sexta-feira, 27 de agosto de 2010

A Baixa e a rentrée



Gosto muito de ir à Baixa aqui do Porto no Outono e no Natal.
Como gostava de ir à de Lisboa, antes do incêndio do Chiado, nos tempos em que a cerimónia das compras para a rentrée durava uma tarde inteira ou mais. Íamos com a minha Mãe em Outubro para comprar os cadernos e livros na Papelaria Fernandes da Rua do Ouro, junto ao elevador de S.Justa e ao Grandella. O Sr. Barrelas era o "nosso" empregado - penso que o meu Pai era medico dos filhos ou coisa que o valha - tratava-nos por tu e brincava connosco, enquanto aviava canetas, lápis, cadernos, compassos, papel, etc. um nunca acabar de coisas que a Mãe com uma paciência de santa escolhia para cada uma de nós. Éramos cinco irmãs no liceu ao mesmo tempo, do 1º ao 7º ano. Havia uma professora de História que nos chamava a "dinastia". Não havia hipermercados nesse tempo, nem podíamos tirar as coisas que queríamos das prateleiras, tínhamos de esperar que o senhor abrisse as caixinhas e então fossem escolhidos todos os itens de que precisávamos pela lista do liceu. Só faltava ao Sr. Barrelas aguçar os nossos lápis para tudo ficar impecável. Os materiais passavam de umas para as outras e às vezes faltavam, nunca tivémos compassos Kern ou lápis Carand'Ache, que eram o meu sonho. Os livros que já tinham sido do nosso irmão mais velho eram sempre herdados de ano para ano. Lembro-me de que havia comentários e bonecos escritos na margem por todos os membros da família, bigodes nas fotos dos reis, colares nas rainhas...e alguém da família especialmente inspirado tinha desenhado um hula-hoop à volta da cintura pouco esbelta do Rei Sol, Luis XIV de França, que no retrato mostrava as suas pernocas bem modeladas num pose assez chocante! Felizmente os profs nunca pediam para ver os nossos livros, nem mostravam os deles, cheios de cábulas! Uma prof de inglês trazia a tradução de todos os textos em letra miudinha por cima dos mesmos e quando éramos chamados, ela seguia pela sua cábula a nossa tradução a ver se estava conforme.:))

Mais tarde os livros dos meus filhos do Colégio Alemão eram encomendados em Julho na Livroluz, livraria de Cedofeita, e só vinham em Setembro. Eram lindos e carissimos, o meu ex- suspirava todos os anos, mas lá os pagava com dificuldade. Em casa eu forrava-os todos a plastico transparente para que não se estragassem, levava dois serões a fazê-lo. Depois, então, ia com os meninos ao Continente para comprarmos os restantes materiais e era tudo uma tentação, havia estantes recheadas que nunca mais acabavam, capas, cadernos pretos que os meus filhos depois decoravam a seu modo já com a ajuda do computador, lápis de cor, canetas de feltro de 60 cores diferentes, plasticos para meter fotocópias, um sem numero de coisas úteis e relativamente baratas. Aquelas idas ficaram-nos na memória, os meus filhos nunca mais as esqueceram, momentos excitantes em cada Setembro, todos os anos.

Hoje fui com a minha filha à Baixa. Almoçámos no Via Catarina,um dos mais belos shoppings que conheço, na Praça da Alimentação, que é toda decorada com casas típicas do Porto. Depois andámos a ver laptops para ela pelas várias lojas de electrodomesticos e acabámos na FNAC a tomar café. Não comprámos nada, a não ser um engenho para o meu IPOD, plastifiquei o meu cartão da ADSE na rua, vimos muitas coisas, mas limitámo-nos a passear, não me apetecia comprar roupas, nem materiais para pintura e ao fim de um bocado, já estava derreada, com dores nos jelhos e com vontade de descansar. Ainda viémos no autocarro 200 que leva algum tempo a dar a volta a cidade.
Pensei com alguma tristeza que os meus netos já não passam por estas experiências, já têm quase tudo em casa e é só meter na mochila. Não há grande emoção neste momento. Gostam mais da escola do que nós e reencontrar os amigos é para eles um momento óptimo. As relações sociais importam-lhes mais do que os objectos, ainda bem.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

As árvores resistem mais do que os homens



Anne Frank e sua irmã Margot em Frankfurt

Li a notícia de que o velho castanheiro que Anne Frank via pela janela do anexo e que é referido no seu Diário, veio hoje abaixo depois dum grande temporal em Amsterdam.

Notícia do PUBLICO:


Partiu-se o castanheiro centenário da casa de Anne Frank

Tinha 150 anos e foi um consolo para a adolescente judia que se escondeu durante dois anos num sótão de Amesterdão. Uma tempestade deitou-o abaixo
Era grande e imponente e foi um consolo para a jovem judia Anne Frank, quando ela viveu durante mais de dois anos escondida dos nazis num sótão de Amesterdão, na Segunda Guerra Mundial. Ontem, o castanheiro com mais de 150 anos que ainda estava à entrada da Casa-Museu Anne Frank quebrou-se como um pau de fósforo, sob a força de uma tempestade de vento e chuva.

"Partiu-se completamente, a cerca de um metro do chão", disse um porta-voz da Casa de Anne Frank - que, na altura, estava cheia de turistas, diz a agência Reuters.
O castanheiro era um dos poucos vestígios da natureza que eram visíveis à adolescente judia enquanto ela esteve escondida naquele sótão. Ela fala da árvore no seu diário, que se tornou num best-seller mundial, depois da sua morte, num campo de concentração nazi, em 1945.
"O nosso castanheiro está cheio de flor. Está coberto de folhas e ainda mais bonito do que no ano passado", escreveu ela em Maio de 1944, pouco antes de ser denunciada aos nazis.
A árvore tinha sido atacada por um fungo e, em 2007, esteve para ser derrubada, pois temia-se que pudesse cair e tornar-se um perigo para o milhão de visitantes que o museu de Amesterdão recebe todos os anos.Mas os responsáveis do museu e especialistas em conservação da natureza desenvolveram um método para segurar o castanheiro com uma grade de aço. A árvore poderia ainda viver algumas dezenas de anos, estimou uma fundação holandesa.Foram retirados alguns caules do castanheiro que foram plantados num parque de Amesterdão e noutras cidades, para além da Holanda, para fazer castanheiros semelhantes, usando a técnica da germinação por estacas. Mas não há planos para plantar um castanheiro semelhante no mesmo local, ou preservar os restos da árvore, disse à Reuters Arnold Heertje, membro do grupo Support Anne Frank Tree.
"Temos de nos render aos factos. A árvore caiu. Será cortada e vai desaparecer. A intenção não era mantê-la viva para sempre. Viveu 150 anos, agora acabou-se", disse Heertje.


É pena. Porque essa árvore representou momentos efémeros mas belos no cativeiro de uma das mais genuínas e radiosas adolescentes do seculo XX.

domingo, 22 de agosto de 2010

A flora da ilha



Nos dias em que estive na Madeira, deleitei-me a admirar e a fotografar as plantas que por todo o lado medram na ilha.Já na Luz fico extasiada a olhar para a profusão de flores que crescem no Algarve sem pedir licença, desde que tenham água, sem a qual nada vinga. A diversidade de vegetação e de flores é tal, que se torna mesmo impossível saber as espécies, distingui-las, identificar as que são naturais ou colocadas lá pela mão humana. Tudo se confunde e harmoniza.


Hoje vi um programa na TVI 24 sobre percursos em Portugal e falavam da floresta laurissilva madeirense, património da humanidade, com séculos de florescência e única no mundo.
Infelizmente, parte dela ardeu este mês, por mão criminosa ou incúria. Faz dó e revolta.Não se pode substituir o que levou séculos a desenvolver-se. O betão acaba por substituir o ser vivo, numa zona que devia ser sagrada.