sábado, 1 de maio de 2010

Tempo de pausa

Os últimos dias foram bastante activos e ainda estou a sofrer a ressaca - boa - dos acontecimentos. O dia está lindo, mas não me deu para sair, talvez porque o meu filho mais novo teve um exame importante e estou nervosa, sem saber como lhe correu. Sofro mais com os exames - ou problemas - dos filhos do que com os meus, a ansiedade vai-se avolumando em crescendo até atingir um ponto de desespero, quase. Não sou nada calma quando se trata deste tipo de esperas....



Pus-me a pintar. Tinha uma telazinha daquelas em mdf ( penso que é isso) quadrada, com 30X30 e resolvi cobri-la de impasto há tempos; a ideia era fazer outra coisa. Mas hoje deu-me mais para isto. Usei tintas várias, verde, azul prussiano, azul mais claro, amarelo e branco, são as cores que mais uso em quadros ultimamente. Primeiro pintei simplesmente por zonas, depois usei tinta líquida para fazer pingos, mais escuros e mais claros. O resultado foi este e gosto dele.

Vai aqui com um música ao meu gosto: o soundtrack dum dos filmes que mais gostei na vida e que se adapta bem ao meu estado de espera: As Horas.

É um filme maravilhoso centrado na escritora Virginia Woolf, considerada uma pioneira na introdução da corrente de pensamento no romance.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Cores em movimento - Somewhere over the rainbow


As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.

Jorge Sousa Braga



Ontem foi um dia feliz para mim. E penso poder dizer para muitos dos que me rodearam e deram apoio numa festa em que o centro era ARTES.
Várias pessoas ligadas ao Espaço Vivacidade, entre as quais uma senhora pintora já famosa, colegas da Utopia, Amigos e Família estiveram presentes na sessão de encerramento da Exposição.

Preparei uns caderninhos com as fotografias das pinturas e dos poemas que iriam ser lidos e na Vivacidade, a infatigável Helda, a quem agradeço muito em especial, organizou um Powerpoint, em que cada slide correspondia a uma das pinturas, com registo do nome e do poema que se iria ler. Formalmente estava tudo preparado. Mas houve grande espontaneidade durante a sessão porque todo o discurso, o meu, sobretudo foi improvisado. A Adelaide começou por me fazer uma pergunta que não esperava: Como é que interrelaciona a pintura com a poesia?
Tudo o que disse me veio à mente na altura e agora já não seria possível repeti-lo com as mesmas ideias e palavras. Liguei a música ao poema, o poema à imagem e a imagem à pintura, que é como, em geral, olho para as Artes.
Ao escolher os poemas fi-lo criteriosamente, mas houve uns que talvez tenham ficado mais intrinsecamente ligados aos quadros, de tal modo que neste momento , quando penso no quadro, me vem logo o poema à mente. Acontece isso com os poemas da minha Amiga Regina Gouveia, cujos poemas são excelentes, não me canso de o afirmar. Também associei alguns do meu irmão Mário, que são duma simplicidade desarmante, e nos surpreendem - e muito - no final.

O mais belo da festa foi o meu neto. A sua presença, sentado á frente, pernas a baloiçar, poemas na mão, o soletrar cuidadoso - com 6 anos, está a aprender a ler e ainda há letras que desconhece - a sua insistência em ler em voz alta o poema Tudo é Poesia de Gedeão, a interpretação das peças no violino no final, sozinho ou acompanhado com a Mãe, comoveram-me tanto que as lágrimas me vieram aos olhos e o mesmo aconteceu com várias pessoas na sala. Obrigada, meu neto lindo!

Ficam aqui algumas das pinturas e poemas lidos. A Vida é muito Bela! Somewhere over the rainbow....



Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece. Não sei se suspenso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trémulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Porque fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Ricardo Reis

A Chama
Dançava a chama voluptuosa
espalhando em redor um tom vermelho-rosa
As achas ardiam na lareira
e a criança batendo as palmas, rindo,
dizia "lindo, lindo"
apontando a fogueira.

Era uma chama voluptuosa
e ao mesmo tempo etérea,
tudo por causa do plasma,
o quarto estado da matéria.

No plasma, com seus núcleos e iões
em estranhas convulsões electrões davam saltos quânticos.

Era a energia
que assim se emitia
em passos de dança, sensuais, românticos,

A criança que, batendo as palmas, rindo,
dizia "lindo, lindo",
adormeceu sorrindo.

E então a louca chama, pressentindo
que a criança já estava dormindo,
deu em esmorecer, foi-se extinguindo.

Regina Gouveia

Boletim metereológico


Sol posto
magenta, azul
cheiro a mosto
cheiro a Sul
vejo o teu rosto
na rosa dos ventos
sinto o teu gosto
na ponta do tempo


céu aberto, céu azul
Sol nascente
magenta, doirado
estou no presente
e vivo o passado
solto um lamento
redondo, fechado
Ah!, ilusão
de te ter a meu lado
céu cinzento, céu nublado.


Mário Cordeiro

Infinito

O que é o infinito?
Será um estado de alma
num dia de muita calma,
em que o ar fica parado
de tão sereno e tão quente?

Será um oito deitado
dos que vêm nas sebentas,
nos compêndios, nos opúsculos,
ou serão as tardes lentas
que precedem os crepúsculos?

Ou será o quociente
em toda e qualquer divisão,
sem indeterminação,
em que zero é o divisor?

Ou será um grande amor?
Ou será a imensa dor
sentida ao perder alguém?

Ou será a imensidão
do Universo em expansão?

Ou será mesmo o Além?
Será a suprema alegria
de ver um filho nascer?

Será talvez a magia
de ver a vida crescer?

O que é o infinito?
Talvez seja aquele grito
que eu tento a custo suster.


Regina Gouveia

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Cor em Movimento - Quadros de uma exposição




Hoje termina a exposição, que até agora, mais prazer artístico, espiritual e social me deu. Logo haverá uma sessão em que todos os "ingredientes" me são queridos desde os poemas de poetas conhecidos e da família que escolhi, recitados pela minha Filha Luisa, a minha Amiga Regina e a organizadora do Espaço e minha Amiga também Adelaide, até ao som do violino e da flauta tocados pelo meu Neto Daniel e pela minha Nora, Ana. A todos agradeço já agora do coração.

Muitas outras exposições se irão seguir, a começar já no dia 10 no 10º Aniversário do Spazo Zen., aqui no Campo Alegre.
Sinto uma enorme felicidade em poder mostrar aos outros aquilo que faço, aquilo de que gosto. Oxalá seja também para quem vê uma fonte de prazer estético e espiritual.

Fica aqui uma peça musical muito bela e majestosa chamada : Quadros para uma Exposição do compositor russo Mussorgsky tocado pelo jovem Evgeny Kissin numa interpretação vibrante muito pessoal:

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Estações de caminho de ferro



Há estações muito bonitas em Portugal e até encontrei livros sobre elas.Estações aqui no Norte com azulejos e traça portuguesa encantam-me , mesmo quando modernizadas. Também as há feias como a de Coimbra, onde muitas vezes tive de esperar o comboio à chuva.

Em Inglaterra as estações são anitigas, mas têm sempre umas salas e restaurantes confortáveis, onde se pode tomar um chocolate quente e comer umas sande ou cookies. Os ingleses sentem quase um respeito intimo pela herança dos caminhos de ferro, que tentam a todo o custo preservar. Tirei algumas fotos a várias estações e ao aeroporto para a minha colecção.







Claraboia do aeroporto de Stansted

Os efeitos estéticos da água



Quando estive em Sheffield há dias, estava a decorrer nos pavilhões dos jardins interiores , muito belos, por sinal, o Campeonato Mundial de Snooker, que é visto por milhões de pessoas no Europort e ao vivo..
Para engalanar a cidade todas as fontes estavam a funcionar. Por todo o lado havia efeitos de água nas mais variadas formas, transmitindo uma paz enorme aos que contemplavam esses elementos nas praças públicas ou nos jardins ou que se sentavam em bancos s´o para ouvir o murmurar da água a cair. Algumas crianças até ousavam meter-se debaixo delas, com uma temperatura cá fora de 10º.

Vão aqui algumas fotos que tirei.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Daffodils



Em Inglaterra encontram-se por toda a parte, enchem os campos com a sua leveza e cor dourada. São flores singelas, muito belas, que mereceram da parte dos poetas ingleses grande enlevo.

Vão aqui uma foto tirada há dias no Hyde Park de Leeds e um dos poemas mais conhecidos de William Wordsworth, o poeta romântico do Lake District. Quem o recita é um dos meus actores ingleses favoritos, Jeremy Irons




"Daffodils" (1804)


I WANDER'D lonely as a cloud
That floats on high o'er vales and hills,
When all at once I saw a crowd,
A host, of golden daffodils;
Beside the lake, beneath the trees,
Fluttering and dancing in the breeze.

Continuous as the stars that shine
And twinkle on the Milky Way,
They stretch'd in never-ending line
Along the margin of a bay:
Ten thousand saw I at a glance,
Tossing their heads in sprightly dance.

The waves beside them danced; but they
Out-did the sparkling waves in glee:
A poet could not but be gay,
In such a jocund company:
I gazed -- and gazed -- but little thought
What wealth the show to me had brought:

For oft, when on my couch I lie
In vacant or in pensive mood,
They flash upon that inward eye
Which is the bliss of solitude;
And then my heart with pleasure fills,
And dances with the daffodils.

By William Wordsworth (1770-1850).

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domingo, 25 de abril de 2010

Liberdade artística

1. Hoje de manhã resolvi pintar...ou seja, cobrir um quadro que já tinha feito e de que não gostava com outro mais apelativo.
Talvez devesse ter pintado a vermelho, dado que hoje é o dia que é, mas a minha tendência foi para os azuis, cores do mar , do céu, dos olhos das princesas dos contos de Grimm, das violetas e do meu clube do coração.



(clicar- esta versão saiu melhor do que a foto de ontem)

Blue whales


2. Estive grande parte da tarde com os dois netos mais velhos, fomos ao Jardim Botânico, que estava resplandecente e tinha ainda uma exposição de répteis feitos de tampinhas de frascos de toda a espécie, tudo em plástico de várias cores. Muito criativo.
Aqui ficam alguns exemplares muito originais.

Dia da Liberdade



É costume associar-se o cravo à Liberdade. Não gosto de uniformidade - porque isso já representa para mim um certo seguidismo bacoco. Esta imagem de um canteiro de flores do Hyde Park em Leeds dá-me mais a sensação de beleza e liberdade que o cravo na lapela de muitos portugueses.

E em vez de Grandolas ou gaivotas ( desculpem, fiquei alérgica)....vai aqui uma canção linda do Serge Reggiani: MA LIBERTÉ!



VIVA A LIBERDADE!