Pintar o fundo do mar é um dos meus temas preferidos e dos primeiros que criei.
Hoje voltei ao tema num quadrinho mais pequeno, com impasto para dar alguma rugosidade e saliências. Adorava merguhar com óculos e barbatanas quando tinha idade para isso, sem nunca me afastar da superfície, mas vendoo azul transparente, os ocres e brancos das rochas, os tons mais escuros das sombras....gostava que as minhas cinzas fossem um dia deitadas ao mar ou ficassem lá perto, junto à palmeira da minha Avó na Luz.
Um poema ao mar, sem o qual a vida seria difícil.
Viver na Beira-Mar
Nunca o mar foi tão ávido
quanto a minha boca. Era eu
quem o bebia. Quando o mar
no horizonte desaparecia e a areia férvida
não tinha fim sob as passadas,
e o caos se harmonizava enfim
com a ordem, eu
havia convulsamente
e tão serena bebido o mar.
Fiama Hasse Pais Brandão, in "Três Rostos - Ecos"
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
JORDI SAVALL
Ouvi-o só uma vez na Casa da Música, embora ele já cá tenha estado em Portugal muitas vezes.
É um génio na viola de gamba e o som deste instrumento leva-me a recordar o filme maravilhoso Tous les matins du Monde, com o enorme Gérard Dépardieu, o Cyrano que nunca esqueci.
No Mezzo vão transmitir uma série de concertos de Jordi Savall, música antiga que nos faz vibrar e sentir o sabor da Idade Média, dos bailes da corte, dos torneios e banquetes. Começam já hoje.
Um amigo meu quis que o seu casamento fosse acompanhado da música deste maravilhoso compositor e o ambiente estava mais original, tanto mais que celebrado na Pousada do Marão, com as montanhas a perder de vista.
Se puderem, vejam-este intérprete ao vivo no Mezzo, é liiiindo!
É um génio na viola de gamba e o som deste instrumento leva-me a recordar o filme maravilhoso Tous les matins du Monde, com o enorme Gérard Dépardieu, o Cyrano que nunca esqueci.
No Mezzo vão transmitir uma série de concertos de Jordi Savall, música antiga que nos faz vibrar e sentir o sabor da Idade Média, dos bailes da corte, dos torneios e banquetes. Começam já hoje.
Um amigo meu quis que o seu casamento fosse acompanhado da música deste maravilhoso compositor e o ambiente estava mais original, tanto mais que celebrado na Pousada do Marão, com as montanhas a perder de vista.
Se puderem, vejam-este intérprete ao vivo no Mezzo, é liiiindo!
Os sem abrigo
Hoje resolvi sair um pouco do âmbito da cultura para me debruçar sobre o social.
Vejo no Telejornal da hora de almoço os últimos números da adesão à greve - abaixo das expectativas, pois claro, quem é que pode perder o vencimento dum dia de trabalho, mesmo que ele seja baixo e oferecer ao Estado uma percentagem daquilo que ele lhe paga quase por favor?
Enquanto professora só fiz greve uma vez e por solidariedade pois nem sequer estava convocada para os exames desses dias. Mesmo assim tiraram-me cerca de 200 euros no vencimento ao fim do mês. E greves de professores não têm consequências nenhumas, só servem para os alunos se divertirem e andarem pelos shoppings a passear...
Outra notícia que despertou a minha atenção, foi a de que muitos sem-abrigo pernoitam na gare do Oriente, aquele monstro de betão com espaço que daria para fazer dez casas ou mais onde abrigar estas pessoas que o azar atirou para as ruas.
Não é só cá. Lembro-me de ver sem abrigos em Londres, em NY, em Paris, com climas gélidos. Passei duas noites em gares, por viajar de noite em grupo e sei quanto custa não termos onde encostar a cabeça e esticar as pernas. E eu tinha 19 anos.
Vieram-me as lágrimas aos olhos ao ver os jovens a entregar refeições na estação, o modo como abraçavam os necessitados, o carinho com que os tratavam. Ainda bem que há gente generosa. Um dos homens que ali estava, com bom aspecto físico e sapatos engraxados, explicou que é epilético e que não há patrões que o admitam. Ou seja, despedem-no mal sabem que ele sofre de epilepsia. Tive uma estagiária que sofria dessa doença e sempre deu aulas, embora, pessoalmente tenha tido muitas complicações durante a vida. As doenças mentais são a maior razão de ostracismo e de miséria. Não há qualquer protecção social para quem sofre destas doenças, nem sequer podem fazer seguros de doença. Sei-o bem.
Este país não é para velhos, nem para deficientes, nem doentes, nem sequer para jovens licenciados, casais novos com crianças, este país não é para quase ninguém....
Vejo no Telejornal da hora de almoço os últimos números da adesão à greve - abaixo das expectativas, pois claro, quem é que pode perder o vencimento dum dia de trabalho, mesmo que ele seja baixo e oferecer ao Estado uma percentagem daquilo que ele lhe paga quase por favor?
Enquanto professora só fiz greve uma vez e por solidariedade pois nem sequer estava convocada para os exames desses dias. Mesmo assim tiraram-me cerca de 200 euros no vencimento ao fim do mês. E greves de professores não têm consequências nenhumas, só servem para os alunos se divertirem e andarem pelos shoppings a passear...
Outra notícia que despertou a minha atenção, foi a de que muitos sem-abrigo pernoitam na gare do Oriente, aquele monstro de betão com espaço que daria para fazer dez casas ou mais onde abrigar estas pessoas que o azar atirou para as ruas.
Não é só cá. Lembro-me de ver sem abrigos em Londres, em NY, em Paris, com climas gélidos. Passei duas noites em gares, por viajar de noite em grupo e sei quanto custa não termos onde encostar a cabeça e esticar as pernas. E eu tinha 19 anos.
Vieram-me as lágrimas aos olhos ao ver os jovens a entregar refeições na estação, o modo como abraçavam os necessitados, o carinho com que os tratavam. Ainda bem que há gente generosa. Um dos homens que ali estava, com bom aspecto físico e sapatos engraxados, explicou que é epilético e que não há patrões que o admitam. Ou seja, despedem-no mal sabem que ele sofre de epilepsia. Tive uma estagiária que sofria dessa doença e sempre deu aulas, embora, pessoalmente tenha tido muitas complicações durante a vida. As doenças mentais são a maior razão de ostracismo e de miséria. Não há qualquer protecção social para quem sofre destas doenças, nem sequer podem fazer seguros de doença. Sei-o bem.
Este país não é para velhos, nem para deficientes, nem doentes, nem sequer para jovens licenciados, casais novos com crianças, este país não é para quase ninguém....
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Música na TV
Ouvi dizer que hoje é o dia Mundial da TV. Não confirmei, nem estou especialmente interessada. o Dia da TV é sempre que eu quero....e posso...e mando.
Neste momento, através da TV - Mezzo - estou a regressar aos meus dez anos, ao primeiro concerto a que fui na minha vida, no Coliseu de Lisboa. Tocava violino o célebre David Oistrack e o concerto era precisamente este: Beethoven, o seu único concerto para violino, opus 67, lindíssimo, tocado agora por Anne-Sophie Mutter, a menina prendada e protégée de Karajan. Merecidamente, visti que é um portento de força e virtuosidade.
Em tempos quando dava aulas de Alemão, encontrei numa revista especial para o ensino da língua,um artigo sobre esta rapariguinha alemã, que tinha, na altura 15 anos e se deslocava todos os dias vários kms para ter aulas na Suiça. Levei a história verídica para a aula e os alunos ficaram muito interessados na menina da sua idade, tão promissora e corajosa.
Hoje vejo-a na TV com muitos mais anos, mas ainda uma figurinha linda, feições muito perfeitas e um sonho a tocar.
A Orquestra Sinfónica de Israel, conduzida por Zubin Mehta parece rezar uma prece à volta desta Madona. Os músicos até fecham os olhos durante os seus solos para melhor se empregnarem do som do violino.
Há momentos belos em cada dia....hoje parecia um dia cinzento, anónimo, ida ao supermercado, arrumar a casa, tratar da roupa, limpar o pó que teima em pegar-se aos móveis, dar um jeito à lareira, fazer o jantar... e eis que do nada, a música irradia pela minha sala e convida a uma pausa para contemplar e vibrar.
Obrigada Beethoven! Obrigada Anne Sophie! Obrigada Zubin! Obrigada MEZZO!
O jantar.....virá dentro de horas quando estiver capaz de o fazer:))
Neste momento, através da TV - Mezzo - estou a regressar aos meus dez anos, ao primeiro concerto a que fui na minha vida, no Coliseu de Lisboa. Tocava violino o célebre David Oistrack e o concerto era precisamente este: Beethoven, o seu único concerto para violino, opus 67, lindíssimo, tocado agora por Anne-Sophie Mutter, a menina prendada e protégée de Karajan. Merecidamente, visti que é um portento de força e virtuosidade.
Em tempos quando dava aulas de Alemão, encontrei numa revista especial para o ensino da língua,um artigo sobre esta rapariguinha alemã, que tinha, na altura 15 anos e se deslocava todos os dias vários kms para ter aulas na Suiça. Levei a história verídica para a aula e os alunos ficaram muito interessados na menina da sua idade, tão promissora e corajosa.
Hoje vejo-a na TV com muitos mais anos, mas ainda uma figurinha linda, feições muito perfeitas e um sonho a tocar.
A Orquestra Sinfónica de Israel, conduzida por Zubin Mehta parece rezar uma prece à volta desta Madona. Os músicos até fecham os olhos durante os seus solos para melhor se empregnarem do som do violino.
Há momentos belos em cada dia....hoje parecia um dia cinzento, anónimo, ida ao supermercado, arrumar a casa, tratar da roupa, limpar o pó que teima em pegar-se aos móveis, dar um jeito à lareira, fazer o jantar... e eis que do nada, a música irradia pela minha sala e convida a uma pausa para contemplar e vibrar.
Obrigada Beethoven! Obrigada Anne Sophie! Obrigada Zubin! Obrigada MEZZO!
O jantar.....virá dentro de horas quando estiver capaz de o fazer:))
Subscrever:
Mensagens (Atom)