sábado, 17 de outubro de 2009

Matosinhos









Quem conheceu Matosinhos há uns dez anos, não a reconhece hoje.
Mudou completamente, as fábricas de peixe e marisco deram lugar a urbanizações de luxo, blocos de betão com mármore mesmo em frente ao mar, todos seguidos e não muito estéticos. O restaurante Proa, o mais conhecido da zona ficou entalado no meio dos blocos enormes.
Quem lá vive, gente rica em geral, diz que é o paraíso, acordar e ver o oceano Atlântico em frente aos olhos, tomar o pequeno almoço na varanda junto à praia e sobretudo, poder sair de casa pelas 7-8 da noite e dar um passeio a pé à beira do mar, ao pôr do sol.
Invejo-os um pouco pois sempre foi meu sonho ter um estúdio na 1ª linha da frente do mar, mas são demasiado caros e um pouco longe do centro do Porto.
Matosinhos agora tem metro para todo o lado, é uma cidade cheia de atracções como o Festival de Jazz, concertos, bares, restaurantes cinco estrelas e gente nova, muita gente nova. O mercado de peixe é fantástico, vale a pena ir lá só por isso, sem falar dos shoppings, o Norteshopping e o Marshopping, o IKEA... tudo locais aprazíveis para se gastar o que se tem e o que se não tem.



Há tempos fui almoçar ao Edifício Transparente, ao pé do Castelo do Queijo, onde tirei estas fotos todas; é um "mamarracho" que esteve anos à espera de solução , mas que agora já possui algum ambiente , sobretudo de tarde, quando se pode almoçar na esplanadas junto ao Castelo do Queijo, a ver os surfistas que aproveitam a hora de almoço para praticarem. Este ano tem sido um regalo, com tempo quente e ondas altas. Está-se lá bem, a comida é variada - o Real Indiana é muito bom - e a vista é fantástica.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Outono



(Fotos minhas tiradas na Rotunda da Boavista - Novembro 2008 - clicar)


O Outono já chegou - aos arrufos do vento
as folhas num desmaio embalam-se pelo ar... - vão caindo...caindo
uma a uma, em desalento
e uma a uma, lentamente, vão no chão pousar...

O céu perdeu o azul - vestiu-se de cinzento
e envolveu na neblina a luz baça do luar...
- na alameda onde vou, de momento a momento,
há um gemido de folha a cair e a expirar...

O arvoredo transpira as carícias dos ninhos,
e o vento a cirandar na curva das estradas
eleva o folhareu no espaço em redemoinhos...

Há um córrego a levar as folhas secas em bando...
- e à aragem que soluça entre as ramas curvadas,
parece que o arvoredo em coro está chorando!...

Camilo Pessanha

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lisboa e a "paisagem"



Sou de Lisboa, nasci mesmo no centro e lá vivi, trabalhei e casei... até Outubro de 1975, ano em que deixei a capital e que considero ter sido uma viragem total na minha vida.

Não fugi por causa do ano quente, mas porque o meu marido tinha sido colocado na Beira Baixa como juiz e era suposto ir com ele se houvesse vaga na Escola Técnica da Sertã, que só leccionava até ao 5º(9) ano e cujos alunos só tinham Inglês no 3º ciclo. Na altura eu estava "colocada" na Figueira da Foz como professora efectiva, apesar de só ter 29 anos; os tempos eram outros.
Até à véspera de fazer a mudança, não sabia qual seria o meu destino e estava angustiada de deixar o meu marido e ir para 200 kms de distãncia, numa altura em que as estradas eram mais que ruins e não havia quaisquer autoestradas a não ser a de Vila Franca de Xira e a de Lisboa a Algés.
Felizmente as coisas compuseram-se com uma ida ao Min. da Educação, onde uma "luminária" descobriu que eu podia ensinar Português na Sertã, dado que tinha licenciatura ( com tese) e a cadeira de Literatura Portuguesa I, II e III , feitas como opção. Não me fizeram nenhum favor, mas fiquei aliviada por terem descoberto a pólvora.



Estive na Sertã dois anos. A vila era constiuida por uma rua grande, onde ficava a "minha" casa e um largo, onde ficava o Tribunal. A Escola, antigo colégio de freiras erguia-se no topo dum monte, com vista para o vale, onde passava uma ribeira e onde se podia admirar uma pontezinha romana, muito bonita e bem conservada.
A Sertã era o faroeste, embora ficasse no coração do país. Não me deram telefone em casa, enquanto lá estive, as comunicações com Lisboa eram nulas - só por carta à antiga -, o frio era tremendo no inverno e o quadro de electricidade vinha abaixo cada vez que se ligava um aquecedor. Não havia água quente na cozinha, era preciso aquecer água para lavar a loiça e fazer os biberons do meu bébé. Tinha de lhe dar banho no meu quarto, pois na casa de banho a temperatura era de 4º no inverno. As roupas penduradas lá fora viravam blocos de gelo no inverno ( sem exagero) e as poças de água no pátio que tinhamos de atravessar para dar as aulas eram espelhos gelados e escorregadios. Usava botas, casaco maxi, calças e mesmo assim tinha frio, habituada ao calor de Lisboa.



No Verão, era o contrário, mas como a casa tinha um pátio virado a Norte, estava-se lá bem. Com 30 anos aguentava tudo, até gostava do cheiro do campo, das faces vermelhas dos meus alunos depois de andarem kms para vir à escola, dos tricots que se faziam na sala de professores, das castanhas assadas em latas furadas na lareira da casa de uma colega. E do meu bébé rosado, a comer pétalas de rosa e a rir descaradamente por saber que era malandrice.
Lembro-me do meu deslumbramento quando me vieram buscar uma vez para ver a neve num lugar chamado Alto do Cavalo, onde os pinheiros - havia milhares por ali - estavam cobertos de um manto branco e a paz era total.

Lisboa estava a milhas de distância e só soube do 25 de Novembro por acaso, pois a TV a preto e branco com um único canal estava a dar o acontecimento em imagens muito distorcidas.

Acho que nunca estive tão só como na Sertã, embora Chaves , onde vivi noutros dois anos ficasse a 500kms de Lisboa. Nesses anos, cresci, vivi e reflecti sobre o nosso país de contrastes.

Pensei nos privilégios que tinha tido na infância e juventude e na imagem tão errada que os meus pais, escola inglesa, liceu e meio envolvente me tinham incutido do país em que se vivia. A minha vida até então não tinha nada a ver com o país, era uma falsidade total, um reino de privilégios, um paraíso colonial, como aqueles que se viam na India, em séries inglesas, como a "Joia da Coroa".

Nunca mais consegui pensar em Lisboa como dantes - a minha cidade, a maravilha luminosa à beira Tejo, os turistas prósperos, o bairro do Restelo cheio de família cristãs com uma mente limitadíssima e numerosos filhos a dar esmolas aos mais necessitados para aliviar a consciência, as missas dos Jerónimos, os pasteis de Belém quentinhos, a Gulbenkian, a vila de Cascais, a Linha, tudo aquilo parecia irreal ao pé do resto do país que acabei por conhecer bem.

Hoje vivo no Porto e a vida mudou, o país também. No entanto, quando oiço os media, leio os jornais ou falo com a minha família, continuo a ver flashbacks do antigamente, a macrocefalia da capital, o sorvedouro de dinheiro que ela absorve em detrimento de outros locais, a importância que se lhe dá na TV, as entrevistas sobre pormenores que não interessam a 3/4 do país, a euforia dos eventos a toda a hora, o enfatuamento e empolamento de questões de lana caprina que se tornam eventos nacionais. Que seca, diriam os jovens. E é.

Estas eleições trouxeram ao de cima muitas destas minhas memórias....e , embora, não queira discutir política aqui, senti-me na obrigação de exprimir o que sinto. Para memória futura.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Gustavo Dudamel - o génio da Venezuela




Artigo publicado no mês de Abril de 2009:

Aproveitando a passagem pelo nosso país da magnífica Orquestra Sinfónica Juvenil Simón Bolívar que actuou na noite do passado dia 25 de Abril no Coliseu dos Recreios, eis uma excelente oportunidade para aconselhar todos os que visitam este blogue - e apreciam música erudita – a ver ou rever o soberbo documentário da autoria de Enrique Sánchez Lansch, editado em DVD no ano transacto pela Unitel Classica e intitulado The Promise Of Music.

O autor conta-nos a impressionante e quase irreal história do nascimento e do crescimento de uma espantosa orquestra de jovens músicos num país cheio de problemas sociais como é o caso da Venezuela.

Servindo-se do relato e expondo o retrato dos próprios músicos, ficamos a saber como este projecto musical acaba por ter uma importante função social ao tirar crianças da rua, afastando-as muito cedo do mundo da pobreza, da delinquência e da violência, transformando-as em jovens músicos cheios de talento, com motivação para ensaiar e amadurecer musicalmente. Nada disto seria possível, obviamente, sem uma rigorosa política cultural - nem tudo é mau na Venezuela, como se prova com este exemplo – e, sobretudo, sem a participação activa e a direcção musical do sublime maestro Gustavo Dudamel, também ele aproveitado e trabalho ao pormenor até se tornar um dos mais expressivos e brilhantes directores de orquestra da actualidade.

Oiçam a orquestra Simon Bolivar e acreditem que é possível.



Entrevista com Dudamel ( Inglês)

Hora de ponta



A minha sombra



Casa da Música ( desfocada)



Jardim da Cordoaria



Jovens no jardim da Cordoaria

Cheguei agora a casa depois duma viagem de meia hora de autocarro, atravessando a cidade, desde o Covelo até ao Campo Alegre.
Faz-se bem, sobretudo quando se vem sentado a olhar para as ruas e lojas,cartazes a anunciar eventos musicais, pessoas apressadas, carros em filas intermináveis, bébés que chegam dos infantários ( às 7), mulheres a carregar com sacos de plástico do supermercado, jovens que entram no autocarro "sem pedir licença" e transpiram liberdade após mais um dia de escola, meninas com Ipods e decotes generosos - está calor de verão - buzinadelas dos mais impacientes nos semáforos e para lá disso, um céu rosado e carmim, a lembrar que amanhã temos outro dia igual nesta santa terra que Deus abençoou e que não merecemos.



A minha rua ( Campo Alegre) vista da varanda

Chego a casa e cheira bem. A minha filha já fez uma "bolonhesa" que me espera alegremente. É isto ser " velho", hoje em dia....não ter horas para chegar, não ter jantar para fazer, andar a pé com calma do atelier para o osteopata - doi que se farta, mas não mata - , comer uma empada pelo meio, percorrer as ruas sem pressas e apreciar cada momento que passa como se fosse único.



Rotunda da Boavista - Outono

domingo, 11 de outubro de 2009

Englischer Garten - Munique




O Outono este ano parece não querer chegar. Choveu bastante na semana que finda, mas há dois dias que o sol teimou em reinstalar-se e acordou esplendoroso , como se de Verão se tratasse.
Lembro-me que, na Alemanha, por esta altura, costumava visitar o meu filho e família em Munique e o meu deleite era andar a pé no Englischer Garten - o maior parque de cidade da Europa, kms e kms de árvores, caminhos, riachos, que gelam no inverno, cascatas, miradouros, restaurantes ao ar livre e até um anfiteatro , onde no mês de Julho se representam peças pelo famoso Münchener Sommertheater, do qual o meu filho João fez parte durante quatro anos ou mais.Não se pagava entrada, as pessoas iam pelas 7, sentavam-se nos degraus do anfiteatro, abriam as cestas e todos se irmanavam num piquenique gigantesco recheado de iguarias, vinho, bolinhos de bacalhau, presunto, etc. Quando o sol se punha, começava o teatro e após escurecer totalmente, no primeiro intervalo, os espectadores compravam um balão ( tipo S. João) com vela dentro, que ficava aceso até ao fim do espectáculo , enterrado na relva.



Tartuffe de Moliére

É um local paradisíaco em todas as estações do ano, no inverno com a neve e as árvores despidas, fica frio e belo mas um pouco tristonho, sobretudo porque anoitece pelas 3 horas e não se vê quase ninguém. No Verão, pelo contrário, as bicicletas, trotis, bébés e crianças enxameiam as áleas, buzinando alegremente e chilreando como os passarinhos. Lembro-me que quando ia sozinha passear, levava o meu discman - ainda não havia IPods - e deitava-me na relva a olhar para o céu e a ouvir a música - sentia-me num local privilegiado onde só os eleitos têm assento....mas os eleitos eram muitos a picnicar, a dormir, a jogar ao disco, a namoriscar, a estudar e sobretudo a apreciar um dos locais mais belos da sua linda cidade.





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