sábado, 28 de abril de 2012

Quality time

Poucas vezes falo dos meus netos. Não dou pormenores sobre as suas vindas e idas, o que não quer dizer que cada minuto das suas visitas não seja aproveitado por mim até ao possível.
Infelizmente, tenho um adversário terrrível em casa : o ecran da TV. Não a tendo em sua casa, logicamente, querem ver os Pandas e Disneys chez moi.

E como é que uma Avó pode aliciar os netos com outras actividades mais interessantes, se nem sequer conduz carro e eles gostam pouco de andar a pé?

Por isto tudo fiquei deliciada quando hoje recebi um email do meu neto mais velho logo de manhã:


Olá,
Hoje de manhã vou ter violino, mas à tarde não tenho nada para fazer.
Se quiseres podemos ir passear. Posso ir ter a tua casa ás 14:30?
Se poder ainda bem. Mudando de assunto, se o jogo for á volta das oito,
a minha mãe deixa-me vêlo. Nesse caso aparecerei à volta das 19:45.
Pensei irmos passear a um sítio diferente ou a um sítio onde tu vás poucas vezes.
 Beiginhos.

Tem oito anos. O plano pareceu-me estupendo para sair desta modorra em que tenho vivido nestes últimos dias. Respondi-lhe que viesse e que ficaria comigo até o jogo acabar, ou seja, até às 9.30. Estivémos a preparar uns quadrinhos com impasto ara pintarmos depois de sairmos.

Resolvi ir à Foz, pois estava uma tarde lindíssima e o sol bem quente. Meu dito, meu feito. Munidos de casacos - nunca se sabe - e boné, livros e máquina fotográfica, lá fomos nós de autocarro até ao mar. Enganei-me no autocarro - apanhei o 207 em vez do 200- mas o resultado foi igual, fomos parar ao mercado da Foz. Daí ao mar é um pulinho. 
Chegámos pelas 2.30, ainda havia muitas deck chairs livres e aí nos instalámos durante umas duas horas. Pelo meio, o rapaz cansou-se de ler o seu livro de aventuras, de modo que foi até às rochas, subiu e desceu , apanhou buzios, contemplou o mar, sempre debaixo dos meus olhos, arrojando-se até ao cimo dos rochedos, mas com segurança. 
Hoje o mar estava chão e nem por isso muito bonito, mas o sol era suficientemente quente. 
Às tantas, disse-me  com um enorme sorriso bastante raro nele, em geral, com um semblante para o sério: É tão bom estar aqui!

Viémos pela Loja dos Chineses para comprar umas sapatilhas pois com o futebol, elas morrem todas as semanas...o que vale é que as há baratas nestas lojas. Já calça 38, o rapaz, impressionante! No Pingo Doce comprámos bifinhos de lombo para o jantar e gelado para o tio, que é guloso. É dia de festa:)). Dia da Avó!

6 da manhã

Sim, são seis.

É muito cedo, mas como não conseguia dormir - e tinha-me deitado perto das 3 - resolvi vir ver a madrugada daqui da minha varanda.

Está um pouco frio - os ingleses diriam chilly - mas o silêncio é quase total a um sábado e só isso já é um milagre nesta rua tão animada durante o dia.

O céu é uma imensa abóbada azul amarelada por entre as árvores que continuam a respirar os ares da
Primavera, cada dia mais frondosas, mais verdejantes e imponentes.



Gaivotas piam em busca de algum alimento que o mar lhes não oferece. Até o mar está em crise, nos tempos que correm, as pobres pousam em chaminés ou candeeiros e contemplam o infinito como eu, em busca duma resposta para a inefável questão : Para quê viver?

Lembrei-me agora daquele soneto de Camões tão belo e tão lancinante, que estudámos na escola e cujo encanto não nos era tão acessível como agora.

Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.



Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de üa outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,
de que uns e outros olhos derivadas
se acrescentaram em grande e largo rio.


Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.


Bom fim de semana!

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Subindo não sei para onde

Há um ano pintei este quadro.

Ofereci-o ao criador da fotografia - Pedro Freire - em cujo blogue tinha encontrado a fotografia e cuja exposição vi no Vivacidade.

Foi um dos quadros que mais gostei e que me deu mais trabalho a pintar....levei dias e dias a acertar com a cor e as formas....os degraus desgastados ...as janelas...


Este quadro podia retratar a minha vida neste momento. Subindo com dificuldade....sem saber ainda para onde porque a luz se esconde e nada é claro. Haverá luz lá em cima?

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Retorno à Paz



Considero-me uma pessoa muito privilegiada. 
Sempre achei que, para além duma infância e adolescência despreocupadas e repletas de benesses que não eram permitidas a todos, a minha vida profissional também foi extremamente rica, com momentos difíceis  e alguns mesmo insuportáveis, mas também com horas de trabalho entusiástico com alunos , colegas e estagiários de quem fiquei amiga para sempre e, last but not least, o reconhecimento público dos manuais escolares, que comecei a fazer em 1982, vai fazer trinta anos em breve.

Hoje sou uma pessoa com memórias excelentes gravadas no meu subconsciente, memórias essas que vêm à tona quando parece que a vida acabou. Há uma semana, sentia-me completamente destruída e angustiada, hoje sou capaz de olhar para o céu ( e não sou a única, como dizem os "Chutos e Pontapés"). Vale a pena viver.

Depois de ter trabalhado durante duas horas no meu novo projecto e de ter conseguido falar sem gastar um centavo com o meu filho,  do aeroporto de Bruxelas e, depois, ainda com a médica portuguesa da minha filha - uma das pessoas mais importantes que encontrei na vida - , resolvi ir comer ao meu oásis privativo: o restaurante japonês do Jardim do Campo Alegre, vulgo, Botânico.

Campo Alegre é um nome lindíssimo, é bom viver num local com um nome assim. Cada vez mais.

Comi uma sopa  de cenoura com gengibre - estou a habituar-me a ir lá quando está sol - passeei pelas áleas floridas do jardim e às tantas, resolvi deitar-me num banco de madeira que faz canto no socalco mais baixo e escondido,  que estava banhado de sol.
Ali estive meia hora, a ouvir os passarinhos a chilrear desalmadamente em uníssono (?) com o background ruidoso da VCI, as nuvens passavam suavemente lá em cima, nada me perturbava, as vozes diluíam-se aqui e ali, o odor intenso da glicínea e das rosas inebriavam-me. Se tivesse morrido naquele instante, teria sido trágico para outros, mas o melhor que se pode desejar em vida.




Aprendi a valorizar a minha vida muito mais desde que a minha filha adoeceu em 2005. A partir daí senti sempre que era essencial eu viver, estar aqui, estar lá, existir. Nunca tinha olhado para mim por esse prisma e nunca fui daquelas pessoas que desejam viver eternamente e que se acham indispensáveis.

Mas agora, acho que a minha vida vale mais, sou mais necessária aos outros que a mim mesma e sinto-me com mais ânsia de viver.

No MEZZO, canta-se a MISSA SOLEMNIS de Beethoven, as notas e as vozes enchem de música esta minha sala vazia de gente.

As nuvens adensam-se lá fora, mas o sol continua a brilhar nas copas das árvores gloriosas e cheias de folhas novas. Daqui a nada chega o meu neto da sua aula de violino e mais tarde o meu filho mais novo para ver o futebol aqui e jantar comigo.

A vida, felizmente,  ainda não acabou.

Gloria in Excelsis Deo!

terça-feira, 24 de abril de 2012

The Lake District- Beatrix Potter



Hoje resolvi ficar por aqui e tentar trabalhar um pouco no meu projecto para o 10º ano. Não me falta inspiração, falta-me coragem, só me apetece estar só , ver alguma coisa bonita, algo de místico que me ajude a encontrar paz.
Escolhi um filme no videoclube da Zon por 1,99 euros. Tem um manancial de fimes que gostava de ver e a tentação é muita. Desta vez acertei na mouche: Beatrix Potter, um filme inglês sobre a criadora dos livros para crianças mais vendidos no mundo. Sempre tive um carinho muito especial pelas suas histórias, já desde o colégio inglês, onde andei. Ainda tenho em casa uma caneca, onde ontem o meu netinho bebeu o sumo, com ilustrações de Peter Rabbit em azul pastel.
Em Outubro de 2004 estive na casa de Beatrix no Lake District, seguramente um dos lugares mais preservados e belos do mundo.

Fui com a minha filha por tres dias, ficámos numa Inn indescritivelmente britanica e sentimo-nos fora de tudo naquele lugar idílico,que pessoas como esta escritora excepcional preservaram para os vindouros a muito custo lutando contra a especulação que desejava tirar partido das beleza naturais para construir resorts turisticos. 


O Lake District é um paraíso, onde nos sentimos away from it all, genuíno, aberto aos amigos de passeios a pé, com lagos, montes , vales e quintas enormes, onde se pode entrar livremente, tudo assinalado para as pessoas não se perderem.
Viveram lá poetas como William Wordsworth, o  poeta  romântico com casa em Windermere.



Estas fotos que lá tirei são sagradas para mim, pois contém memória de dias felizes com a minha filha querida, momentos que quero recordar para sempre.

Poema de Abril

Desanimada que ando nestes dias de imensa incerteza e angústia permanente, pedi à minha Amiga Regina, como quem pede uma prece, que me fizesse um poema, na esperança de nele poder reencontrar a Paz que me tem faltado.

Ela, com a sua simplicidade e afecto naturais, fê-lo. Sem rodeios. A inspiração e a Amizade fazem parte do seu ADN.

Fica aqui o poema com um fundo pintado por mim há poucos dias.
Sendo abstracto, consigo vislumbrar o rio, os montes e até nesgas de sol, que tentam furar a neblina...



                                                                   (clicar)


OBRIGADA , REGINA!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Americanices

Há dias gravei um filme que já há muito queria ver ( nem sei bem porquê já que a série com o mesmo nome não me cativou nem um bocadinho).
Resolvi ir vendo-o à tarde, bastante depois de ter voltado do cinema, pois estava deprimida e não conseguia trabalhar a sério, nem sequer me apeteceu estar com o meu netinho mais novo, apesar dele ser um menino delicioso e com uma maneira de ser amorável. Sentia-me desprovida de qualquer afecto, vazia e ansiosa.

O filme chama-se O Sexo e a Cidade e foi muito badalado. Vi críticas e comentários entusiasmados e não percebi porquê!. É duma estupidez colossal, duma vacuidade total, pimba até dizer basta. Ainda bem que não o fui ver ao cinema, já basta de barretes que nos pregam todos os dias na nossa TV.

Um grupo de mulheres pseudo modernas fazem um pacto de amizade que ultrapassa todos os limites, não respeita casamentos, nem a tradição, nem a individualidade de cada uma. Tudo é partilhado e discutido até ao pormenor, como se fossem obrigadas a revelar os mais íntimos detalhes da sua vida privada ou profissional, numa busca da felicidade pessoal a 4,  que não passa de futilidade, gozo de bens materiais, erotismo e dinheiro.

Parte do filme é passado nos Emiratos Árabes Unidos e sabemos como a riqueza ostentória dos palácios, onde elas passam uma semana escandalosamente luxuosa ( para turista ver) contrasta com a vida dos emigrantes que aí trabalham ou o povo humilde que se sujeita a tudo. Só mostram uma parte, o resto não interessa para nada. Os probleminhas das madamas, os seus ais e uis são especulados até à medula, numa falsa moralidade e desprezo total  pelos sentimentos dos outros.

Uma imagem da América - que poderia ser a do jetset nojento das nossas revistas cor de rosa - pretende ser uma comédia , mas  só suscita desagrado  e repúdio nos tempos que correm.

Nem vi o filme até a fim. Aborreceu-me, não quero saber como é que aquelas mulheres continuam as suas vidas. Não sei, nem me interessa.

E sabem, que mais, já saiu a sequela desta mediocridade. Não a vão ver, por favor!

domingo, 22 de abril de 2012

Um filme para a 3ª idade



Fui ao cinema, para espairecer e pensar noutras coisas. Gosto muito de sessões às 2 da tarde e agora muitos cinemas só têm sessões depois das 4 durante a semana. Dantes todas os filmes que via eram a essa hora, depois das aulas e antes de os meus filhos chegarem do colégio.

O domingo é o dia ideal para ir sossegadamente até ao Arrábida. Está vazio quando entro e cheio quando me venho embora. Pago 3 euros por ser quem sou :) e estou bem acompanhada de senhores e senhoras da minha idade...que não comem pipocas, nem bebem coca-cola:)

Fui ver " O Exótico Hotel Marigold", um filme que estreou esta semana, produzido por ingleses, baseado num livro com o mesmo nome e recheado com um naipe de actores bem conhecidos da velha guarda britânica.
Quem viu séries da BBC conhece-os todos. Brilham Maggie Smith, que voltou à nossa TV na série magnífica Downton Abbey e Judy Dench, actriz de teatro e cinema clássico, que aqui desempenha o papel de narradora ( num blogue, como este!!).
O filme passa-se todo em Jaipur - India - com o seu exotismo, cor local, confusão e charme simultaneamente. As personagens são talvez um pouco clichés, mas pelo facto de terem mais de 60 anos , não me aborrecem tanto como os jovenzinhos estereotipados dos filmes americanos. Tornam-se interessantes, próximos e comoventes, mesmo que um pouco previsíveis.
Para mim valeu a pena, passei duas horas deliciada com a mistura do British English e a algaraviada indiana, os contrastes culturais, os rostos da multidão, onde vejo tantas semelhanças com alguns tios e primos meus de Goa. Até um dos meus netos poderia estar ali naquele filme.
Nunca lá fui, sempre sonhei ir, é um daqueles sonhos que talvez nunca realize. Mas a Índia está nos meus genes, nos meus hábitos, na minha maneira de olhar para o mundo, na minha espiritualidade e ânsia de paz. Foi por isso que me identifiquei com este filme e com a história de sete pessoas da minha idade.

A Índia nunca será para mim "um lugar estranho".