sábado, 31 de julho de 2010
As tílias
Sempre estiveram presentes no meu imaginário, desde a infância até agora.
No jardim da minha casa havia duas tílias grandes, uma delas mesmo em frente da varanda. Cresceu tanto que a minha Mãe começou a queixar-se de que as árvores a atabafavam e ainda tiravam a vista do rio. O meu Pai, que adorava tudo o que é Natureza, mas plantas em especial, e que, apesar da sua vida de médico, destinava umas horas da sua vida ocupadissima ao jardim, mandou cortar a tília...foi um dó, ficou ali um espaço enorme donde se avistavam os navios todos que entravam no Tejo. Felizmente havia muitas outras árvores, como os choupos prateados fustigados pelo vento da tarde, um eucalipto gigante que parecia nunca mais acabar de crescer, mimosas e árvores de fruto.
Há tempos citei Sophia Mello Breyner, a propósito das tílias. Ela descreve a casa dos seus parentes, que avisto aqui da janela, num dos seus contos para crianças:
Era uma vez uma casa pintada de amarelo com um jardim à volta.
No jardim havia tílias, bétulas, um cedro muito antigo, uma cerejeira e dois plátanos. Era debaixo do cedro que Joana brincava. Com musgo e ervas e paus fazia muitas casas pequenas encostadas ao grande tronco escuro. Depois imaginava os anõezinhos que, se existissem, poderiam morar naquelas casas. E fazia uma casa maior e mais complicada para o rei dos anões.
A Floresta
Infelizmente este ano cortaram a grande tília depois dum dia de trovoada que deitou abaixo o gradeamento. Para mim, é como se me tivessem decepado uma amiga. Adorava vê-la daqui da minha varanda, tão redonda que parecia ter sido penteada por um cabeleireiro de renome, simétrica, nem uma folha a mais dum lado do que do outro. Eis o que resta dela, ainda anteontem os meus netos pularam em cima do toco.
Do meu quarto avisto uma tília linda. No inverno vejo tudo o que se passa dentro da casa, no verão acabam-se os voyeurismos, um manto verde claro na primavera e bem escuro no Verão cai sobre as janelas dos vizinhos e enche-me de prazer e privacidade.
Adoro abrir a janela à noite e contemplar a majestosa tília, mesmo junto ao pátio da minha casa no jardim vizinho. Silenciosa, ela abriga pássaros de todo o tamanho e espécie, espalha a sua sombra pelo jardim todo e ainda sofre humilhações com os caezitos minúsculos que guardam a casa e brincam à sua volta, não a deixando em paz.
Bem hajam as tílias...acalmam-me , mesmo quando é só a vista...e o coração.
Mais uma morte na estrada da Arte
Há tempos anunciei aqui o nascimento da revista Bombart, criada pelos artistas do círculo da R.Miguel Bombarda e outros aqui do Porto. Era uma revista bonita, interessante, informativa, estéticamente quase perfeita. Comprei os numeros todos - cada exemplar custava 5 euros - e de repente deixei de a ver na Livraria Leitura, onde era lançada de dois em dois meses.
Ontem perguntei lá o que se passava, disseram-me que tinha desaparecido. Como tudo em Portugal. Dura o espaço dum minuto....em contrapartida, revistas americanas ou francesas de arte, a 10 euros cada, continuam a vender-se e a colorir as bancas, sem nada de muito novo e sobretudo sem info de espécie alguma que nos possa interessar em termos de arte nacional.
É pena.
Este deve ter sido o ultimo numero. RIP!
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Em tons de violeta
Ontem fiz este quadro pela noite dentro...tapei outro de que não gostava, usei muitas técnicas, fui observando as misturas dos tons - apenas roxo e branco com gel impasto. O efeito foi imediato, belo, misterioso, com laivos de poesia. O versão final - sem verniz - é esta.
Vai aqui um poema em inglês ( desculpem) que encontrei no blogue : Frogyfish, É uma adaptação dum poema muito conhecido, mas não tão belo, de Jenny Joseph sobre o qual segue uma nota:
The original 'Warning, When I Am an Old Woman, I Shall Wear Purple' poem was written by Ms. Joseph in 1961 when she was thirty years old, a stunning treatise of aging expressed with intense feelings and description, and her poetically stated intentions that were quite exquisitely out of the ordinary!
'My Purple Poem'
When I am an old woman, I will wear purple!
Yes, and hot pink with roses that smell
(if you scratch them) so wonderfully well!
I shall wear my purple and pink in the fall
and not worry should 'looks' follow, wherever I stall.
On the sidewalk or street bench I'll sit in the sun,
and never get up until I am done.
Yes, wearing purple I'll feel such a queen,
and won't mind a bit when some watch me preen.
In fact, I'll enjoy a sneak peak now and then
just to see if they wonder, and smile once again.
I'll wear my bright purple and feed squirrels and birds,
enjoying their friendship without any words.
Yes, sharing these songs of the feathered and furry,
I'll hear all the sounds of this world without worry.
Green leaves rustle tunes for each season they last,
till winter has come and their sound is all past.
Those greyed branches that tremble and lift to the sky
are rooted in earth that holds spring's bright sigh!
So, aging and newness walk life altogether,
and holding each other they face any weather.
For spring comes again, and then summer's bloom,
before autumn's cooling portrays winter's loom...
Ah! And I have worn purple, and looked in the eye
of each day and each storm that has come and passed by!
Sure, wearing my roses and bright purple hue,
I'll smile at the world and...perhaps at you too!
(While you may be thinking 'You'll wear purple too!)
In: frogyfish blogspot
quinta-feira, 29 de julho de 2010
As férias
Era o nome dum dos livros que mais vezes li na minha infância. Da Condessa de Ségur - colecção Azul. Li-os todos de fio a pavio, várias vezes, começando pelos Desastres de Sofia,
um dos meus preferidos, tal era a minha proximidade com a heroína. Asneiras atrás de asneiras, era um pedacinho da minha vida de todos os dias.
No dia dos meus cinco anos, numa festa em que os meus Pais celebravam a ida para a casa nova e o meu aniversário simultaneamente, toda vestidinha bordado inglês branco, resolvi saltar dum canto para o outro do lago pequeno que havia no meio do relvado. Caí na água pardacenta, com peixes e cágados!! Fiquei castanha. Nada bonito para uma menina que se preza. E fui chacota dos meus irmãos, o que ainda era pior.
Aos seis anos, já era uma peste. Um dia uma das minhas irmãs estava dentro do nosso quarto de brincadeiras que dava para o jardim e não me deixou entrar. Bati à janela e nada. Disse com ar doutoral de irmã mais velha que não se podia entrar porque tinham encerado o chão e eu, vinda do jardim, sujaria tudo. Fiquei louca de fúria, pus-me aos murros à janela e ela vingou-se. Fiz um corte no meio do braço, que por pouco não me apanhava a veia e levei sete pontos, tendo estado privada de banhos de mar durante quase todo o verão. Castigo demasiado cruel para quem era maluca pelo mar. E que deixou uma cicatriz enorme.
As férias duravam tempo demais. E passavam-se quase sempre em casa, embora tivéssemos um jardim grande e fôssemos quase todos os dias à praia num ceremonial que começava às 9 da manhã e acabava à 1. De chapeuzinhos e bibes iguais parecíamos um colégio como aquele que dão às vezes na TV Panda e que os meus netos adoram,uma menina muito boazinha, que faz sempre tudo o que as freiras querem. Só que não havia freiras e eu era tudo menos boazinha na praia. Ficava na água até as unhas arroxearem e a minha Mãe se arreliar.
Quando cheguei aos treze anos, ajuizei. Pudera, depois de tanta perrice e asneirada, tinha de me equilibrar e de me fazer à vida. As leituras mudaram. Da Condessa e da Enyd Blyton, passei para as Berthe Bernage e transformei-me numa seráfica adolescente, sonhadora e idealista, crente num mundo encantado que estaria escondido no meio das árvores. As férias em Sintra em 1959 numa quinta que emprestaram ao meu Pai, com uma mata imensa na Correnteza, donde se via o electrico para a Praia das Maçãs, foi o local ideal para pôr a meditação em prática e chegar ao céu. Foram férias felizes, os meus Avós ficaram connosco enquanto os meus pais faziam uma viagem aos EU e com eles, nós tínhamos plena liberdade e carinho especial.Não me lembro duma única asneira, lembro-me de escrever histórias num caderninho comprado na papelaria da Correnteza.E de ser feliz.
Porque me puz a recordar tudo isto hoje? Porque estou triste...e detesto férias! Explico porquê.
Hoje começaram as férias dos meus netos. Fui buscá-los pelas 10, fomos tomar o pequeno almoço (?) à Botânica - gelados e torradas - e depois dar um passeio pelo Botânico, conversando à sombra das árvores, lendo o nome delas, saudando os peixinhos do lago de nenúfares
que estava repleto de folhas, mas exíguo de flores. A dada altura vimos uma árvore linda,chamada Arvore Candelabro. Tinha flores vermelhas, que o mais novo se apressou a classificar: São flores, não são frutos, pois não, Vóvó?...Momentos maravilhosos, apesar do calor. Depois, em minha casa, estiveram a ver bonecos até à hora de almoço em casa onde iam dormir uma curta sesta.
Assim se acabaram as minhas férias com eles.
Partiram pelas 3 para Boston, onde os Pais vão continuar a sua investigação no MIT. Irão todos os dias para uma summer school! Estavam felizes, apesar de saberem que iriam voar durante horas. Levavam livro, o violino e o violoncelo :). Sentiam-se bem com os pais em férias e a excitação do momento. E eu triste.
Fiquei com uma lágrima ao canto do olho, mas compreendi que férias é mudança. E devem ser passadas com os Pais. Eles merecem-no.
um dos meus preferidos, tal era a minha proximidade com a heroína. Asneiras atrás de asneiras, era um pedacinho da minha vida de todos os dias.
No dia dos meus cinco anos, numa festa em que os meus Pais celebravam a ida para a casa nova e o meu aniversário simultaneamente, toda vestidinha bordado inglês branco, resolvi saltar dum canto para o outro do lago pequeno que havia no meio do relvado. Caí na água pardacenta, com peixes e cágados!! Fiquei castanha. Nada bonito para uma menina que se preza. E fui chacota dos meus irmãos, o que ainda era pior.
Aos seis anos, já era uma peste. Um dia uma das minhas irmãs estava dentro do nosso quarto de brincadeiras que dava para o jardim e não me deixou entrar. Bati à janela e nada. Disse com ar doutoral de irmã mais velha que não se podia entrar porque tinham encerado o chão e eu, vinda do jardim, sujaria tudo. Fiquei louca de fúria, pus-me aos murros à janela e ela vingou-se. Fiz um corte no meio do braço, que por pouco não me apanhava a veia e levei sete pontos, tendo estado privada de banhos de mar durante quase todo o verão. Castigo demasiado cruel para quem era maluca pelo mar. E que deixou uma cicatriz enorme.
As férias duravam tempo demais. E passavam-se quase sempre em casa, embora tivéssemos um jardim grande e fôssemos quase todos os dias à praia num ceremonial que começava às 9 da manhã e acabava à 1. De chapeuzinhos e bibes iguais parecíamos um colégio como aquele que dão às vezes na TV Panda e que os meus netos adoram,uma menina muito boazinha, que faz sempre tudo o que as freiras querem. Só que não havia freiras e eu era tudo menos boazinha na praia. Ficava na água até as unhas arroxearem e a minha Mãe se arreliar.
Quando cheguei aos treze anos, ajuizei. Pudera, depois de tanta perrice e asneirada, tinha de me equilibrar e de me fazer à vida. As leituras mudaram. Da Condessa e da Enyd Blyton, passei para as Berthe Bernage e transformei-me numa seráfica adolescente, sonhadora e idealista, crente num mundo encantado que estaria escondido no meio das árvores. As férias em Sintra em 1959 numa quinta que emprestaram ao meu Pai, com uma mata imensa na Correnteza, donde se via o electrico para a Praia das Maçãs, foi o local ideal para pôr a meditação em prática e chegar ao céu. Foram férias felizes, os meus Avós ficaram connosco enquanto os meus pais faziam uma viagem aos EU e com eles, nós tínhamos plena liberdade e carinho especial.Não me lembro duma única asneira, lembro-me de escrever histórias num caderninho comprado na papelaria da Correnteza.E de ser feliz.
Porque me puz a recordar tudo isto hoje? Porque estou triste...e detesto férias! Explico porquê.
Hoje começaram as férias dos meus netos. Fui buscá-los pelas 10, fomos tomar o pequeno almoço (?) à Botânica - gelados e torradas - e depois dar um passeio pelo Botânico, conversando à sombra das árvores, lendo o nome delas, saudando os peixinhos do lago de nenúfares
que estava repleto de folhas, mas exíguo de flores. A dada altura vimos uma árvore linda,chamada Arvore Candelabro. Tinha flores vermelhas, que o mais novo se apressou a classificar: São flores, não são frutos, pois não, Vóvó?...Momentos maravilhosos, apesar do calor. Depois, em minha casa, estiveram a ver bonecos até à hora de almoço em casa onde iam dormir uma curta sesta.
Assim se acabaram as minhas férias com eles.
Partiram pelas 3 para Boston, onde os Pais vão continuar a sua investigação no MIT. Irão todos os dias para uma summer school! Estavam felizes, apesar de saberem que iriam voar durante horas. Levavam livro, o violino e o violoncelo :). Sentiam-se bem com os pais em férias e a excitação do momento. E eu triste.
Fiquei com uma lágrima ao canto do olho, mas compreendi que férias é mudança. E devem ser passadas com os Pais. Eles merecem-no.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
Modesta homenagem a Van Gogh e outros
Fiquei impressionada pelo que li hoje sobre VAN GOGH. Comprei um livro fascinante em Inglaterra que descreve o ano em que Gauguin e o pintor viveram juntos em Auvers-sur Oise.Van Gogh é apresentado como uma personalidade humana atraente, dramático e trágico, como tantos outros artistas que puseram fim às suas vidas, deixando o público - nós todos - carentes de algo mais. Estou a pensar em Fernando Pessoa, Virginia Woolf, Sylvia Plath e outros. Comove-me ler sobre as suas experiências, os seus dramas e sobretudo tentar compreender a sua atitude negativa perante a própria genialidade. Viveram antes de tempo. Se fosse agora, talvez a medicina os tivesse salvo das suas psicoses ou fobias. Mas nos seculos passados não havia grandes soluções e a mente tomava conta da alma.
Hoje resolvi pintar um quadro bucólico da minha imaginação.
Pensei nos Moors do Yorkshire, região magnífica onde viveram as irmãs Bronté, também elas personagens trágicas, que nos deixaram obras como o Monte dos Vendavais e Jane Eyre, montes desolados, duma beleza extasiante, que se podem ver a uns kms de Leeds e onde já passeei com a minha filha, nos dias felizes dos seus vinte anos.
Pintei hoje este quadro. Inspirada por Van Gogh, mas sem desejo de o imitar. Ciente de que esses artistas vivem todos em nós, são imortais.
Deixo-vos um vídeo sobre a região do Yorkshire. Talvez compreendam, ao vê-lo, o fascínio que esta paisagem cria em quem lá vai e a minha paixão pela Inglaterra.
Hoje resolvi pintar um quadro bucólico da minha imaginação.
Pensei nos Moors do Yorkshire, região magnífica onde viveram as irmãs Bronté, também elas personagens trágicas, que nos deixaram obras como o Monte dos Vendavais e Jane Eyre, montes desolados, duma beleza extasiante, que se podem ver a uns kms de Leeds e onde já passeei com a minha filha, nos dias felizes dos seus vinte anos.
Pintei hoje este quadro. Inspirada por Van Gogh, mas sem desejo de o imitar. Ciente de que esses artistas vivem todos em nós, são imortais.
Deixo-vos um vídeo sobre a região do Yorkshire. Talvez compreendam, ao vê-lo, o fascínio que esta paisagem cria em quem lá vai e a minha paixão pela Inglaterra.
VAN GOGH - 1853-1880
Faz hoje 120 anos que VINCENT VAN GOGH pôs termo à vida, após um período conturbado de depressão e problemas financeiros, para além de algumas quezílias sérias com o seu amigo Gauguin, que viveu um ano na sua casa.
Como quase todos os génios, Van Gogh não foi reconhecido pelos seus pares, embora o seu irmão Theo lhe tenha dado sempre apoio e fosse o seu bastião nos dez anos em que o pintor produziu quase toda a sua vasta colecção de obras-primas. Com baixa auto-estima, mas o pressentimento de que o que criava era original e belo, Van Gogh escreveu cartas interessantíssimas onde explicava com pormenor cada uma das suas obras, desenhava a lápis esboços de figuras e paisagens, exprimia a sua esperança em dias melhores e agradecia aos seus apoiantes a coragem por eles incutida.
Este ano, a Royal Academy of Arts, em Londres, organizou uma expo em que procurou revelar O Verdadeiro Van Gogh com 65 pinturas, 30 desenhos e 35 cartas raramente vistas. Uma vasta exposição baseada no trabalho sobre a correspondência do artista feito por um trio do Museu Van Gogh de Amesterdão, Leo Jansen, Hans Luijten e Nienke Bakker.
Durante 15 anos, estes peritos prepararam uma monumental edição anotada, incluindo reproduções das cartas originais, muitas delas com desenhos, que já se pode adquirir nas livrarias e pelos sites online.
Eis parte da carta derradeira, traduzida:
Há também, eu sei, a libertação, a libertação tardia. Uma reputação arruinada com ou sem razão, a penúria, a fatalidade das circunstâncias, o infortúnio, fazem prisioneiros.
Nem sempre sabemos dizer o que é que nos encerra, o que é que nos cerca, o que é que parece nos enterrar, mas no entanto sentimos não sei que barras, que grades, que muros.
Será tudo isto imaginação, fantasia? Não creio; e então nos perguntamos: meu Deus, será por muito tempo, será para sempre, será para a eternidade?
Você sabe o que faz desaparecer a prisão. E toda afeição profunda, séria. Ser amigos, ser irmãos, amar isto abre a porta da prisão por poder soberano, como um encanto muito poderoso. Mas aquele que não tem isto permanece na morte.
Mas onde renasce a simpatia, renasce a vida.
Além disso, às vezes a prisão se chama preconceito, mal-entendido, ignorância, falta disto ou daquilo, desconfiança, falsa vergonha.
Mas para falar de outra coisa, se eu caí, por outro lado você subiu. E se eu perdi simpatias, você por seu lado as ganhou. Eis o que me deixa contente; falo sério e isto sempre me alegrará. Se você fosse pouco sério e pouco profundo, eu poderia temer que isso não durasse muito, mas como acredito que você seja muito sério e muito profundo, sou levado a crer que isto durará.
Só que se lhe fosse possível ver em mim algo mais que um vagabundo da pior espécie eu ficaria muito contente. Então se eu puder alguma vez fazer algo por você, ser-lhe útil em alguma coisa, saiba que estou à sua disposição.
Se aceitei o que você me deu, você também poderia, caso de alguma forma eu puder ajudá-lo, pedir-me: eu ficaria contente e consideraria isso uma prova de confiança. Nós estamos muito distantes um do outro e podemos ter pontos de vista diferentes; contudo, em dado momento, algum dia, poderíamos ajudar-nos um ao outro.
Por hoje eu lhe aperto a mão, agradecendo novamente a bondade que você teve comigo.
Agora, se mais cedo ou mais tarde você quiser me escrever, meu endereço é chez Ch. Decrucq, rue du Pavillon 8, em Cuesmes, perto de Mons.
E saiba que escrevendo-me você me fará bem.
Do seu,
VINCENT “
Fica aqui um poema, baseado na última carta que Van Gogh escreveu a Theo
aquilo que vejo e observo
a cor serve para me exprimir théo: amarelo
terra azul corvo lilás sol branco pomar vermelho
arles
sulfurosas cores cintilando sob o mistério
das estrelas na profunda noite afundadas onde
me alimento de café absinto tabaco visões e
um pedaço de pão théo
que o padeiro teve a bondade de fiar
o mistral sopra mesmo quando não sopra
os pomares estão em flor
o mistral torna-se róseo nas copas das ameixeiras
arles continuou a arder quando tentei matar aquele
que viu a minha paleta tornar-se límpida
mas acabei por desferir um golpe contra mim mesmo
théo
cortei-me uma orelha e o mistral sopra agora
só de um lado do meu corpo os pomares estão em flor
e arles théo continua a arder sob a orelha cortada
por fim théo
em auvers voltei a cara para o sol
apontando o revólver ao peito senti o corpo
como um torrão de lama em fogo regressar ao início
num movimento de incendiado girassol
Al Berto, O Medo
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Sonho ou realidade?
Há 37 anos casei-me. Era Novembro e o meu marido estava na tropa, não podendo deslocar-se ao estrangeiro em lua de mel. Também não tínhamos dinheiro para ir muito longe. O casamento foi modesto, só família chegada, porque resolvi não casar pela Igreja para grande desgosto do meu Pai, que não compreendeu a minha decisão, influenciada pelo meu futuro esposo. Depois de uma fase de censura, o meu Pai disse-me que me ofereceria a lua de mel e foi assim que fomos parar a um dos locais mais românticos e bonitos da ilha da Madeira: a Quinta da Penha de França. Nunca mais esquecerei o cheiro a cera dos soalhos, os sofás forrados de cretone rosa velho e verde à inglesa, o quarto amplo a dar para o jardim. E as rosas e o champagne na mesa do quarto à nossa chegada. E não só...
Faz agora dez anos, o meu filho resolveu casar, antes de voltar para a Alemanha para continuar os seus trabalhos de doutoramento e aconselhou-se com uma amiga alemã sobre locais onde poderia ir passar a lua de mel. A pessoa em questão disse-lhe que tinha estado num hotel de charme maravilhoso e ele apressou-se a reservar quarto. Quando falou ao Pai no hotel que tinha escolhido, o meu marido disse-lhe espantado: Foi aí que nós passámos a nossa lua de mel. É muito especial. Muito bom, mesmo. Coincidência extraordinária, pois nós nunca lhe tínhamos falado nisso.
Ontem deu-me uma curta depressão depois de passar o serão com os meus netos; puz-me a pensar que vou ficar um mês com o oceano Atlântico a separar-nos...não conseguia dormir e resolvi fazer uma pesquisa sobre hoteis na Madeira. Pelo menos estarei no meio do Oceano e mais perto. Sem querer, fui dar ao site da Quinta, onde nunca mais voltara.
Nem hesitei. Vi qual a disponibilidade de quartos em Agosto, que era mesmo exígua, dado que não havia nada em muitos dias desse mês; depois duma hora a pesquisar e a comparar preços, consegui reservar cinco dias seguidos eram umas sete da manhã. Seguiu-se a tarefa de marcar os vôos. TAP - Take Another Plane , na gíria britanica -, sempre ela, a única com monopólio quase exclusivo dos voos para as ilhas , a par da SATA, que é ainda mais cara. Os vôos ficam mais caros que a estadia neste hotel de quatro estrelas....incrível! Lá se vai o subsídio de férias:))
Mas o sonho tornar-se-á realidade...dentro de tres semanas estarei com os meus filhos de novo neste local paradisíaco....vão ser umas férias curtinhas, mas passadas num sítio muito especial. Viva a família!
DIA MUNDIAL DOS AVÓS
Hoje, 26, celebra a Igreja o dia de S. Ana e S. Joaquim, avós de Jesus, pelas Escrituras. Não preciso de dias especiais para comemorar o facto de ser Avó. Nem todos os dias são dedicados aos netos, muitos deles não são e nem sequer os vejo. Estão porém sempre no meu pensamento. E esse pensamento é afectuoso e doce, quente e saboroso.
Ontem fui passar parte do serão com eles e houve concerto. Pai e filhos tocaram para mim, senti-me bem e eles estavam felizes. O mais velho já toca violino com bastante precisão e sobretudo com expressão, o que me comove. O mais novo toca violoncelo ainda incipiente, mas acima de tudo adora shows, não pára de dançar, cantar, saltar, tudo ao ritmo da música, que lhe está na massa do sangue. O meu filho está a tocar piano cada vez melhor desde que compraram um instrumento novo para substituir o alemão muito antigo que viera de casa da minha Mãe em Lisboa e estava a desfazer-se.Para minha alegria tocou uma sonata de Beethoven, Bach e o Arabesque nº1 de Debussy que já a minha mãe tocava, em dias de calmaria.
A tarde estava a findar, a Lua Cheia a erguer-se avermelhada e o meu neto mais novo exclamou: "A Lua até parece a Terra! Mas não é, pois não? Nós estamos aqui em cima da Terra, não podemos vê-la assim redonda, tem de ser a Lua!" Depois acrescentou: "O Sol é uma estrela de fogo e tem tanta luz que ilumina tudo. A Lua não!"
Mas felizmente, há luar...como diria Stau Monteiro...
Fica aqui um poema aos avós modernos ( brasileiro)
Vovó século XXI
Como é bom ter uma avó!
Companheira que ela só,
Conta histórias de encantar
Branca de Neve - Cinderela...
Canta canções de ninar
Não me imagino sem ela
Conta que o lobo mau é bom
Que não comeu a avozinha
Foi tudo brincadeirinha
Pois quando o encontrou
No caminho da floresta
Deu-lhe tanto carinho
Que o lobo virou bonzinho
Mais parecia um cachorrinho
E pra ele tudo era festa
Ela inventa, e diz então
Que a vida é uma comprida linha
que a ponta final é a dela
E que a do início é a minha
Tenho que correr pra pegá-la
Soltando a imaginação
Um dia vou alcançá-la
Sabem que a minha avó,
Leva-me a passear
Acompanha-me à natação
E ensina-me a nadar?
Quando ela está por perto
Não tenho medo nenhum,
A minha avó é decerto
Vovó século vinte e um!
Isabel Correia da Silva e Sousa
E um vídeo lindo com a música e imagens a condizer:
domingo, 25 de julho de 2010
Calçada à Portuguesa
No site de fotografias WOOPHY ,que já recomendei muitas vezes e cujos membros são aos milhares, que todos os dias fazem upload de fotos a um ritmo alucinante, vi hoje um foto impressionante tirada por um fotógrafo português talentoso chamado Abílio Silveira em Lisboa. A foto diz tudo.
Por favor cliquem nela para verem com mais detalhe.
Às vezes tenho saudades da minha terra!
Por favor cliquem nela para verem com mais detalhe.
Às vezes tenho saudades da minha terra!
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