sexta-feira, 5 de março de 2010

A pensar em Van Gogh

Sou uma privilegiada...estou sentada à lareira num maple de chintze a imitar os velhos sofás ingleses. Mandei-o fazer especialmente para refúgio da minha filha que detesta TV e gosta de ter um cantinho onde possa desligar do real , ler ou ouvir música....hoje sou eu a usufruir deste maravilhoso poiso. O fogo está já menos forte, com aquele tom de brasa, tão quente e atraente que quase não conseguimos desfitá-lo. A casa já estava quente, mas não dispenso esta visão.

Tenho muita música no meu I'Tunes e posso ouvir enquanto medito, recordo, nostalgio ( existe o verbo?) e contemplo as achas a extinguir-se lentamente.

Hoje vieram-me à ideia as telas de Van Gogh, vi-as no Museu de Amsterdam com o meu futuro ex- e ele, que sabia tudo, explicou-me imensa coisa sobre o pintor que eu ignorava. Foi o local onde há mais de quarenta anos começámos a namorar- Amsterdam. éramos tão novos! Van Gogh estará sempre ligado a meu ex-. Para "sofrer" um pouco mais, oiço o Don McLean a cantar uma canção maravilhosa em homenagem ao grande pintor.

Vai aqui com a letra. Deleitem-se com as pinturas e com a melodia feita à medida.



Starry, starry night.
Paint your palette blue and grey,
Look out on a summer's day,
With eyes that know the darkness in my soul.
Shadows on the hills,
Sketch the trees and the daffodils,
Catch the breeze and the winter chills,
In colors on the snowy linen land.

Now I understand what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they did not know how.
Perhaps they'll listen now.

Starry, starry night.
Flaming flowers that brightly blaze,
Swirling clouds in violet haze,
Reflect in Vincent's eyes of china blue.
Colors changing hue, morning field of amber grain,
Weathered faces lined in pain,
Are soothed beneath the artist's loving hand.

Now I understand what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they did not know how.
Perhaps they'll listen now.

For they could not love you,
But still your love was true.
And when no hope was left in sight
On that starry, starry night,
You took your life, as lovers often do.
But I could have told you, Vincent,
This world was never meant for one
As beautiful as you.

Starry, starry night.
Portraits hung in empty halls,
Frameless head on nameless walls,
With eyes that watch the world and can't forget.
Like the strangers that you've met,
The ragged men in the ragged clothes,
The silver thorn of bloody rose,
Lie crushed and broken on the virgin snow.

Now I think I know what you tried to say to me,
How you suffered for your sanity,
How you tried to set them free.
They would not listen, they're not listening still.
Perhaps they never will...


Há quanto tempo não vejo uma starry night? Desde Setembro....estrelas ??? Que saudades das noites de verão....há meses que chove demais!

Mas continuo a achar que sou uma privilegiada...

quinta-feira, 4 de março de 2010

Ultimo trabalho


Tenho pintado pouco, ocupada que estou com tantos afazeres, workshop, atelier, netos, etc.

No outro dia vi uma fotografia num site de fotos que adoro e que é para fotógrafos consagrados - one exposure- e encontrei uma que achei daria um esplêndido quadro , assim eu fosse capaz de o fazer. Pedi ajuda ao meu professor, que deu uma aula sobre o método adoptado neste quadro - fazer elipses direitinhas e não esborratar para fora tem uma tecnica!!

Gosto muito dele....continua com a temática das árvores, mas é mais abstracto e o céu abre-se para a árvore crescer....vou colocá-lo por cima da minha cama, que é de madeira negra e tem um edredon vermelho. Fica lá a matar.



Árvores


Árvores negras que falais ao meu ouvido,
Folhas que não dormis, cheias de febre,
Que adeus é este adeus que me despede
E este pedido sem fim que o vento perde
E esta voz que implora, implora sempre
Sem que ninguém lhe tenha respondido?


Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 3 de março de 2010

Voltei à escola




Quando me aposentei há dois anos, em Janeiro de 2008, senti um enorme alívio por não ter de voltar à escola, sair da rotina que me obrigava a levantar as 7 todos os dias, apanhar um autocarro e o metro, para estar as 8.30 na escola.
Sempre gostei de ensinar, não é disso que se trata. O problema residia no ambiente terrível que se vivia nessa altura, a pressão exercida sobre os docentes, como se deles tivesse vindo todo o mal ao mundo, o label de calaceiros que nos colavam, a obrigatoriedade das aulas de substituição - algo que nunca foi pensado em termos de pedagogia, mas tão somente para babysit os alunos indisciplinados e fartos de escola, as aulas de 90m, a invenção mais estapafúrdia que alguma vez saiu da 5 de Outubro, as actividades no Clube de Línguas - todo decorado pelos profs, muito cosy , com revistas, filmes, actividades, etc,- mas que acabava por ser desperdiçado pelos alunos revoltados por não poderem sair, enfim, uma panóplia de contra-sensos e de traumas, que o império da MLR veio trazer a um lugar onde os bons professores cumpriam até mais do que lhes era pedido.
Muitos projectos fiz com os alunos - entrevistas gravadas num Congresso da APPI a vinte profs estrangeiros que nos visitaram, estudo e expo sobre as instituições inglesas do Porto, que nos levaram a visitar e conhecer seis locais e histórias diferentes, passeio ao Gerês com os alunos mais novos, com piquenique na mata ( e uma cabeça partida duma aluna que foi alvejada por outro alunos com uma pedra (!)), jornal em inglês financiado por mim quase inteiramente, culinária na biblioteca ( as célebres bolachinhas inglesas, cujo cheiro chegava ao andar de baixo), tudo isso fez parte dum percurso de que me orgulho e que ainda hoje é recordado com enorme saudade pelas minhas ex-estagiárias de há 20 anos, quando as encontro fortuitamente.

Pensava não voltar a dar aulas....e sentia-me feliz. Os manuais escolares, que fiz durante vinte e cinco anos também estavam em standby devido à lei dos seis anos de vigência, com que discordo plenamente ( já viram o que é ler agora sobre o Bush ou sobre a Margaret Thatcher, os Pink Floyd ou Dire Straits??? Os alunos acham uma seca...e compreende-se, de modo que o professor tem de substituir essas actividades por outras todos os dias, deixando de lado o manual, que custou 20 euros.

A Vivacidade, esse espaço super dinâmico que ainda agora me surpreende convidou-me há um mês para fazer um workshop de Inglês para pessoas já aposentadas ou interessadas em viajar e esquecidas do que eventualmente
aprenderam há mais de quarenta anos.
Na altura pensei NÃO, não sou competente para isso, nunca dei aulas a adultos, já não sei ensinar beginners , já não tenho elan nem dinamismo para motivar as pessoas.
Mas acabei por aceitar o desafio.
O Workshop centra-se em comunicação oral e auditiva, posso usar a Internet, CDs e musica, o que quiser.
Levei horas a preparar a primeira aula, que se realizou na 2ªfeira, pedi à minha filha que fosse a minha co-piloto, devido à sua juventude e conhecimentos da língua e lá fui expectante para a Vivacidade.
Tudo correu maravilhosamente...as alunas são cinco estrelas, a motivação é enorme, o ambiente é relaxante, cada pessoa assume uma personalidade diferente - Jessica, Ashley, Susan, Polly, Sarah, etc. são os nomes escolhidos - eu serei a Ms Simpson e a minha fila Ms Simpson Jr. Começámos por um Jogo do Galo com palavras inglesas e acabámos com o visionamento do trailer de Spanglish, um filme muito interessante sobre a diferença de culturas.


As alunas gostaram, hoje continuamos. E eu cheguei à conclusão de que ADORO ENSINAR...seja o que for...desde que os alunos queiram aprender. Sinto-me FELIZ.

terça-feira, 2 de março de 2010

Cor em Movimento







Realizou-se ontem a inauguração da minha exposição no Espaço Vivacidade. Ainda me custa a interiorizar que esta exposição é minha, fui eu que fiz aqueles quadros e , sobretudo, que há alguém nesta cidade - e talvez não só - que aprecia o que faço, me apoia, me ensina, me anima e amima.
Não posso deixar de agradecer aqui a TODOS os que estiveram presentes no evento, desde o meu querido professor Domingos Loureiro, cuja obra e dedicação à Escola são extraordinárias e que fez a minha apresentação como se conseguisse ler o que me vai na alma em cada momento que dedico à pintura, aos proprietários da Escola Utopia, Teresa e Zé Vieira, que me incentivaram a entrar para este meio tão especial, à Adelaide e Pedro, almas da Vivacidade, cujo dinamismo é inesgotável, aos meus amigos da Escola e de fora dela, and last but not the least, aos meus filhos e netos, cuja presença e actuação musical me comoveram muitíssimo.

Vale a pena chegar à minha idade e usufruir de momentos como estes. OBRIGADA!

Vão aqui algumas fotos que a Vivacidade publicou no seu blogue e já se podem ver no site próprio.

Desta vez não tirei fotos nenhumas. Ficariam, certamente, embaciadas de emoção.




domingo, 28 de fevereiro de 2010

Domingo com Rachmaninoff, Pegaso e...futebol



Hoje fiquei em casa toda a tarde. Está um tempo triste, cinzento, melancólico, em que só apetece o calor do lar, o chá quente, a lareira e a música.Trabalhei na preparação do workshop que começa amanhã. Sinto-me nervosa, não sei porquê:))
Pelas três, veio o meu neto, que me faz grande companhia. Comprei-lhe um cavalete no Lidl, mas não conseguimos montá-lo , apesar dos enormes esforços do rapazinho - só tem seis anos - para encaixar as peças. Esperemos que o Pai o ajude em casa. Estivémos a fazer um desenho a pastel, mas ele cansou-se rapidamente e preferiu jogar jogos didácticos ou ver um filme sobre Zeus e Pégaso. Um cavalo alado, tal qual o que eu precisava para me deslocar aqui no Porto, pois não tenho carro e às vezes abuso das boleias...

Daqui a umas horas vou ver o FCP a perder o campeonato ( lagarto, lagarto) Pode parecer estranho, mas tenho um amor muito grande a este clube que adoptei mal vim para a cidade. É um clube com "pinta" e mesmo quando não ganha, os jogadores têm uma mística e mantém-se unidos. Depois há os faits divers, que não me interessam de todo, pois é tudo manipulado por uns e por outros. O meu filho , então, continua fiel ao Boavista e ainda hoje foi assistir ao jogo no Bessa. Ganharam por 2-0, o que é uma alegria, desde que o clube foi sacrificado pelo malfadado apito dourado, que dessa cor nada tem.

Estive há pouco a ouvir a concerto nº 3 de Rachmaninoff - geralmente conhecido por Rach 3 e encontrei este andamento do mesmo no Youtube com o magistral Sokolov ( ainda novo) a tocar em Viena, creio eu. Deixo-o aqui para quem quiser "perder 10 minutos" e perder-se neste final de dia tristonho.