Oiço-os no MEZZO. 3º Concerto de Beethoven. Êxtase . Emoção. Harmonia. Sensibilidade. Sintonia perfeita.
Tantas vezes ouvi este concerto na minha casa da infãncia ou em casa dos meus avós, junto ao rádio sempre sintonizado para a Emissora 2, que o meu Avô adorava à falta de um gira-discos ou grafonola. Nunca os teve, embora fosse um amante incondicional dos grandes clássicos e românticos e das óperas italianas. Comecei a ir a concertos no Coliseu aos dez anos e era já com emoção que me deixava impregnar deste amor à música, sem a qual a minha vida seria tão mais cinzenta e ausente.
Os dedos percorrem as teclas e adivinho o som que vai sair, prevejo a tonalidade sonora, antecipo a pausa, deslizo com as escalas, embalo-me na orquestra e sob a batuta do maestro.
O ambiente é divinal. Brendel está velhinho,
os seus óculos tremem assim como o seu cabelo branco, mas os dedos não falham um trilo, um bemol ou sustenido. Tocar assim deve encher uma vida. E enriquecer a dos outros.
O Allegro salta como um adolescente aventureiro depois do adágio melancólico e pausado. Tudo vibra, os músicos seguem as notas que sabem de cor, tantas vezes já tocaram este concerto.
Brendel toca a cadenza, a orquestra espera ansiosa pelo remate final. Os sopros dão um ar da sua graça ou não fosse esta obra de Beethoven. Suspense , os violoncelos criam a expectativa em tom plangente, logo seguidos pelos violinos. Pizzicatos em surdina preparam a apoteose final.Abbado sorri, as trompetes sorriem também. E os clarinetes e as trompas....acompanham o sorriso dos dedos de Brendel. Perfeição no écran.
Fica aqui um video (com outros intérpretes) para comprovarem esta maravilha. Se Beethoven não tivesse vivido, o mundo da música seria menos surpreendente e nós muito mais pobres.
Hesitei bastante em deslocar-me à Baixa hoje porque está calor e ando cansada, sem saber bem porquê. O calor assusta-me na cidade, adoro o sol junto ao mar, mas a poluição, os escapes, a sujidade e a poeira são-me hostis, sinto-me mal e só quero voltar para casa.
Mas fui, por duas horas, só passeei na Sá da Bandeira e vi umas montras em lojas já com saldos há meses e que nada têm para oferecer. No meio delas uma daquelas lojas de perfumaria, cheias de produtos chiques, que nunca comprei, nem conheço, nem uso. Impressiona-me como é que sobrevivem com frascos e frasquinhos, bisnagas e bisnaguinhas, aparentemente sem clientes, limpas, lindas e vazias...ao passar na Casa da Sorte, joguei no Euromilhões, será que é hoje que vou ganhar???
Depois o "abismo" das cores...ou seja a minha loja preferida da Baixa do Porto: M.Sousa Ribeiro, o mundo das artes em dois pisos ,
qual deles mais aliciante...adorava trabalhar numa loja destas, mesmo sem ganhar nada, estar lá umas horas a ver o movimento, os materiais, saber mais sobre o seu uso, mas nunca gasto mais do que uma meia hora lá dentro. Têm uma mesa onde nos podemos sentar e experimentar materiais...mas nunca me sentei. A colecção de telas é enorme, há-as de todos os feitios ( até redondas) e de materiais. Tintas acrílicas de marcas desconhecidas, pasteis de óleo , caixas e caixinhas, penso que qualquer pessoa que fosse criada no meio destes materiais, ficava artista.
Comprei 3 telas de MDF - 50x45 - são quase quadradas e cabem muito bem nas molduras do IKEA, como já experimentei nos quadros da exposição do Vivacidade, que "abrilhantam" agora a sala do meu filho por cima do piano.
Vim de autocarro com o saco bem pesado, mas havia lugar sentado e gosto de me misturar com o povo, sentir-me mais uma na multidão, ajudar quem tropeça ou se segura mal, sair aqui no Campo Alegre e respirar...a Primavera chegou, as árvores estão cheia de brotos e , embora não chova, parece que o ar de mar purifica tudo.
Agora em casa, oiço o Mezzo, excertos magníficos, como esta peça de Massenet aqui tocada pelo célebre flautista Zamfir: