A Primavera chegou.
E o tempo de céu azul tingiu-se de cinzento desafiando todas as previsões.
Como gosto deste tempo, saí e fui passear ao Botânico, onde não há dúvidas. A Primavera está aí e as plantas sabem-no, sentem-na nas pétalas, nos brotos,nas folhas, nos odores...é lindo ver a natureza a renascer depois do inverno, este muito meigo e seco. A água faz falta, mas as flores do Botânico têm irrigação especial e nascem na mesma.
Resolvi tomar um chá à inglesa no bar japonês - com empregado brasileiro- que abriu no ano passado. Tudo ali é requinte, como se pode ver pela foto. O sossego fantástico, apenas umas tres pessoas e algumas crianças no jardim.Pena não haver exposições, a Casa é tão perfeita para esse fim, está fechada. E Sophia
olha-nos no jardim do labirinto, com os olhos no vago, talvez sonhando com aquela menina que um dia ali brincou, ali escreveu e correu. O tempo passa, os sonhos ficam assim como a poesia.
Poema
A minha vida é o mar o Abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita
Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará
Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento
A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto
Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento
E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada
Sophia de Mello Breyner Andresen
UM CRIME OITOCENTISTA
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