Os pasteis sennelier são marca quase desconhecida cá em Portugal. Encontrei-os pela primeira vez em Boston, numa loja perto do Harvard Square, daquelas com dois andares, cheia de tripés, cavaletes, telas e tintas de toda a espécie, até de pintar paredes, trinchas e pinceis, lixas, madeiras, etc., tudo misturado, mas com uma gama infinita de marcas e tipos de materiais. O senhor que me atendeu achou graça às minhas perguntas e vendeu-me uma caixa dos pasteis que ele considerava os melhores do mundo. Eram caritos, de modo que só comprei 24, embora pelo toque, me apetecesse trazer muitos mais. Como comprei pinceis também, fez uma caixinha ali mesmo para meter os pinceis. Pessoas destas já não existem.
Entretanto já os gastei quase todos.
Como o meu filho tinha de ir a Bruxelas, pedi-lhe que me trouxesse outros, dado que sendo eles franceses, haveria com certeza esta marca. O meu filho ficou surpreendido com a quantidade enorme de caixas e qualidades, telefonou-me e eu aconselhei-o. MAL! devia ter-lhe dito que eram pasteis de óleo e ele trouxe-me pasteis secos, que são de pó e desfazem-se, embora as cores sejam mais brilhantes e apetecíveis. Têm de levar fixativo - ou laca do cabelo - depois de prontos para o pó não cair.
Não fez grande mal, pois trabalhei com eles na mesma , como se fossem pastel de óleo, tendo o cuidado de ir sacudindo o pó à medida que ia pintando. Gostei muito da minha experiência.
Este quadro, que foi feito em papel de bambu coberto de guache azul antes de aplicar o pastel, é abstracto, não pretende ser nada de figurativo, embora cada um possa tirar daqui o que quiser.
Vai aqui também uma das minhas peças clássicas preferidas: Mahler - 5ª sinfonia - 1º andamento. Tem algo a ver com esta pintura.
Hoje comprei um novo bloco de papel, que é 90% feito de bambu e 10% trapo. Parece lindo ao toque, mas o papel é parecido com todos os outros para este fim. Dá para acrílico, aguarela e pastel, o que não é costume. Resolvi fazer experiências com os vários pasteis de óleo que tenho neste momento para experimentar a textura de cada um e comparar efeitos. Saiu este desenho, que se poderá apelidar de árvore em fundo technicolor ou technicolor tree.
Depois resolvi experimentar os efeitos especiais do Photofilter na foto da pintura e consegui estes resultados interessantes.
...as temperaturas desceram, já há muitas nuvens no céu, embora ainda com alguns espaços azuis pelo meio, o sol brilha amedrontado, as gotinhas de água acumulam-se nos beiris e nas portadas, não se sabe se vai chover já ou só mais tarde e as árvores, brilhantes e cheias de vigor vingam-se do estio e da secura, erguendo-se mais viçosas quando verdes, ou largando as suas folhas multicolores pelos ares , pelos passeios e veredas. Gosto do Outono porque é diferente. É mais frio, é mais imprevisível, traz-nos para dentro de casa, onde apreciamos os nossos sofás com mais justiça, um bom livro ou uma boa música, a calma e o silêncio que as janelas duplas nos concedem. A natureza é tão bela que me apetecia à vezes ter cápsulas para guardar pedacinhos do mar encapelado da Foz, areia da praia de Porto Santo, flocos de neve da Alemanha, o cheiro a restolho húmido do Lake District, as noites de luar por detrás da palmeira da Luz, as castanhas assadas da Rotunda da Boavista...
Vai aqui um poema simples do "nosso" Eugénio de Andrade que exprime bem o que sinto:
Se deste outono uma folha, apenas uma, se desprendesse da sua cabeleira ruiva, sonolenta, e sobre ela a mão com o azul do ar escrevesse um nome, somente um nome, seria o mais aéreo de quantos tem a terra, a terra quente e tão avara de alegria.
É um filme poderoso, daqueles que nos deixam pregados à cadeira do princípio ao fim.A história centra-se á volta de poucas personagens, como numa peça de teatro, retratando a claustrofobia , a paz podre e o estado policial da antiga DDR, que me fazem lembrar muito o nosso regime salazarista. No leste, as pessoas viviam com mais desafogo e saúde, em geral, limitadas ao que havia, mas tudo era de todos. Em Portugal,uns tinham muito mais do que outros....e continua a ser assim, neste regime democrático com tão pouca liberdade para alguns.
Ontem e hoje, vi alguns documentários sobre a Queda do Muro. Foi um evento mundial, o corolário de anos a fio de tensão leste-oeste, Guerra Fria e ameaça nuclear. Transformação excelente para a Europa, permitindo a aproximação aos países - tantos - da chamada Cortina de Ferro ( apelidada assim por Churchill num dos seus discursos). Mas não foi óptimo , nem o paraíso com que muitos sonhavam.
Contactei com muitos alemães neste ultimos vinte anos, professores do Colégio Alemão do Porto, Goethe Institut, amigos dos meus filhos, cidadãos de Munique, etc. Tenho uma grande amigo da RFA que se casou com uma rapariga da DDR. Completamente opostos, ele dominava-a e ela submetia-se por amor, com a sua simplicidade e generosidade encantadoras. Adaptarem-se significou para muitos submeterem-se a novas leis, à perda de identidade, a sensação de culpa por terem permitido viver-se numa "prisão" dourada ( ou acobreada), onde nada acontecia. Havia saude, trabalho certo e segurança relativas. Mas eram vigiados a toda a hora pela STASI.Não conheciam o outro lado.
O filme que vos aconselho narra os acontecimentos em questão vividos por uma família, cuja Mãe está de cama e não pode "ver" nem imaginar nada do que se está a passar. O filho esconde-lhe a verdade, tentando poupar-lhe os dias que lhe restam de vida.
É um maravilhoso libelo pró amor filial e pró liberdade. Vejam o trailer...tem legendas em inglês!