Ontem fui a Lisboa e não levei nada para ler, esqueci-me, apesar de ter 4 livros na mesa de cabeceira neste momento, todos eles bons. Na Gare do oriente, como sempre, fui á feira do Livro, que é convidativa e colorida no meio do cinzento do betão. Estive uma meia hora a namorar os livros e encontrei este, que vim a ler no comboio e que me entusiasmou tanto que não conseguia parar de ler, apesar dos solavancos do pendular e do enjoo. Há muito tempo que não lia nada tão saboroso, com um sentido de humor ( irlandês) tão inteligente e com um tema para mim mais que apelativo, completamente empático. Já tinha lido o primeiro livro do autor , escrito aos 64 anos -
As Cinzas de Angela - de que fizeram um filme excelente.
Este livro é o reverso do primeiro, que ganhou o Prémio Pulitzer e que lançou o autor para a celebridade, narrando a sua infância e adolescência quase traumáticas na Irlanda dos anos 30. Este reporta-se à sua vida uns anos mais tarde, em 1958. Depois de cumprido serviço militar na Alemanha, consegue tirar um curso nos EU e conquistar o lugar com que sempre sonhou: ser professor. Mas a vida e a experiência provam que ser professor não é nada do que ele esperava. Perspicaz, sardónico, sensível e muito comovente.
Vai aqui um aperitivo:
" Irrompem assim pela sala adentro cinco vezes por dia. Cinco turmas, trinta a trinta e cinco alunos em cada turma. Adolescentes? Na Irlanda víamo-los nos filmes americanos, melancólicos, carrancudos, a passearem-se de automóvel e perguntávamos a nós próprios porque estariam melancólicos e carrancudos. Tinham comida, roupa, dinheiro e, mesmo assim, eram maus para os pais. Na Irlanda não havia adolescentes. Andávamos na escola até aos catorze anos. Crescíamos, arranjávamos trabalho, casávamos...alguns anos depois emigrávamos para Inglaterra para trabalhar na construção civil ou para nos alistarmos nos exercitos de Sua Majestade e combater pelo Império."
" Numa sala de aula de um liceu o professor é ao mesmo tempo um sargento instrutor, um rabi, um ombro amigo, um displinador, um cantor, um erudito de baixo nível, um funcionário administrativo, um árbitro, um palhaço, um conselheiro, um controlador de vestimentas, um maestro, um defensor, um filósofo, um colaborador, um dançarino de sapateado, um político, um terapeuta, um louco, um polícia de trânsito, um padre, um pai-mãe-irmão-irmã-tio-tia, um contabilista, um crítico, um psicólogo, o último reduto."
Espectacular.
Leiam e revejam-se se forem professores como eu.
Infelizmente Frank McCourt morreu aos 78 anos e não escreverá mais livros.
O Professor
Colecção: Vidas d´Escritas
Nº na Colecção: 4
Editorial PresençaSinopse: Neste seu terceiro livro de memórias, Frank McCourt, autor de As
Cinzas de Ângela e
Esta É a Minha Terra, escreve uma crónica irreverente e vigorosa sobre os trinta anos durante os quais deu aulas em diversos liceus de Nova Iorque. Com o seu característico humor, ressonâncias líricas e honestidade desarmante, McCourt relembra os desafios e as recompensas com que se deparou no ensino público nova-iorquino, criando assim um relato inspirador e comovente sobre as relações humanas e sobre como aquilo que temos para dar e receber pode fazer a diferença na vida de cada um.