Este ano não estou nada imbuída do espírito natalício, embora a Tv nos impinja cem vezes ao dia os anuncios das obras de caridade camufladas pelo consumo garantido; já não posso ver as Leopoldinas, as Barbies, as donas dos jetsets, que gastam balúrdios numa malinha Louis Vuitton, a demagogia de toda esta fantochada; é os arredondamentos, é os bancos alimentares, as missões sorrisos, as ajudas de berço, tudo nesta altura, como se só nesta altura do ano, existissem razões para se pedir a colaboração dos menos pobres, dos que já contam os tostões, dos funcionários publicos sem aumentos, dos trabalhadores e até dos desempregados. Há os ricos que dizem renunciar às prendas e pedem o dinheiro aos irmãos para instituições, o que acho bonito como gesto, mas não como imposição. Muitas vezes as prendas são feitas por nós, não implicam dinheiro, são lembranças, quadros, caixinhas, desenhos feitos pelos netos, nunca na vida gastei fortunas a dar prendas e tenho tres afilhadas sobrinhas, sete irmãos e a minha família nuclear. Lembro-me sempre de vésperas de Natal a acabar tricots e ainda agora os estou a fazer. Porque será que a generosidade para com os pobrezinhos só chega no Natal e se choca brutalmente com o espavento das galas, das festas, das Olás e das Flash?
Está um dia lindo de sol...nem sequer está frio. Fui ali ao Lordelo comprar uma malinha para poder levar dentro do avião da Ryanair, sem ser preciso esperar depois pela bagagem. Havia lá coisas por 10 euros que facilmente se fazem em casa.
Vou a Leeds por tres dias. Significa um pouco de sacrifício, mas é uma prenda de Natal para a minha filha, que não vejo há dois meses. Vou buscá-la, passar com ela tres dias, e inspirar-me nos Kindermarkt da Millenium Square - uma praça enorme cheia de stands, vinho quente- o Gluhwein - e mil e umas peças de artesanato enfeites, bolinhos, Platzchen ( boliachinhas), tortas, troncos de Natal, pinhas e Christmas Carols, música por todo o lado. Lá as ruas enchem-se de gente, não há centros comerciais gigantescos, só galerias lindíssimas ao estilo vitoriano, os jovens riem, cantam, tocam, o ambiente é bom. Todos estão, aparentemente, felizes.
E há neve....pelo caminho todo, irei contemplar a paisagem...de inverno puro e duro. É o meu Natal.
O meu ex-marido tinha um acordeão. Não tocava, tinha aprendido em criança, mas repudiou o instrumento mal o obrigaram a ter lições com professor. O belo acordeão Hohner que a minha sogra pagara por bom preço esteve sempre em nossa casa, encostado a uma parede, dentro duma mala tipo cofre forte de metal, muito feio. Por fora ninguém suspeitaria que lá dentro se encontrava uma bela peça, quase de museu... até que um dia o meu filho mais velho que é incapaz de ver um instrumento sem tentar fazer música com ele, resolveu abrir a caixa de Pandora. O meu ex- ficou um pouco petrificado como se o filho estivesse a cometer um sacrilégio, tirando uma relíquia do seu santuário e pior, atrevendo-se a tocar nas teclas sagradas. O meu filho habituado a tocar piano e flauta no conservatório, nunca tivera a chance de tocar tal instrumento. Sentou-se e começou a tocar. Lembro-me que foi uma sensação estranha, o acordeão lembrava-me Paris, as chansonettes, os meus vinte anos, o tempo de namoro em que a música francesa estava no auge, havia os Charles Aznavours, os Gilbert Bécauds, os Adamos.....Paris tinha sido o local onde nos tínhamos conhecido numa viagem de universitários. O meu filho tinha despoletado em nós os dois recordações, que ele coitado ignorava. Daí até às valsas alemãs foi um pulinho. Por fim todos as festas de anos metiam acordeão e um Parabens a Você improvisado.
Lembrei-me deste episódio porque estou há cerca de uma hora a ouvir um concerto fenomenal - é o termo - no MEZZO. O solista é o acordeonista Richard Galliano, que desde Bach até Piazzola, jazz, modinhas brasileiras, tudo ele toca com a sua banda de violino, violoncelo e contrabaixo. Um verdadeiro hino à música, com magia, salero , ritmo e paixão.
Vai aqui uma pequena nota sobre este músico francês: RICHARD GALLIANO
Musicien compositeur
Né le 12 décembre 1950 à Cannes (France).
Alors que l'accordéon semblait n'avoir jamais vraiment connu de soliste majeur et que, par les connotations qui l'entourent, il paraissait irrémédiablement éloigné du swing, Richard Galliano est parvenu, avec une détermination sans pareille, à imposer l'idée que son instrument était digne de figurer aux côtés des saxophones et trompettes qui sont au coeur de la musique de jazz. Inspiré par son admiration pour son ami Astor Piazzolla, inventeur du « Tango Nuevo », l'accordéoniste a réussi, en outre, avec son « new musette », à revitaliser une tradition bien française qui semblait ne jamais devoir connaître de renouveau. D'une rare polyvalence, Richard Galliano possède ainsi les moyens de s'exprimer avec musicalité dans n'importe quel contexte, du solo (tel le « Paris Concert » au Châtelet, paru en 2009) jusqu'au big band (avec le Brussels Jazz Orchestra en 2008). Désormais reconnu comme un soliste exceptionnel, il continue d'explorer un large éventail de musiques, sans se défaire de ce lyrisme qui irrigue son jeu lorsqu'il enregistre les ballades de « Love Day » avec Gonzalo Rubalcaba, Charlie Haden et Mino Cinelu, ni se départir de cette « French Touch » qui lui permet d'établir avec le trompettiste Wynton Marsalis le trait d'union qui relie Billie Holiday et Edith Piaf.
O sol é-me necessário como pão para a boca....ou melhor ainda mais do que o pão, pois em geral, como pouco pão no dia a dia e a ausência de sol causa-me depressão, fico triste e desinspirada. Felizmente tenho uma sala que recebe sol desde as 10 da manhã até as 5 da tarde no inverno. No verão, como o sol é alto, praticamente só ilumina a sala por duas horas, o que é bom para não aquecer demais. Estes dias de sol são maravilhosos, para mim, é o melhor que o nosso país tem e muitas vezes não sabemos apreciar. Acho que nestes dias, devíamos levar as crianças todas para a praia e cantar um hino ao sol em liberdade. É um crime ter as crianças fechadas numa escola durante oito horas, quando o sol resplandece sobre nós.
Nunca fui capaz de o pintar, mas gosto de algumas pinturas que tentam dar uma imagem do astro-rei.
Eis aqui algumas que encontrei na web:
Bursting sun
Jaison Cianelli
Pollard Willow with Setting Sun
Van Gogh
Para finalizar, vou colocar aqui uma das canções que mais me faz/fez vibrar desde os meus vinte anos quando vi o musical Hair pela primeira vez em Londres. Usei-o muitas vezes nas aulas e os meus alunos ficavam emocionados com as vozes e a letra da canção. Ainda hoje me vêm as lágrimas aos olhos ao ouvi-la.
LET THE SUNSHINE IN
We starve, look at one another, short of breath Walking proudly in our winter coats Wearing smells from laboratories Facing a dying nation of moving paper fantasy Listening for the new told lies With supreme visions of lonely tunes Somewhere, inside something there is a rush of Greatness, who knows what stands in front of Our lives, I fashion my future on films in space Silence tells me secretly Everything Everything Manchester, England, England Manchester, England, England Across the Atlantic Sea And I'm a genius, genius I believe in God And I believe that God believes in Claude That's me, that's me, that's me We starve, look at one another, short of breath Walking proudly in our winter coats Wearing smells from laboratories Facing a dying nation of moving paper fantasy Listening for the new told lies With supreme visions of lonely tunes
Singing our space songs on a spider web sitar Life is around you and in you Except for Timothy Leary, dearie Let the sunshine, let the sunshine in
Não gosto destes dias cinzentos - hoje foi excepção - que acabam às 4 horas e deixam uma indizível tristeza no ar. Acordo de manhã, sem vontade de me levantar, só apetece estar debaixo dos cobertores, sonhar e adiar o mais possível o confronto com o real. A vida é simples, a casa é boa, há aqui paz e não preciso de sair a não ser quando me apetece. Estou com uma enorme relutância em fazer coisas por obrigação, acho que atravesso um momento especialmente anti-social, sem razão. Fora os netos,não me apetece aturar mais ninguém, não me apetece ir a eventos, falar com pessoas de trivialidades.
Hoje aventurei-me pelas galáxias. Este quadro lembra-me o universo...
Galáxias, mutantes nichos No escuro vão do universo Que rodopiam e se harmonizam Formando rimas e versos.
Pó de estrelas cadentes Que raios cosmos aquecem, Que o gelo torna dormente E gases mil arrefecem.
Galáxias, vida e poeira Da estrada plena e divina, Trovas soltas na ladeira, Poema que a Deus fascina.
Galáxias, nicho da gente, Fonte vital, pura, híbrida, Onde o verbo inteligente Escreve diferentes vidas.
Embora já estejamos quase em pleno inverno, despedi-me do outono com uma pintura em relevo em tons dourados acobreados. Misturei o impasto na tinta, de modo a que ficasse grossa e moldei-a com os dedos. Penso que o efeito é muito bonito e parece quase metalizado. Cada vez gosto mais de pintar abstractos. Como diz aqui num livro que mandei vir da Amazon, os abstractos dão para criar o que se quiser, sem limites, o mundo abre-se e a imaginação desenvolve-se.
Embora já estejamos quase em pleno inverno, despedi-me do outono com uma pintura em relevo em tons dourados acobreados. Misturei o impasto na tinta, de modo a que ficasse grossa e moldei-a com os dedos. Penso que o efeito é muito bonitoe parece quase metalizado.