade...




Wilson Madrid

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Anoitecer na praia



Costuma dizer-se : em Roma sê romano! Aqui na praia da Luz, deve dizer-se: na Luz, sê bife ( ou seja britânico).
Isto porque se é bem mais feliz, se se adoptar os horários deles. Não se corre o risco de chegar a um restaurante e não ter lugar, perder a ocasião de sentar junto à janela a ver o anitecer na praia, dar uma volta pela praia deserta já depois de jantado e bem comido enquanto se faz a digestão; em suma, há uma série de vantagens em ir a um restaurante pelas 7 horas, que foi o que nós fizémos hoje.
Queríamos ver o jogo Alemanha-Gana, se possível, e admirar o pôr do sol sobre a praia simultaneamente. Jantámos num dos melhores restaurantes aqui da Luz, o Poço, que já conheço há 40 anos, desde que abriu. Tem uma bela varanda fechada com uma vista incrível ...e um ecran gigante no cantinho onde se pode seguir o jogo melhor que em casa...:))

Depois deste jantar lauto, descemos até ao mar. A minha filha molhou os pés e tudo! As nossas sombras estavam enormes, gigantescas mesmo. Eu limitei-me a gozar o ar da tardinha, a tirar fotos e a ser feliz.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Para os meus netos

Hoje vi um jardim zoológico na praia.

Tinha sido todo esculpido na areia por um senhor inglês que vèem na foto, todo contente a beber uma cerveja.

Fotografei cada uma das esculturas para vocês verem como se pode ser criativo e fazer coisas bonitas com um monte de areia. Cliquem nelas para ver maior.

De qual gostam mais?

Depois de responderem, eu direi qual a minha preferida.

Aqui estão elas:



Sophia e o mar ( fotos minhas)




História Improvável


Iremos juntos sozinhos pela areia

Embalados no dia

Colhendo as algas roxas e os corais

Que na praia deixou a maré cheia.



As palavras que disseres e eu disser

Serão somente as palavras que há nas coisas

Virás comigo desumanamente

Como vêm as ondas com o vento.



O belo dia liso como um linho

Interminável será sem um defeito

Cheio de imagens e conhecimento.



Mar

De todos os cantos do mundo

Amo com um amor mais forte e mais profundo

Aquela praia extasiada e nua,

Onde me uni ao mar, ao vento à lua.


Signo, 1994

As Ondas

As ondas quebravam uma a uma
Eu estava só na praia com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.




Dia do Mar

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Tarde na praia

Hoje esteve um dia espectacular, quente, sem vento, luminoso...
Ficámos a ver o futebol e valeu a pena: 7-0. É assim mesmo. Somos bestiais quando queremos, só é pena querermos tão poucas vezes :)

Passei a tarde na praia grande com a minha filha. Lindo...a areia dourada, a água deixada pela maré cheia, transparente como cristal, os seixos de todas as cores, as conchas de madre-pérola, as falésias de rochas sedimentares com os seus matizes lilazes e azuis, a Rocha Negra, de origem vulcânica, os parzinhos de namorados, as crianças felizes, os pais babados, as topless curvilíneas, os machomen e os seus barcos....a praia parecia quase irreal de tão bela.

Não gosto da praia em Agosto, mas em Junho com as tardes enormes é uma maravilha...a Lua já está quase cheia e já se vê algum luar no ar.

Vão aqui algumas fotos que tirei hoje.

domingo, 20 de junho de 2010

Explorar é preciso

Pode-se explorar nas cidades, nas casas, nas ruas, nos jardins, nos becos mais antigos, nos recantos escondidos, nas calçadas, nas escadinhas, nos sótãos ou em salões. Numa cidade, encontra-se sempre alguma coisa de novo, uma inscrição, um grafitti, um nome, um vestígio, traços , pegadas, riscos ou desenhos. Uma cidade é feita pelos homens e tem a beleza, a variedade e a fealdade dos que a habitam.

A Natureza, a verdadeira, tem dificuldade em respirar no meio de uma grande cidade. Ninguém apanha cardos, rosas bravas ou espigas. Compram-se flores a sério, cortadas ou em vaso, semeiam-se bolbos, plantam-se cactos, colocam-se-se árvores dentro de casa para simular aquilo que se não tem: a Natureza.

Saímos da cidade e encontramos uma explosão de maravilhas. A Natureza é pródiga em nos oferecer os seus encantos, prendas, simples ou sofisticadas, mas sempre produzidas por ela, sem recurso a nenhum artifício...os anos, os meses, os dias encarregam-se de moldar estas ofertas, a chuva, os ventos e o sol são os seus artistas prvilegiados. Há esculturas na pedra que parecem feitas pelos homens, mas não são. Há plantas duma variedade infinita que nascem entre as rochas mais fustigadas pelo mar e onde se diria que nem os cardos poderiam alguma vez medrar, há arranjos florais lindíssimos na terra a céu aberto que nenhum de nós conseguiria inventar. É só preciso olhar, observar e admirar.

Nesta colagem vão os resultados da minha exploração de hoje à tarde, aqui a dois passos do jardim.
Foi só descer as escadas...e a exploração começou.
Bem haja a Natureza. É bom viver.

CLIQUEM NA FOTO, p.f.

E para acabar, um poema da minha amiga Regina, que aqui passou alguns anos nas férias. A ela dedico esta colagem.

Exploração


Qual exploradora, parti um dia.
Embrenhei-me na selva da vida
onde sabia andar escondida
a poesia

Encontrei-a
na luz ténue do sol ao fim do dia,
na molécula, no átomo, no quantum de energia,
nas leis de Newton, no conceito de entropia.

Encontrei-a
na reflexão da luz, na impulsão no ar,
no cheiro a maresia e nas algas do mar,
no orvalho, na geada, na chuva, no luar.

Encontrei-a
no ínfimo e no imenso que a vista não alcança,
nas rugas dum idoso, no rir de uma criança,
numa tela, num concerto, numa dança.

Encontrei-a
no voo da gaivota, na pétala da flor,
na chama que tremula e se multiplica em cor
e que irradia energia na forma de calor

Encontrei-a
Nas estrelas, nas galáxias mais distantes,
no olhar apaixonado daqueles dois amantes,
nos extintos dinossauros de dimensões gigantes.

Encontrei-a
Em medusas, corais, nos fundos oceanos,
no vento a agitar nas árvores os ramos,
em pinturas rupestres com vários milhares de anos

Encontrei-a
Na violeta escondida no canto do jardim
e no frasco que continha essência de jasmim.
Tentei então guardá-la só para mim.

Foi assim que ela se evolou
e de novo eu aqui estou
a procurá-la.


Regina Gouveia

Homenagem póstuma a Saramago


POEMA A BOCA FECHADA



Não direi:

Que o silêncio me sufoca- e amordaça.

Calado estou, calado ficarei,

Pois que a língua que falo é doutra raça.



Palavras consumidas se acumulam,

Se represam, cisterna de águas mortas,

Ácidas mágoas em limos transformadas,

Vasa de fundo em que há raízes tortas.



Não direi:

Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,

Palavras que não digam quanto sei

Neste retiro em que me não conhecem.



Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,

Nem só animais boiam, mortos, medos,

Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam

No negro poço de onde sobem dedos.



Só direi,

Crispadamente recolhido e mudo,

Que quem se cala quanto me calei

Não poderá morrer sem dizer tudo.