sábado, 3 de novembro de 2012

Safari outonal


A tarde clareou.
O sol começou a brilhar e as gotinhas que repousavam nas folhas começaram a cintilar. Era a hora de ir em safari, não para ver animais ferozes, mas  plantas magníficas que já amo como se fossem minhas.


Um dia escrevi aqui que gostava mais de plantas do que de animais e alguém ficou admirado. Hoje confirmei-o mais uma vez. As plantas são únicas, não há uma igual a outra, resplandecm ao sol à sua maneira, crescem em tamanhos diferentes, amarelecem ou não, conforme a estirpe, duram mais, duram menos, mas, enquanto duram, são belas como as grandes paixões.

Perdi-me no jardim da FCUP, aqui mesmo ao lado do Botânico, onde só se ouviam os pássaros no seu chilrear constante, dir-se-ia que conhecem Vivaldi e o entoam propositadamente para mim.

As áleas estavam cobertas de folhas, a erva repleta de pétalas de camélias, ouriços de castanhas aos milhares, cogumelos enormes, musgo, líquenes, tudo em harmonia. Era a Natureza no seu melhor, depois de uns dias de chuva, revigorante, esplêndida e convidativa.

Senti a falta dos meus netos que chamam a este jardim o "departamento", pois em tempos o meu filho trabalhou ali...já há uns quatro anos. Um deles tem lá um "escritório" debaixo das árvores e uns troncos que considera seus. A imaginação não tem limites...bendita idade.

Estar assim em uníssono com a beleza faz-me acreditar. E cito Alberto Caeiro, pois com ele me identifico.









Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.


O Guardador de Rebanhos







sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Mens sana ...corpore sano

O meu Latim já não é o que era....sempre fui boa aluna nesta disciplina, que achava um autêntico puzzle super-aliciante. Tive um 18 no 7º ano com enorme facilidade, tal era o meu amor pela história dos Romanos e a fantástica professora que tive no antigo Liceu M. Amália.

Agora já erro muitas vezes nas declinações, mas continuo a gostar de citações latinas. Só não gosto do lema do Benfica : Et pluribus Unum, bah!:)

Hoje fui fazer dois exames médicos importantes, e, embora de rotina, estava nervosa pois ultimamente tenho ouvido notícias terríveis.

Foi-me dito por profissionais competentes e muito acessíveis que não sofro de nada inquietante, o que, na minha idade, é de fazer brindes com champagne que não tenho. Depois de a minha empregada me andar a agoirar com a sua tendência para a desgraça, pude vir para casa descansada - sem antes passar pela Leitaria da Quinta do Paço, onde se vendem os melhores chantillis que jamais vi, éclairs recheados e bolas de Berlim do outro mundo.
Até tirei uma foto para as publicitar no FB.
A loja foi toda remodelada há dois anos e agora está linda e apetecível. Adoro o ambiente das lojas daquela zona do Porto, cercadas de alfarrabistas por todo o lado. Tenho o autocarro para casa mesmo à porta na Praça dos Leões.

Aproveitei para convidar o meu filho mais novo para o jantar. Farei um rosbife à maneira, vemos o jogo do FCP e ele ainda pode provar a geleia de marmelo, que fiz ontem para comermos com castanhas.


A vida é bela!

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

5 da manhã no campo alegre

Deitei-me as 3 da manhã e acordei há meia hora, como se tivesse dormido a noite inteira. Uma espertina total...

O silêncio é absoluto...um ou outro carro a descer a rua, de resto nem um latido, nem assobios, nem gaivotas, nem máquinas, nada...

Aconteceu-me várias vezes, quando ainda trabalhava nas escola, acordar a meio da noite e trabalhar, preparar uma aula, fazer uma pesquisa na net, escrever algo para os meus manuais...só conseguia adormecer depois, já perto da hora de me levantar e ir para as aulas.

Lembro-me de que, na praia da Luz, de noite, também se consegue ouvir o silêncio .
Passei muitas noites lá sem pregar olho, numa inquietação quase crónica, que se seguia a um dia de praia intensa. Se o mar estava calmo, só se ouvia uma doce melopeia sincopada, mas por vezes, nem isso.  Saía para o jardim e via a manhã a nascer por detrás da fortaleza, sem coragem para me vestir e ir para a praia. Estava frio, mas não me fazia mossa.



Aqui sinto-me bem, não tenho receio do escuro, nem da solidão, parece que me encontro ainda melhor neste sossego nocturno. Só se vêem as árvores do botânico.

A minha filha dorme o sono dos anjos, felizmente.

Parece que a vida parou...mas o relógio continua a andar e daqui a nada é manhã.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O parque

O Porto é conhecido pela sua cinzentude de granito, ruas estreitinhas, pedra escura, envolta em nevoeiro, chuvoso. Tudo isto é belo, romântico...mas cliché.



O Porto tem lugares que são a antítese de tudo isto: céu luminoso, sol radiante, árvores lindíssimas, embora novas, relvados verdes -iguais aos lawns em Inglaterra - a perder de vista, lagos cheios de patos, cisnes, gaivotas, peixes, sem qualquer protecção à volta, tudo integrado na paisagem, a lembrar-me o Jardim Inglês em Munique, que parecia não ter fim.





Hoje passei duas horas no parque da cidade com os meus netos e nora. Momentos magníficos...o meu irmão tem razão, ainda há Paz e Beleza mesmo no século XXI. 

As fotos dizem tudo...venham ao Porto! Esta cidade é um poema e pode-se ser muito feliz aqui.


domingo, 28 de outubro de 2012

Mozart ao Domingo


Oiço o concerto nº 23.  Piano. Um dos meus preferidos.

Volto à minha adolescência em Lisboa, àquela casa enorme, lindíssima, cheia de sol aos Domingos, aos almoços depois da Missa nos Jerónimos, ao fim do almoço na varanda, repleta de buganvília vermelha, a dar para o jardim, aos passeios na relva, às brincadeiras de criança, ao Mata, ao badmington, às ameixieiras em flor, a serenidade e a paz em família.

Um mundo que acabou. Um mundo que só se vê nas séries da TV. Um mundo que só restará na nossa memória, enquanto existirmos.

Uma nostalgia profunda neste Adágio, talvez um dos mais pungentes de Mozart, os sopros em sintonia perfeita com o piano, interpretado hoje por um rapaz novo, um dos galardoados do Prémio Rubinstein.

Este Adágio era ouvido religiosamente pelo meu Pai, talvez com os olhos fechados...como se deve ouvir música.

Salta subitamente o 3º andamento, revolto como a cabeleira do compositor no filme Amadeus, só faltam as suas gargalhadas zombeteiras para eu o ver ao vivo aqui no ecran. Os clarinetes, fagotes, flautas alegram-se ao som das teclas , que parecem querer dançar um foxtrot, cavalgando e terminando em trilos dextros. A orquestra anima-se toda, rejubilando por terem ultrapassado a nostalgia e o medo.

Manhã de sol quente e vento....outubro na despedida....mozartiana sem dúvida...sozinha em casa, gozo a paz deste domingo sem missa, sem mais ninguém, mas religiosa na memória da música.

Ofereço-vos aqui o grande SOKOLOV a tocar o concerto 23 completo. Bem hajas Mozart!

Um bom Domingo para todos.


Mozart

Oiço o concerto nº 23. Um dos meus preferidos.

Lembra-me a minha adolescência naquela casa enorme, lindíssima, cheia de sol aos Domingos, os almoços depois da Missa nos Jerónimos, o fim do almoço na varanda a dar para o jardim, os passeios na relva, as brincadeiras em crainça, o Mata, o badmington, as ameixieiras em flor, a serenidade e a paz em família. Uma nostalgia profunda neste adagio, talvez um dos mais pungentes de Mozart, os sopros em hoia perfeita com o piano, interpretado por uma rapaz novo, um dos galardoados do Prémio Rubinstein.
Salta depois o 3º andamento, revolto como a cabeleira do compositor no filme Amadeus, faltam as suas gargalhadas zombeteiras para eu o ver aqui no ecran. Os clarinetes, fagotes, flautas alegram-se ao som das teclas , que parecem querer dançar um foxtrot, cavalgando e terminando em trilos dextros. A orquestra anima-se toda ela, rejubilando por ter ultrapassado a nostalgia e o medo.
Manhã de sol e vento....mozartiana sem dúvida...

Fica aqui o grande SOKOLOV....
Seize the Day!