sábado, 30 de julho de 2011

Epílogo



Chegámos ao fim das férias...penso que escrevi umas linhas aqui todos os dias, abstraí-me dos verdadeiros propósitos deste blogue e embarquei numa de diário de adolescente com necessidade de expressar os meus sentimentos, as reflexões que este lugar me suscita, as memórias cravadas nas pedras que nos rodeiam, o eterno retorno ao mar tão amplo e azul que até fere o olhar...

Hoje foi mais um dia... triste porque sei que só para o ano voltarei. Nadei durante horas com o meu neto e agora sofro as consequências...dores nas costas e no corpo todo. Saudades antecipadas deste menino e do seu olhar límpido, as suas longas pestanas,o seu ar grave, as suas gargalhadas, o seu "Vóvó" único. Estar com ele foi a melhor coisa deste verão.

Também fiz hoje as lides da casa, o "lavar dos cestos", que custa bastante, mesmo a olhar para o mar.

À noite fomos matar saudades do Bar Havana, com as suas waffles, English breakfasts, música ao vivo e até jogos de futebol...ambiente único nesta praia quase britânica.

As gaivotas reuniam-se à beira-mar , como que a comemorar uma qualquer festividade...ou a despedir-se do meu verão.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

E depois do sueste veio o oeste....e por fim a nortada

Pois foi.

O sueste assustou-se e não durou mais que um dia...com pena minha, que me estava a habituar às noites sem vento, ar cálido, cheiro a mar e barulho das ondas. Hoje parece que nada aconteceu.
De manhã estava sombrio, ameaçava chuva, o céu cinzento de chumbo e aquele je ne sais quoi de fim de férias, nostalgia, a pedir cházinho com scones...
Fui almoçar à praia com o meu neto e filha. Estava-se bem...depois fomos a pé pela praia, mesmo na orla do mar em direcção à Rocha Negra, até onde se podia andar em seco. Estava maré cheia, é impossível passar pelas pedras por baixo das falésias...alem de se poder lá ficar retido até a maré baixar. Mais uma vez me curvei perante a maravilha geológica que está ali escondida e que muitas pessoas desconhecem...

Também observei os turistas que iam nos sofás amarrados aos barcos para mais uma corridinha com ais e uis e splashs divertidos, crianças loiras a andar de baloiço, figurinhas de filme inglês de outros tempos. O meu neto apanhou mais umas conchinhas e pedras para a sua colecção e ansiava por tomar banho, mas não o deixei , dado que tinha acabado de almoçar.
À tarde, o banho estava maravilhoso,já não havia grandes ondas, mas o meu neto andou maluco a fazer carrerinhas com a sua prancha durante uma hora.É inesgotável a energia duma criança, a alegria de conseguir o que é mais difícil, o divertimento de conquistar o mar e o prazer de estar ali comigo (a assistir em flashback à minha própria infância em Carcavelos, usando pneus como boias e deixando-me levar pelas ondas).


As férias estão quase a acabar...hoje resolvi pintar a prainha...

vista por mim...em guache.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

E lá veio o sueste...como eu previa:)



O sueste é a fúria do mar aqui no sul...
O vento vira subitamente de norte para sul ou sueste...ontem já se supeitava pelo cheiro da maresia pouco habitual nestas paragens...e as ondas aparecem do nada com um estrepitar sonoro nas rochas. Há um ambiente diferente no ar, vento quente do norte de áfrica, ondas grandes, furibundas. Dura tres dias e depois vai embora com a chegada triunfal da nortada fresca, que já é benvinda.
Gosto muito dos suestes aqui para variar do mar flat, transparente e límpido como o de ontem. Os banhos são fantásticos, com os fura- ondas deliciados, as pranchas a rolarem até à areia, os gritinhos histéricos dos miudos ou das ladies, as gargalhadas dos "putos", entusiasmados com as aventuras maritimas.Hoje estavam dois parzinhos ingleses em roupa interior, com certeza desceram aqui e resolveram tomar banho sem fatos de banho apropriados....elas estavam mesmo com fio dental e soutien às cavalitas dos mancebos em boxers.:))). Tudo se vê aqui!

De manhã dedicámo-nos à pintura de que resultaram tres quadrinhos em guache - faute de mieux -. Aqui vão eles com a assinatura dos artistas.

Tempo de estio


Finalmente chegou o calor a sério...as rochas escaldam, a água está morna, o ar é quente e quase abafante. Nada como estar na água nestes dias assim. É repousante, é lindo, é libertador.
Uma vez perguntei a uma amiga que já faleceu em que estilo gostava mais de nadar - ela nadava bem - e respondeu-me candidamente: Boiar. Como a compreendo. Olhar o céu, flutuando no cimo da água, deixar-se levar pela corrente ou pelas ondinhas, é um prazer enorme.
A prainha está cheia de miudos loiros, tipo nórdico e hoje estive a observá-los. Falam baixo, brincam com muito juizo, sem discussões, nem choros. Constroem coisa giras, castelos, carros, fossos por onde entra a água. Divertem-se no melhor sítio do mundo para o fazer.
A praia é um espaço imenso, o único lugar do mundo onde se pode fazer tudo o que se quer, desde que não se moleste outros. Ninguém se preocupa ao ver-me de óculos e tubo a ver os peixes nas rochas, a minha filha e o sobrinho a jogarem ping-pong na água, usando duas pranchas coladas, a minha vizinha com 71 anos a dar braçadas - 150 - freneticamente ao fim da tarde, todos sorriem ao ver um pai desvelado a dar banho à sua filhinha de meses, com touquinha e braçadeiras...há parzinhos que se sentam as cavalitas e mergulham, miudos com seringas gigantes a metralhar os outros com água, um homem com um lenço enrolado na cabeça, sentado numa cadeira, quase fauteil, a mandar vir com o filho por causa duns calções comprados no Corte Inglês, uma senhora a falar ao telemóvel ininterruptamente como se estivesse no escritório e eu a observar tudo isto deliciada...é melhor que um filme, é a vida real e é bom enquanto durar...

Ontem passei pela Igreja da Luz, tão falada na altura em que desapareceu a Maddie. Estava aberta, iluminada, pareceu-me um local místico...há coisas muito bonitas em Portugal.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Poças de vida



Hoje gozei uma das mais belas manhas da temporada. O sol ferve, a água está a 22º, tudo está bem, as pessoas felizes, crianças por todo o lado, pais contentes e à volta um mundo vivo que nos rodeia, que dura há séculos, que já assistiu a milhoes de veraneantes passeando por estas rochas, já ouviu mihares de conversas, namoros, flirts de verão, escapadelas à noite, banhos das 24h, sorrisos de adolescentes, brigas de jovens competitivos, avós enlevados, pescadores de água doce, tarzans a atirarem-se em mergulho, concursos de natação, jangadas feitas por nós, sestas as 4 da tarde ...etc.etc.etc.
Hoje vi muitos peixes, bem grandes, na ponta que liga a prainha com a praia grande. Levei os óculos e deleitei-me a olhar para o fundo do mar, onde a fauna e flora são inimagináveis. Quem me dera ter uma máquina daquelas que podem ir para dentro de água, uma amiga minha do Woophy tem uma e é mergulhadora de modo que as suas fotos são todas originais.

Como não podia dedicar-me a fotografia sub-aquática, resolvi explorar o que está fora desse mundo, ainda que lhe pertença. Poças e pocinhas, rochas e rochinhas, mexilhões quase dispostos em prato numa pequena enseada, plantas que ondulam com a água a entrar suavemente, sal a brilhar ao sol, pedra perene que um dia será areia...daqui a milhares e milhares de anos.

É linda a Natureza, o meu neto apanhou muitas conchinhas e anda encantado com elas, lavou-as todas e dispo-las na sua prancha a secar para depois levar para casa e talvez colar.


Gosto do mar...não conseguia viver sem ele...este cheiro, este gosto, esta salinidade faz-me falta todo o ano...felizmente há a Foz...

Férias IV


Ter um neto connosco, sozinho, sem os irmãos nem os Pais, mesmo , mesmo só para nós, é uma benção.
A ternura, a paciência, o enternecimento e a minha curiosidade perante as suas perguntas, sugestões ou conselhos vêm à tona, quando já os julgávamos perdidos...
Ontem e hoje tenho andado quase sempre com ele, quer seja na praia, em casa, nos passeios a noite, nas idas ao supermercado, às refeições...e descubro nesta criança uma inteligência, alegria e inocência comoventes, a par do sentido de responsabilidade de neto mais velho, preocupado com o bem estar da sua Vóvó ( como ele me trata), sincero, sem ser demasiado paternalista.
Ainda bem que ele ficou cá comigo, há muito que queria testar a sua capacidade de estar longe dos Pais e irmãos por uns dias e também a minha convivência com ele, os seus interesses, as suas conversas, etc.
Hoje fomos comprar guaches e logo vamos fazer umas pinturas. Para já, ele foi para a praia coma tia, pois está um dia radioso e eu tenho de fazer uma sopa, lavar o terraço, varre-lo e pôr a casa OK.
Também me faz mal estar demasiado tempo ao sol e esta prainha não tem sombras, é mesmo uma baía com rochas por todos os lados, mas sem qualquer espaço à sombra. Há quem leve chapéus de sol...o que não seria difícil...mas sou preguiçosa, prefiro só levar o indispensável: creme, tm, pente e lenços.Até comecei a usar havaianas para serem mais leves e fáceis de manusear.
Ainda me surpreendo com o encanto desta casa...a sua localização, a paz que aqui se respira...vejo pessoas conhecidas, fazemos sorrisos, conversamos esporadicamente à beira-mar ou na fila dos gelados(!), mas é mesmo conversa de verão, sem profundidade.
É uma vida feliz....como diz Esteves Cardoso, quando os nossos problemas maiores são entre escolher uma t-shirt azul ou verde mar para vestir....

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ausência dos media

É o que tem sido mais benéfico nestas duas semanas....nada saber do que se passa, a não ser por terceiros, ir aproveitando ao máximo o silêncio da TV, reaprender a viver sem os políticos, os politólogos, os que tem a mania de que sabem dissertar sobre o estado calamitoso da nação e do mundo, ignorá-los por completo durante dias e dias tem sido um bálsamo...embora só ontem e hoje tenha estado mesmo afastada de qualquer meio de comunicação ( excepto o tm, muito útil para se saber que os filhos chegaram bem).
Mas o massacre de Oslo acabou por me chegar aos ouvidos dois dias depois...Oslo, onde namorei o meu futuro marido em 1965, uma terra que parecia o paraíso, cheio de fjordes, de ilhas, de lagos, neve, montanhas e gente civilizada...pergunto-me o que levou aquele jovem a matar outros jovens....ainda se se vingasse na geração anterior, ainda compreendia (?).
A xenofobia leva a situações desesperadas e é nesses países civilizados que nunca conheceram colónias, nem sequer conseguiram civilizar no tempo dos vikings, pois no fundo eram bárbaros e violentos por natureza, que o ódio ao estrangeiro mais se faz sentir. Não acontece em Inglaterra por exemplo, onde praticamente para cada inglês, há cinco estrangeiros ou imigrantes.
Entretanto aqui goza-se a Vida enquanto se pode, rodeados de estrangeiros alegres, cientes de que dum momento para o outro as coisas mudam e há sobressaltos.
Já os tive e as férias eram muitas vezes seguidas de drama...daí nunca contar como seguro aquilo que tenho.
Ontem o meu neto encontrou um grupo de miudos a jogar futebol à noitinha na praia, onde andámos a passear e jogou futebol com eles, todos pequenitos e muito engraçados, gente diversa, ingleses, portugueses, alemães, felizes por poderem dar com o pé na bola...é assim que se deve viver.

domingo, 24 de julho de 2011

Goodbye



Felizmente é até à vista, pois de hoje a oito lá estaremos no Porto de novo....ainda nos faltam gozar sete belos dias de praia e hoje está um tempo maravilhoso....para não dizer glorioso, como os benfiquistas gostam.
Parte da família, já partiu, depois duma sesta prolongada e estou um pouco triste, embora reconheça que aqui se está bem com pouca gente. Há mais sossego, não é preciso cozinhar tanto, não se desarruma nada, consegue-se ler, ouvir música e até meditar a olhar para o mar, sem interrupções. Há menos companhia, menos sharing, mas mais privacidade.

Desta vez fiquei a conhecer o meu neto do meio, com cinco anos e menos convívio comigo, devido a circunstâncias várias, dado o seu feitio e apego aos "bonecos" ( Panda), que ele identifica com a minha casa....:)), por minha culpa talvez.
Já está mais velho, é um pândego, muito ratão, com saídas inesperadas que nos fazem rir. O contrário do irmão, reservado, pausado, sério e até às vezes um pouco cabisbaixo....mas com uma relação fantástica comigo desde pequenino, quando esteve no infantário da minha escola, e eu o ia buscar para minha casa, a pé. Foi sempre duma ternura enorme comigo, não me lembro de ma criação ou teimosias...e gosta de me agradar.
Está aqui a ler o Harry Potter neste sossego. Não quis ir para a praia com a tia, sente-se bem sem o irmão, de quem gosta muito, mas que é mais pequenino e falador.

Um dia lerei estas linhas com eles e talvez achem graça a estas recordações...é o que fica da nossa existência, e que dou graças ao céu de possuir, benesses atrás de benesses, talvez não mereça tanto...