O sol começou a brilhar e as gotinhas que repousavam nas folhas começaram a cintilar. Era a hora de ir em safari, não para ver animais ferozes, mas plantas magníficas que já amo como se fossem minhas.
Perdi-me no jardim da FCUP, aqui mesmo ao lado do Botânico, onde só se ouviam os pássaros no seu chilrear constante, dir-se-ia que conhecem Vivaldi e o entoam propositadamente para mim.
Estar assim em uníssono com a beleza faz-me acreditar. E cito Alberto Caeiro, pois com ele me identifico.
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
O Guardador de Rebanhos