Hoje passeei um pouco no jardim antes de ir ver a exposição citada.
Tinha de esperar meia hora, de modo que dei uma volta grande e conversei com os jardineiros que estavam numa grande azáfama , a apnhar as folhas (?) das áleas por onde se passa...adoro passar por cima delas e ouvir o
restolhar, mas , como choveu, tornam-se perigosas...o cheiro das plantas é incr´vel depois de dois dias de chuva intensa, é mesmo inebriante e puro. Até custa a acreditar que dum lado e doutro do jardim passam carros, autocarros e camionetas a toda a hora. Não fora o barulho dos mesmos, estaríamos num pequena floresta tropical, um microcosmos,
onde há de tudo, desde os abetos dos países nórdicos, donde provinha a família Andresen até aos cactos do deserto, enormes a lembrar o faroeste. Fotografei alguns troncos de árvores especialmente para o meu amigo Paulo,
que gosta tanto delas...as folhas já estavam todas a mudar de cor e o ambiente era de paz. A minha filha faz todos os dias meditação no Hyde Park de Leeds ou
no common em frente da sua casa. Hoje imbuí-me desse espírito e procurei evadir-me totalmente dos problemas que me rodeiam. Fez-me bem.
Uma exposição que me passaria despercebida não fora estar patente diante dos meus olhos na Casa Andersen, onde, no Domingo, segundo um dos jardineiros com quem conversei, se vai descerrar um busto de Sophia e finalmente colocá-la aqui, no seu local preferido nos tempos de infãncia. Ficará perto do Primo Ruben A, com quem brincava neste jardim magnífico, que hoje fotografei com mais prazer ainda.
Harold Edgerton ( 1903-1990) - Fragments of Time - Uma excelente exposição para quem gosta de fotografia. Harold Edgerton "Fragmentos de Tempo" é um exercício sobre velocidade. Isto é o fotografo tenta congelar uma imagem com um disparo ultra rápido, a fim de captar um momento impossível de percepcionar a olho nu!
É assim que o Porto Cool apresenta uma das exposições mais interessantes que vi este ano, incluindo as de Londres , e à qual voltarei com mais tempo e calma.
A fotografias de Edgerton atraem-nos pelo movimento que nelas se detecta. São filmes imóveis, momentos nunca vistos a olho nú,
mas conseguidos pelo fotógrafo ( Professor de Engenharia Electrotécnica no MIT) através dos seus múltiplos inventos e experiências destinados a aperfeiçoar a técnica fotográfica para fins científicos
e não só. Desde o bola de ténis que sai da raquete e se movimenta em múltiplas fases até ao chão, ao salpico de leite que se abre em corola, mal aterra...tudo é imortalizado por este cientista-fotógrafo, de quem fiquei fã.
Andei por ali, à vontade, tirei todas as fotos que quis - não ficaram muito boas pois o vidro reflecte o que se passa á volta...admirei a vista do jardim
em pleno Outono e do mar das janelas do 2ºandar da casa( aqui tão perto).
Há um cântico de Natal alemão que me comove. Começa assim: Alle Jahre wieder : Acontece assim todos os anos...
Gostaríamos que acontecesse...mas nem sempre é possível.
Este ano foi. Lá voltei a fazer geleia de marmelo,daquela cor lindíssima
que nenhuma paleta pode igualar. Os boiões na janela ao sol recordam-me tantos e tantos outonos na infância, na adolescência, nas visitas a Lisboa à minha Mãe. Ela adorava fazer doces, compotas, de tudo quanto há ( ai, as de figo,
que pareciam doces de ovos!!); orgulhava-se muito desse seu trabalho.
Passaram-se anos sem compotas de espécie nenhuma....não as apreciava assim tanto que valesse a pena dar-me ao trabalho de descascar, cozer, ver o ponto, meter em frascos e comer. Ia ao Froiz ou ao Pingo Doce e trazia um frasco que durava meses.
Há dois anos recomecei a fazer a geleia. É a única compota que faço. Como-a com panquecas, Apfelstrudel ou castanhas assadas. O meu filho mais novo adora-as. Ainda bem que consegui.
Basta sair e andar uns dois kms para chegar à zona mais cosmopolita do Porto, a Rotunda da Boavista, com as suas árvores centenárias e belas,
que, nesta altura, ostentam um manto dourado numa das áreas mais poluídas do centro. Perguntamo-nos como é que sobreviveram a tanto despautério, às lufadas de dióxido de carbono que os milhares de automóveis deixam escapar a toda a hora. Aqueles troncos e aquelas raízes devem estar em pior estado do que os pulmões de fumadores de longa data. Mas todos os anos, elas renascem, murcham e estiolam para renascer outra vez... há mais de cem anos. Hoje andei por lá e pela Rua Júlio Diniz,
uma das artérias que , em tempos áureos, se orgulhava de ter as lojas mais chiques da cidade, sapatarias finas, confeitarias, cafés, etc. Hoje quase só se vêem bancos ou lojas de chineses, e umas tantas - bastantes - estão fechadas ou à venda. Faz dó. O mesmo acontece no shopping Cidade do Porto,
onde vou sempre com gosto; loja sim, loja não, vão fechando, abrem outras de quinquilharia, bijuteria barata, sapatarias desportivas e pouco mais. Felizmente a Livraria Leitura mantém-se estável com o café Arcádia, onde se podem ainda saborear os chocolates mais conhecidos doPorto, antes dos Ferrero Rocher e os Milka terem invadido os supermercados. O meu Pai levava sempre bonbons da Arcádia
quando vinha ao Porto, cidade de que ele gostava muito e onde comprava grande parte da sua roupa. Pergunto-me o que vai ser destes locais carismáticos, quando a recessão der cabo de tudo....e o que vai ser de nós, que nos habituámos a passar por ali e a sentir o calor das coisas antigas, menos comerciais, familiares e próprias das gentes que aqui vivem.
Vai ser como o bacalhau...
já ninguém se lembra da maravilha que era comer uma posta assada na brasa com cebola e alho, antes de acabarem com o nosso fiel amigo. Já nem sei a que sabe o bacalhau, parece tudo menos aquilo que era...
Adorar o mar e viver a 10-20m dele é sorte demais.
Ninguém em Lx percebe a maravilha que é viver no Porto, julgam estar perto do mar e, afinal, levam pelo menos uma hora a chegar ao Guincho, o verdadeiro paraíso por uma estrada pejada de gente, com engarrafamentos,poluição, acidentes, etc. Só de comboio se pode chegar a Cascais, sem grande problema. E Cascais não é mar a sério. Lembro-me que os meus Pais falavam da "volta dos tristes", referindo-se ao passeio na marginal de Domingo. Realmente não era nada do que se diz nos folhetos.
Aqui - e não me canso de o dizer - decido de pé para a mão o que vou fazer, pego num livrinho, na máquina fotográfica , óculos escuros, Ipod e aí estou eu na paragem, onde o autocarro - o 200 ou o 204 - não demora mais do que 10m a vir. Daí à Foz são 5 a 10m, nunca há trânsito aquela hora. Há quem vá a correr - o meu filho, por exemplo.
Desço a rua do Farol - nome sugestivo e estou com o mar todo à minha
frente...barulhento, ondas altas, cheiro característico,gaivotas altaneiras, um ou outro turista mais afoito, cadeiras super-confortáveis, sem música nos altifalantes, maravilha.
Por 7 euros, almoço uma omelete de cebola e salsa, mal passada como gosto com salada e bebo uma água com gaz. Posso estar ali toda a tarde na varanda, nem sequer pago logo. Se está fresco, passo para dentro do café, onde uns pufs maravilhosos esperam por mim com a mesma vista e uma mesa cheia de revistas actuais.
Em qualquer outro país pagaria uma fortuna para ter estes privilégios - só um café em Inglaterra custa 3 libras = 4 euros, no Brasil as bebidas eram o dobro.
São horas de paz, de sossego e beleza...não levo telemóvel ou se o tenho não o oiço, pois estou a ouvir música clássica, hoje as Orchestral Suites de Bach, que vou ouvir no dia 11 na Casa da Música com o meu neto e que são emocionantes.
Quando venho para casa, passo pela confeitaria a comprar pão, pelo chinês a ver as últimas novidades (!), compro telas ou objectos domésticos necessários, tudo pelo preço da chuva.
E ainda há quem se queixe tanto de que o Porto não é um bom sítio para se viver...não o trocava por mais lugar nenhum, a não ser a Inglaterra ( por causa das pessoas, não das cidades).
Detesto os dias de chuva, depois da hora mudar. De repente chega o inverno, sem necessidade nenhuma....bastava não mudar a hora para que todos tivéssemos mais horas de luz na nossa vida, sobretudo os mais velhos que se levantam mais tarde. Não custa muito levantar cedo às escuras, porque é sempre um sacrifício e os olhos têm tanto sono que nem notam se há luz do dia, se não. Em contrapartida, vão-se buscar as crianças aos colegios e infantários já de noite e os pobrezinhos já nem podem correr no pátio, ir até ao Botânico ou ao Palácio, vão directos para casa, às 5 horas. E aí massacram os pais...ou vêem TV.
Mudando de assunto:
Pintei este quadro. Comecei-o há dias e acabei-o hoje. Gosto dele ao vivo, não tanto em fotografia.
Penso que é da luz...pouca demais.
Anteontem o meu neto veio dormir a minha casa e tê-lo aconchegadinho na cama, adormecido e feliz é um dos prazeres que mais me conforta. Viver só é bom, habituei-me rapidamente à liberdade, mas poder escolher a companhia é um luxo.
Não gosto de obrigações, adoro propor, sugerir e acolher quem e quando me apetece. Não dou festas, nem sequer jantares de amigos, pouco cozinho para a família - embora cozinhe bem, na minha modesta opinião - vou a casa dos meus filhos para o Natal e aniversários ou ao restaurante para festejar algum êxito dos meus.Mas de vez em quando, adoro receber em minha casa as pessoas de quem gosto.
Estar com o meu neto mais velho é o melhor de tudo. Ele sente um enorme carinho por mim, que não é igual ao dos irmãos mais novos, ainda demasiado dependentes dos Pais. Sempre houve grande cumplicidade entre nós, desde que esteve no infantário da minha Escola e eu o trazia para minha casa aos 2 anos. Era já nessa altura, uma criança inteligente e doce, adormecia na cadeirinha quando íamos até à Boavista,
brincava por ali, limpava os bancos cheios de pó com lencinhos de papel, corria atrás dos pombos, dava-lhes pãozinho, eu sentia-me mais nova....e era efectivamente mais jovem.
Ontem, depois de ver um pouco de TV, fomos para o Jardim Botânico, por escolha dele. Cada folha, cada árvore, cada flor que vemos juntos, cada momento
vivido ali se torna belo. Sou uma privilegiada.Aquelas pedras tem a nossa impressão digital.
Tirei fotos diferentes...já outonais
...com as cores desta estação do ano, de que tanto gosto. É bom viver.