Na primeira semana, sinto sempre uma euforia grande quando chego aqui, parece-me que tudo é novo e diferente, embora seja praticamente tudo igual ao passado. Fico feliz de rever os azulejos da parede comprados pelo meu Pai - já com 45 anos de existência -, o quadro com o lenço da minha Mãe, emoldurado por cima do fogão de sala, as conchas trazidas de África, o binóculo Zeiss velhinho de tanto uso, o barómetro sempre com Bom Tempo, as cadeiras de verga que eu vioxenei de castanho, o cesto da lenha para a lareira, as almofadas indianas que as minhas irmãs trouxeram de Goa, a garrafa de champagne macro que foi aberta no dia em que o meu Pai fez o concurso para professor extraordinário - agregação - as cartas de jogar, velhas e poídas, os livros - sempre os mesmos - que fomos deixando por aqui, etc.etc.ect.
Na segunda semana começo a ficar inquieta e um pouco angustiada....não sei porquê.
Ontem tive uma pequena discussão com o meu filho - que me relembrou outras anteriores com o meu ex, aqui neste local que ele detestava - - e deu-me para chorar...chorar...chorar....à luz das estrelas...
...estive lá fora mais de uma hora e não conseguia parar de chorar....fui para a cama depois de beber um chá de cidreira e adormeci logo.
Felizmente um mail do meu neto lido à 1 da manhã recompôs as coisas.
Hoje já fui marcar o cabeleireiro, pois detesto ver-me com cabelos brancos e arranjar o cabelo talvez me ponha mais bem disposta.
Há alturas aqui em que me dá uma enorme incerteza quanto ao futuro e este dolce farniente leva-me a pensar na vida. Foi sempre assim, cheguei a ter verdadeiras depressões aqui e devem estar latentes no meu subsconsciente.
Mas vão passar, como tudo....daqui a dias voltaremos e estarei outra vez com saudades da Luz, deste encanto, deste mar azul, destas casinhas brancas...
Ontem dei um grande passeio a pé para os lados do Burgau. É uma vila que fica a 5km daqui e a estrada que dantes era desértica , agora está cheia de casinhas, villas, piscininhas, jardins, ateliers de escultura, bares, etc.
É giro ver o desenvolvimento da nossa Rua da Calheta que dantes era pequenina e agora é quase uma avenida.... A vista do topo da rua é esplendorosa, o mar dum azul como não vejo em mais lado nenhum, as pequenas baías encantadoras. Faz-se nudismo por ali, mas tudo isso parece natural, como nos quadros italianos da renascença.