da minha varanda - clicar) Vivo no Campo Alegre, como já várias vezes mencionei aqui neste blogue. É um local um pouco privilegiado/ snob nalguns aspectos - gente fina é outra coisa, lá dizia a série da RTP - mas com centenas de árvores por km2, apesar de grande parte do Jardim, que outrora pertencia à quinta dos Andresen - avós nórdicos de Sophia e RubenA - ter sido deitado abaixo para a construção da maldita VCI, hoje causadora de dores de cabeça e de acidentes a milhares de utentes que a percorrem todos os dias de casa para o emprego e do emprego para casa. Quando lá se passa, ainda se vêem os muros agora ornamentados com arame farpado que ladeiam o Jardim Botânico, cortado ao meio. Criminoso. Mas o asfalto manda, o automóvel é rei e os condutores são os senhores da guerra. É por isso que não conduzo. Tenho carta e nunca conduzi. Bastou-me ter um acidente em Lisboa para desistir logo.
Onde ia eu? Na maravilha que é este local onde vivo para quem gosta de árvores, de espaço, de ar e de pássaros. Um dia encontrei um colega da minha escola aposentado que andava "aos pássaros" , ou seja a passear e a reconhecer os cantos das aves canoras diversas ao fim da tarde.
Hoje nem sequer saí, mas já tive dois momentos de extase absoluto: um diante da minha lareira acesa pela primeira vez, ouvindo o " Panis Angelicum" no meu IPOD; o segundo, na varanda, contemplando as árvores centenárias da minha rua - ácers, palmeiras, cedros, tílias, yuccas, quencias, camélias já a florir e não sei quantas mais que se avistam daqui. Vivi toda a minha infância e adolescência rodeada de árvores - choupos, tílias, eucaliptos, pinheiros, ameixieiras, pessegueiros, laranjeiras, etc. - numa zona privilegiada de Lisboa e esta visão das árvores em cada estação do ano comove-me e mexe comigo. Lembro-me do restolhar das folhas dos choupos ao fim das tardes de Verão e da grande tília de copa em abóbada que nos tirava a vista do rio das janelas. Também me lembro da glicínea que caía do cima do muro até ao chão, torrente lilaz na Primavera e dourada no Outono ou das buganvílias vermelhas vivas - orgulho do meu Pai - que trepavam pela varanda acima e tinham picos. Isto para não falar das lantanas - arbustos densos - que nos roubavam as bolas feitas de meias com que jogávamos ao "mata"e cheiravam intensamente. Fico nostálgica, quando recordo aquilo a que chamo a minha 1ª incarnação.
Como não dar graças a quem me proporciona/ou tudo isto?
Hoje recordei os pedacinhos que li de " O Mundo à minha Procura I" de Rubem A e os contos de Sophia, onde eles se referem a esta maravilhosa quinta, onde se podia correr livremente e que não tinha fim.
Ficam aqui essas recordações. E as minhas fotografias todas tiradas hoje da minha varanda para o Campo Alegre.
( a casa dos Andresen- clicar)
Oiço a Orchestral Suite No2 de Bach que vos deixo tb aqui para melhor aproveitarem estes momentos.
Bom Domingo. Vão à Foz ver o mar que deve estar bravo....se viverem no Porto, claro!
Hoje esteve cá uma irmã minha que vive em Lisboa. Tinha visto os meus quadros na expo do ESCA - onde ela tem o seu consultório de pediatria - e não se tinha mostrado muito interessada, aparentemente, pelos quadros. Explicou-me que os achava demasiado grandes e, penso eu, um pouco escuros. Hoje mostrei-lhe uma panóplia de pinturas que tenho feito desde o início da actividade. Estão guardados numa pasta e são mais de 40. Ela simpatizou muito com os guaches e escolheu dois. Também gosto deles. São mais suaves do que os acrílicos, embora não tenham brilho. Fiz alguns em dada altura e depois deixei de fazer, mas vou retomar.
Eis os guaches que ela escolheu:
É sempre encorajante ver o interesse que as nossas obras despertam nos outros. Além do mais, é o que mais gosto: oferecer aquilo que fiz com entusiasmo e emoção.
A inauguração foi na sexta , dia 13, com magusto e famílias a confraternizar e a aplaudir. Infelizmente não pude ir, mas hoje tirei fotografias, não só das fotos expostas como do ambiente que se respira em dias de aulas. É um local agradável e as pessoas são simpáticas e prestáveis. Há-as de todas as idades, embora predominem as +50, dada a hora que escolhi.
Mesmo sem lá estar, podem ver que há qualidade em muitos quadros, cada aluno tem um quadro seu. O catálogo traz as fotos das pinturas e os nomes dos alunos, assim como um texto muito sentido dos professores, do qual extraí este parágrafo:
" Nós , como professores, temos imenso orgulho em apresentar estes objectos de emoção e salientar que a cada estação do ano que passa, aumenta a ansiedade para saber o que a próxima nos trará, porque estamos sinceramente satisfeitos com os resultados que cada artista nos apresenta e pela capacidade que observamos em cada um de se satisfazer com a pintura, transformando sonhos em matéria."
Parabéns. E obrigada.
Continuem a navegar na UTOPIA e a deixar-nos sonhar a cores!
Tenho dedicado algumas entradas a pinturas feitas em casa, em geral, produto da minha imaginação, mas sem grande direcção, mais instintivas do que trabalhadas. Estas duas foram produzidas no atelier, com conselhos avulsos dados pelo professor Domingos Loureiro - muito sumários pois ele tem muitos alunos com que se entreter - mas sempre interessantes.
Submeto aqui as pinturas ao vosso critério. Podem criticar livremente. Não há censura e gosto de ler as vossas opiniões.
Tenebroso o dia de hoje no Porto. Chuva torrencial, vento a 100kms à hora, ruas desertas, carros reluzentes a deslizar pelo asfalto, vidros repletos de gotículas, que ao escorrer se transformam em rios de lágrimas pela janela abaixo. Daqui do meu escritório só vejo uma casa, árvores já outonais sacudidas pelo vento e a chuva a cair impiedosa junto ao candeeiro da rua, cujo halo ilumina o chuveiro no azul da penumbra. É artístico, mas não muito confortável.
Passei a tarde a cozinhar e a pintar. Duas coisas que ligam bem porque enquanto se espera que a tinta seque, vai-se descascando as maçãs para o "apple betty" e colocando-as no fundo pyrex, com um pouco de canela e uma lágrima de vinho do Porto. Em seguida dá-se umas pinceladas de acrílico no papel para sugerir umas rochas, azul misturado com castanho e faz-se um fundo que tanto pode ser o mar como as rochas ao longe. É a altura de fazer a mistura com margarina e farinha, tipo areia, com uma leve pitada de açúcar e espalhar essa areia por cima das maçãs. Leva-se ao forno. Pinta-se então a areia do quadro, com beige, amarelo e castanho, deixando manchas de azul pelo meio. Com branco, engrossado com gel fazem-se as ondas - a espuma - com salpicos à volta das rochas ( ou a sugestão delas). Tira-se o pyrex do forno e batem-se umas natas com açucar - muito pouco - para acompanhar o "apple betty". É tudo branco e amarelo, como a areia e a espuma. Olha-se para o quadro, dá-se uns retoques com uma espátula, para simular os salpicos. O papel está mole com a tinta.Deixa-se a secar. Pôe-se a arrefecer o apple betty à janela, sem se molhar.
O ideal é acender uma lareira com pinhas e comer o manjar, bebendo um cházinho de maçã e canela a olhar para as chamas. Mas eis que o telefone toca e me convidam para uma canja e castanhas em casa dos netos. Troco uma pela outra.