 As árvores como os livros têm folhas
As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.
E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.
As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».
É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.Jorge Sousa BragaOntem foi um dia feliz para mim. E penso poder dizer para muitos dos que me rodearam e deram apoio numa festa em que o centro era ARTES. 
Várias pessoas ligadas ao Espaço Vivacidade, entre as quais uma senhora pintora já famosa, colegas da Utopia, Amigos e Família estiveram presentes na sessão de encerramento da Exposição.
Preparei uns caderninhos com as fotografias das pinturas e dos poemas que iriam ser lidos e na Vivacidade, a infatigável Helda, a quem agradeço muito em especial, organizou um Powerpoint, em que cada slide correspondia a uma das pinturas, com registo do nome e do poema que se iria ler. Formalmente estava tudo preparado. Mas houve grande espontaneidade durante a sessão porque todo o discurso, o meu, sobretudo foi improvisado. A Adelaide começou por me fazer uma pergunta que não esperava: Como é que interrelaciona a pintura com a poesia?
Tudo o que disse me veio à mente na altura e agora já não seria possível repeti-lo com as mesmas ideias e palavras. Liguei a música ao poema, o poema à imagem  e a imagem à pintura, que é como, em geral, olho para as Artes.
Ao escolher os poemas fi-lo criteriosamente, mas houve uns que talvez tenham ficado mais intrinsecamente ligados aos quadros, de tal modo que neste momento , quando penso no quadro, me vem logo o poema à mente. Acontece isso com os poemas da minha Amiga Regina Gouveia, cujos poemas são excelentes, não me canso de o afirmar. Também associei alguns do meu irmão Mário, que são duma simplicidade desarmante, e nos surpreendem - e muito - no final.
O mais belo da festa foi o meu neto. A sua presença, sentado á frente, pernas a baloiçar, poemas na mão, o soletrar cuidadoso - com 6 anos, está a aprender a ler e ainda há letras que desconhece - a sua insistência em ler em voz alta o poema 
Tudo é Poesia de 
Gedeão, a interpretação das peças no violino no final, sozinho ou acompanhado com a Mãe, comoveram-me tanto que as lágrimas me vieram aos olhos e o mesmo aconteceu com várias pessoas na sala. Obrigada, meu neto lindo!
Ficam aqui algumas das pinturas e poemas lidos. A Vida é muito Bela! 
Somewhere over the rainbow.... Contemplo o lago mudo
Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece. Não sei se suspenso em tudo
Ou se tudo me esquece.
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.
Trémulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Porque fiz eu dos sonhos
A minha única vida?
Ricardo Reis A ChamaDançava a chama voluptuosa
A ChamaDançava a chama voluptuosa
espalhando em redor um tom vermelho-rosa
As achas ardiam na lareira
e a criança batendo as palmas, rindo, 
dizia "lindo, lindo"
apontando a fogueira.
Era uma chama voluptuosa
e ao mesmo tempo etérea, 
tudo por causa do plasma, 
o quarto estado da matéria.
No plasma, com seus núcleos e iões 
em estranhas convulsões electrões davam saltos quânticos.
Era a energia 
que assim se emitia
em passos de dança, sensuais, românticos, 
A criança que, batendo as palmas, rindo, 
dizia "lindo, lindo", 
adormeceu sorrindo.
E então a louca chama, pressentindo 
que a criança já estava dormindo, 
deu em esmorecer, foi-se extinguindo.
 Regina Gouveia Boletim metereológico
Boletim metereológico
 Sol posto
magenta, azul
cheiro a mosto
cheiro a Sul
vejo o teu rosto
na rosa dos ventos
sinto o teu gosto
na ponta do tempo
céu aberto, céu azul
Sol nascente
magenta, doirado
estou no presente 
e vivo o passado 
solto um lamento
redondo, fechado
Ah!, ilusão
de te ter a meu lado
céu cinzento, céu nublado. Mário Cordeiro Infinito O que é o infinito?
Infinito O que é o infinito?
Será um estado de alma
num dia de muita calma,
em que o ar fica parado
de tão sereno e tão quente?
Será um oito deitado
dos que vêm nas sebentas,
nos compêndios, nos opúsculos,
ou serão as tardes lentas
que precedem os crepúsculos?
Ou será o quociente
em toda e qualquer divisão,
sem indeterminação,
em que zero é o divisor?
Ou será um grande amor?
Ou será a imensa dor
sentida ao perder alguém?
Ou será a imensidão
do Universo em expansão?
Ou será mesmo o Além?
Será a suprema alegria
de ver um filho nascer?
Será talvez a magia
de ver a vida crescer?
O que é o infinito?
Talvez seja aquele grito
que eu tento a custo suster. Regina Gouveia