É curioso como o voltar duma viagem, mesmo curta, é sempre uma experiência diferente. Olhamos para o que nos é familiar, como se fosse pela primeira vez, reparando em pormenores que nos eram indiferentes até aí ou comparamos as nossas "cenas" com as que vimos durante a viagem, emitindo juizos de valor novos e interessantes.
Hoje desaguei no aeroporto da Terceira às 7.30 da manhã ... foi a noite mais curta dos meus ultimos tempos...só durou seis horas. Embarquei as 11.30 da noite em Boston ( onde tinha estado à espera de embarcar sentada numa "rocking chair" à boa maneira americana!) e daí a 4 horas era nascer do sol - que lindo que é vê-lo do avião sobre os Açores! Em duas horas voei da Terceira para o Porto e assisti, então, a algo completamente novo em pleno aeroporto Sá Carneiro, que está espectacular, deixem passar esta vaidade sobre a minha cidade adoptada.
As malas nunca mais vinham e havia pelo menos uns dez aviões a chegar ao mesmo tempo. As pessoas impacientavam-se, comentando: Maldito subdesenvolvimento. Em Boston, despachámo-nos em 15m.
De repente, começámos a ouvir um grupo de vozes jovens a cantar em unissono, à capella, canções ritmadas e afinadas, como se estivessem num teatro a sério. Era um grupo grande de rapazes e raparigas nos seus vinte anos, que tinham viajado dos Açores para o Porto. A princípio, as pessoas, cansadas da viagem extenuante, ficaram surpresas e levemente aborrecidas. Depois, à medida que eles iam cantando com uma convicção exemplar, todos começaram a bater palmas no fim de cada canção. As malas não vinham , nem por nada, mas todos estavam presos àquela música e alguns , como eu, até cantavam baixinho com eles: " In the jungle, the mighty jungle, the Lion sleeps tonight"...
Fica aqui este testemunho porque há coisa belas na vida.