sábado, 24 de novembro de 2012

6 da manhã


Acordei com o vento há uma hora . Tinha-me deitado perto das 3, mas dá-me a sensação de ter dormido a noite inteira. Estou sem sono...

O vento continua a uivar e as árvores lindas que desfruto da janela continuam a resistir para não perderem todo  o seu manto cor de fogo numa noite Agitam-se à luz do candeeiro da rua , há folhas a voar, mas mesmo assim, ainda não se vêem os troncos negros e descarnados do longo inverno que está para vir. Não chove, mas lá fora está escuro de breu.

Ouvem-se alguns carros a descer o Campo Alegre vertiginosamente, como é costume a esta hora do dia.

Estou inquieta,penso na vida, no envelhecimento ( o filme ontem deu-me que pensar) e no que vai acontecer nos próximos vinte anos que me restam...

O meu coordenador da PE, que foi meu estagiário e é muito meu amigo garantiu-me que as filhas com 6 e 2 anos ainda vão estudar por livros meus. Seria milagre ... e eu não pretendo ser nenhum Manoel de Oliveira:))


Para já penso neste meu projecto que está a andar veloz  e satisfatoriamente. Tenho as provas espalhadas pela mesa da sala....É bom estar activa, mesmo quando as agências de rating já nos consideram prontos para o lixo.

Como estas árvores, resistirei enquanto posso...

6 da manhã

Acordei com o vento há uma hora . Tinha-me deitado perto das 3, mas dá-me a sensação de ter dormido a noite inteira. Estou sem sono...

O vento continua a uivar e as árvores lindas que desfruto da janela a resistir para não perderem todo  o seu manto cor de fogo. Agitam-se à luz do candeeiro da rua , há folhas a voar, mas mesmo assim ainda não se vêem os troncos negros e descarnados do longo inverno que está para vir. Não chove, mas lá fora está escuro de breu.

Ouvem-se alguns carros a descer o Campo Alegre vertiginosamente, como é costume a esta hora do dia.

Estou inquieta,penso na vida, no envelhecimento ( o filme ontem deu-me que pensar) e no que vai acontecer nos próximos vinte anos que me restam...

O meu coordenador da PE, que foi meu estagiário e é muito meu amigo garantiu-me que as filhas com 6 e 2 anos ainda vão estudar por livros meus. Seria milagre e eu não pretendo ser nenhum Manoel de Oliveira:))

Para já penso neste meu projecto que está a andar veloz  e satisfatoriamente. Tenho as provas espalhadas pela mesa da sala....

É bom estar activo, mesmo quando já nos consideram prontos para o lixo.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Is Clint done?

Será que Clint Eastwood já "deu o que tinha a dar"? Ou será que sou eu que, agora, ando em maré de reagir mal aos filmes americanos?

Havia uns três filmes que queria ver, mas a minha filha já os tinha visto todos excepto este que se estreou ontem.

Até ao fim esperei que o filme desse uma reviravolta para ser coerente com o título " As voltas que a vida dá", mas essa peripécia que eu esperava do grande realizador e actor que Clint é não chegou.

Ou então sou eu que ando avessa aos happy ends e só quero drama a sério.

Não vou alargar-me sobre a história para não tirar o suspense aos que vão ver o filme - só perdi dois ou três deste realizador excepcional - e sei que serão muitos os que esperam sempre o melhor dele, pois filmes como Hereafter ou Gran Torino ainda estão na nossa memória recente. Mas este filme comparado com as Pontes de Madison CountyMystic River ( para mim o melhor dele) ou Midnight in the Garden, deixa-nos um sabor a dejá vu, que nem o envelhecimento magnificamente interpretado pelo actor consegue apagar.

No fim, a minha filha disse que o filme a tinha posto bem disposta. Não se perdeu tudo.



quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Demagogias

Cada vez ando mais irritada com algumas notícias e alarmismos sensacionalistas que leio nos jornais online e no FB quanto ao número estatístico de pessoas reformadas e inactivas que parecem ser parasitas da sociedade a eliminar.  Faz-me lembrar tempos que será melhor esquecer.

Sou reformada há quatro anos e ainda não parei de trabalhar. E quando falo em trabalhar, não é só trabalho remunerado, é outro tipo de trabalho sem o qual a sociedade não sobrevive. Não gosto de estar aqui a falar do que faço em prol da família ou do país, mas choca-me receber mails demagógicos e manipuladores sobre os idosos inúteis que abundam no país.

A geração dos 40-50 teve tudo, cursos ao seu gosto, entrada nas faculdades com médias de 10, liberdade total; sempre se apoiou nos pais para lhes pagarem as saidas para o estrangeiro, idas as discotecas, carros, etc...para lhes tomarem conta dos filhos e até os ajudarem nos trabalhos em casa.
É degradante ouvir chamar inactivos a pessoas que se dedicam de alma e coração à família e que sempre foram essenciais para a sobrevivência duma sociedade saudável.

Notícias como esta ( excerto) bradam aos céus!

No espaço de uma década, e comparando as estatísticas mais recentes com as do Censo de 2001, aumentou o número de portugueses a receber reformas (de 23,8% em 2001 para 27% em 2011), a receber o rendimento mínimo (0,5% para 1,1%), a receber subsídio de desemprego (2,2% para 3,3%) e a cargo de familiares (17,7% para 18% em 2011). 
Contas feitas, no ano de 2001, 44,2% dos portugueses não geravam riqueza e uma década depois o número já representa quase metade da população (49,4%). Já o número de portugueses que trabalham baixou de 52,6% para 49,9%.

Jornal I 

Já agora mandem todos os inactivos com as suas reformas para uma ilha paradisíaca e confirmem que eles não fazem cá falta nenhuma. Não me importo de ser a primeira a sair.

Evolução


Quando eu comecei namoro, em 1965, as meninas tinham de fazer um enxoval, ter um conjunto de roupas que se consideravam indispensáveis para qualquer casal. Esse enxoval era feito aos poucos, por nós com ajuda da minha Mãe, que cheia de paciência nos ensinava a fazer as bainhas dos lençois, os ajours, os bordados, as rendinhas.
O meu pai abriu-nos uma conta no banco que recebíamos aos 21 anos e que serviria para o nosso enxoval ou casamento ou mesmo para outros desígnios como ir viajar. Gastei algum, indo na minha viagem de curso, estando na Alemanha a tomar conta de crianças e na Áustria a aprender alemão à minha custa. Isso responsabilizou-me bastante, fez-me crescer e aprender a sobreviver sozinha.
Habituada a viver numa família grande, sentia muito a falta dos meus irmãos e mãe, chorava por vezes à noite, na Alemanha onde nem telefone tinha. Escrevia muitas cartas ao meu namorado, mas aqueles dias nunca mais passavam. Não tinha quase dinheiro nenhum, mas passava o tempo a namorar as lojas da Grafen Strasse em Viena...

Penso que hoje os jovens já não sentem tanta necessidade de sair de casa, há muitos que ainda vivem com os pais - não foi o caso dos meus filhos - instalam-se e as mães aceitam essa situação, convencidas de que estão a zelar pelos interesses deles.

Sinto a falta dos meus filhos rapazes - chego a estar semanas sem falar com o mais novo que mora a 15m da minha casa - e pouco vejo o mais velho pois tem uma vida diabólica, mas compreendo que não há obrigações, nem deveres, tudo deve vir do afecto que eles sentem - ou não- por mim. Detestaria que se sentissem na obrigação de me vir visitar ao fim do dia, como o meu ex- fazia com a minha sogra. A independencia é a coisa melhor que há. Enquanto for possível....

Estou a ver um programa Toda a Verdade em que se fala de autoritarismo e a falta dele. É curioso ver como os pais se sentem culpados por não terem educado os filhos com mais obediência e obrigações. Os proprios filhos, franceses,  dizem que os pais culpam sempre os profs quando eles têm má nota, sem querer ver se os filhos estudaram ou não para terem uma boa nota.
Fala-se agora das palmadas físicas, ninguém concorda com elas....eu também não. Preferia dar dois berros a bater nos meus filhos. E não suporto ver mães a bater nos filhos porque nunca a minha mãe me bateu ou foi fisicamente agressiva. Acho insuportável.

Tenho andado a trabalhar muito nos meus livros. Escrevo menos, mas agora vieram-me estas ideias à cabeça...e apeteceu-me falar convosco.

domingo, 18 de novembro de 2012

Serralves - A walk in the park

Os ingleses costumam usar esta expressão para designar uma tarefa muito fácil, que se leva a cabo num abrir e fechar de olhos....

Não é propriamente o que diria dum passeio em Serralves, onde passei umas duas horas nesta linda tarde de sol.

Serralves deixa-me sempre uma sensação ambígua. Acho que os homens não merecem aquela natureza, aquele espaço, aquele museu a céu aberto,  não o valorizam como deveriam.

O jardim é um dos mais belos que jamais vi, embora em Inglaterra tenha visto muitos que pertenciam a mansões senhoriais muito belas. Este jardim tem uma mistura de art nouveau e de parque selvagem que encanta qualquer um.
Desce-se umas escadinhas íngremes e está-se noutro mundo, num underground que poderia figurar no Fantasma da Ópera ( apesar do lago ser a céu aberto) ou numa ópera de Wagner.

Em Sintra, onde passava férias, havia cantinhos assim, húmidos e pedregosos, onde não se via vivalma. Hoje, domingo, não havia ninguém naquela zona do jardim. E não fui mais longe pois o meu joelho já estava a dar sinais de impaciência.

As árvores pareciam ter-se vestido de gala para nos receber. Uma luz penetrante, o céu de um azul gritante, um sol maravilhoso e o chão completamente coberto de folhas de todas as cores e feitios, uma verdadeira cama que os nossos pés não apreciavam devidamente.
A luminosidade era tal que até custava tirar fotografias, mas a tentação era enorme. As folhas tremelejavam com a brisa e iam caindo suavemente, sem um gemido.  Árvores muito antigas, a perder de vista, quase beijando os aviões que iam passando a caminho do aeroporto. Quando e quem terá plantado aquelas árvores? Quantas crianças terão brincado por ali nos tempos em que os animais falavam? :)

Infelizmente há o outro lado de Serralves.
Serralves não merece o restaurante que tem: um buffet péssimo, comida mal amanhada, estilo rancho para grandes famílias, sem jeito nem charme. 16 euros que custam a dar...lembrei-me com saudade das cafeterias dos museus ingleses, onde se come sanduiches com requinte. Aqui a comida e a apresentação são péssimas. Só gostei do pudim de Abade de Priscos que estava uma delícia.


 E depois há as lojas, o bazar de Natal com coisas daquelas que se oferecem quando não há mais ideias e as pessoas têm tudo: compotas caseiras a 6 euros cada frasco, objectos que são absolutamente desnecessários, mas que é "bem" oferecer, panos da loiça com design e signés, cestinhos de mel, caros como picadas de abelha!!
Para que quero eu saber quem é que desenhou o pano da loiça....se raras vezes o uso e se o uso é para sujar? Resultado: tenho uma gaveta com panos da loiça que não ouso pôr a uso e os que tenho são comprados no chinês ou já duram desde o meu enxoval:))).
E depois, há agora a moda dos azeites e vinagres, há que ter azeites de todas as espécies e feitios, rolhas e tampinhas, com cheiros e ervas, muito decorativos, mas que fazem o mesmo efeito que as garrafas mal jeitosas que compro no Pingo Doce. A minha cozinha é enorme e mesmo assim, não teria espaço para expôr tanta preciosidade. Sim, porque estas coisas têm de se expôr antes de se usar!!!






Mas Serralves não é só isto...devia ser arte e cultura. Exposições magníficas que nos fizessem ver e rever. Nada disso. Ao todo só lá vi umas três exposições que me encheram os olhos...o resto esqueci.Uma tristeza....será isto vanguardismo? Serei eu que sou parôla e não aprecio as vestes do Rei?

A melhor exposição é a que renasce todos os anos, a visão mágica e magnífica da natureza em todo o seu esplendor. Abençoado parque...