Falei-vos neste filme inglês extraordinário. Conta a história dum romance entre dois jovens de classes sociais diferentes, amor esse trucidado à nascença por uma adolescente de 13 anos, que, num dia de festa, mente descaradamente por ciumes, despoletando uma série de acontecimentos trágicos para o casal, que vai ter de expiar toda a vida. Interpretações magníficas, música arrebatadora. Um filme a ver, sobretudo quem gosta de histórias românticas inglesas e de filmes de guerra - à maneira antiga.
Vai aqui uma das mais belas melodias recorrentes no filme.
Cheguei lá às 12.30 e tencionava voltar pelas 17 horas, mas quando cheguei à estação depois duma correria de taxi, a fila era enorme e ouvi dizer que já não havia bilhetes para o comboio das 5. Mesmo assim continuei na porfia de arranjar um bilhete dda classe "conforto", mas o homem do guichet disse-me com ar enfadado: Minha senhora, quando se diz esgotado é porque não há lugares de espécie nenhuma. " OK, respondi eu , então dê-me um bilhete para o das 18." O homem ficou fulo: Também não há, estão todos esgotados." Fiquei em pânico , a pensar, como é que vou para o Porto agora. Não me apetecia dormir em Lisboa. Ainda por cima tinha bilhetes para um concerto da Casa da Música que começava às 9 e em que uma pianista ia tocar um dos mais maravilhosos concertos de Mozart - K 466 ( o do Amadeus, que acompanha o seu enterro no cemitério austríaco, uma das cenas mais tristes que já vi em cinema). Depois de muito pensar o homem voltou a falar: Há um combóio de reforço às 19.9. Se quiser, pode ir ainda hoje para o Porto. Disse-lhe logo que sim e comprei um bilhete da classe conforto de 39 euros (safa!) pois o resto estava cheio. Mas pensei: Adeus concerto!....
Durante duas horas deambulei na estação e no shopping Vasco da Gama. Podia ter ido ao Parque Expo, mas o tempo estava de chuva e não me apetecia andar a passear depois da consulta de uma hora a que me tinha submetido na clínica dentária. Estava cansada, desmoralizada e com vontade de chegar a casa. Na estação dei com uma feira do livro muito gira e detive-me a ver livros e mais livros ao preço da chuva. É uma feira permanente. Grande ideia. Como tinha a minha máquina fotográfica comigo, resolvi tirar fotos à estação, desta vez vista do lado do rio. Depois tirei outras dentro da estação, já com as luzes todas acesas. É interessante e menos fria do que durante o dia em que o betão parece querer cair sobre as nossas cabeças. Os passageiros parecem formigas a correr dum lado para o outro. E eu com todo o tempo do mundo.
Quando me meti no comboio, pus os auriculares nos ouvidos e até ao Porto ouvi música de toda a espécie. Comecei por Bach, depois Purcell, mudei para a Beth Gibbons, depois Dario Marianelli ( soudtrack do filme Atonement, um dos mais belos filmes que vi há dois anos), acabei no Mamma Mia para ver se espevitava. Talvez tenha dormitado pelo meio. A viagem pareceu-me curta, apetecia-me ouvir mais música....:))
Quando cheguei a casa, fui informada pelo meu filho mais novo de que o meu neto de 6 anos tinha ido ao concerto com o meu bilhete e milagre dos milagres , tinha aguentado a Abertura Guilherme Tell, o concerto de Mozart e uma Sinfonia de Shostakovitch sem adormecer ( ele que se levantou ás 7 horas). Grande neto! E grande Mozart!
Aqui vão duas partes do concerto maravilhoso que eu perdi e o meu neto ganhou. Maestro e pianista são dois em um... o famoso Gulda.
Não deixem de o ouvir porque é comovente e toca-nos profundamente. Cliquem nas fotos que vale a pena.
Leonard Cohen é um dos meus ídolos desde sempre. As suas canções são inspiradoras, a sua voz única, a sua postura em palco inefável, o seu legado incomparávelmente vasto e inovador. Adoro - é o termo - ouvi-lo, comove-me até às lágrimas, fico extasiada perante a sua poesia, as sensações que descreve, a alegria ou a raiva que transmite. Nunca o ouvi ao vivo - é tudo em Lisboa, tudo mesmo - mas tenho DVDs de concertos, entrevistas e inúmeros planos de aula em que incluí as suas canções - Democracy, The Future, etc. Ele fazia parte do meu programa de Inglês no secundário , era tão importante quanto Margaret Thatcher ou Luther King. Ele é um ícone da música anglo-saxónica, nascido no Canadá, mas famoso e amado pelo mundo inteiro. Não quis transferir para aqui uma biografia seca tirada da Wikipédia ou outra, mas apenas prestar o meu tributo a este MAN, que tem sido "MY MAN" há muitos , muitos anos.
Oiçam, vejam e deleitem-se:
Dance me to your beauty with a burning violin Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in Lift me like an olive branch and be my homeward dove Dance me to the end of love Dance me to the end of love Oh let me see your beauty when the witnesses are gone Let me feel you moving like they do in Babylon Show me slowly what I only know the limits of Dance me to the end of love Dance me to the end of love
Dance me to the wedding now, dance me on and on Dance me very tenderly and dance me very long We're both of us beneath our love, we're both of us above Dance me to the end of love Dance me to the end of love
Dance me to the children who are asking to be born Dance me through the curtains that our kisses have outworn Raise a tent of shelter now, though every thread is torn Dance me to the end of love
Dance me to your beauty with a burning violin Dance me through the panic till I'm gathered safely in Touch me with your naked hand or touch me with your glove Dance me to the end of love Dance me to the end of love Dance me to the end of love
Atingimos esta noite as 6000 visitas. É um número bonito e que me enche de satisfação. Não conheço nem metade das pessoas que por aqui passam , mas quero agradecer-lhes do fundo do coração, pois têm-me ajudado muito a encarar o dia a dia com mais luminosidade, certezas e solidariedade. Todos os dias passo por aqui algumas vezes e procuro transmitir alguma coisa do que sei, do que vou sabendo , do que gosto e quero partilhar.
Hoje vão umas fotos avulsas que tirei aqui na minha rua.
Já fiz mais de um quadro com jacarandás. É uma árvore linda e as fotografias tiradas por um amigo meu e algumas minhas são muito inspiradoras. Um dos quadros esteve na minha expo. O que está em baixo foi pintado ontem na Foz. Não são comparáveis, mas ambos pintados a pastel de óleo sobre papel. Vai aqui um poema do meu irmão, a quem ofereci o primeiro quadro. É muito simples e muito belo.
Jacarandás
Lisboa abriu-se hoje por inteira Como no canto mais belo a Oxalá Foi em Maio que a cidade foi ribeira De água roxa, perfumada e tafetá. Em Lisboa abriu-se a alma verdadeira E sentiu-se o que existe para lá Da magia e da arte feiticeira Lisboa explodiu jacarandás.
(Foto tirada por mim aqui da minha varanda ao fim do dia)
Não acredito em Deus. Ou seja acredito num ser sobrenatural que existe na Natureza e está acima da nossa existência humana, mas não naquele Deus da religião cristã e católica, que castiga - não se sabe porquê - e dá a uns muito mais do que a outros e permite que uns bons e jovens morram, quando os outros andam por cá anos e anos a dar cabo disto tudo. Desculpem a franqueza. Isto deve-se a ter lido muito Sartre e Camus na FLUL, ter feito a cadeira de História do Cristianismo - dada magistralmente pelo P. Honorato Rosa, que um dia subitamente morreu quando estava a tomar um duche e nos deixou sem aulas e sem a sua sapiência. Ainda hoje pergunto a Deus como foi aquilo acontecer!
Não acredito no Deus de barbas brancas e custa-me ver as crianças aterrorizadas a pensar que fizeram asneiras e vão ser castigadas pelo tal Deus que elas não vêem , mas que as vê a elas. Deve ser terrível. Lembro-me que uma vez me fui confessar e disse ao Padre que tinha ficado com uma borracha que não era minha e ele disse: Isso não é pecado, filha. Fui absolvida e não a devolvi!
Isto tudo para dizer que hoje quase acreditei em Deus, enquanto olhava para o mar na Foz e o sol banhava tudo de uma luz tipica de Outono, suave e quente, limpida e quase mágica. Estive a pintar a pastel durante uma hora - uma alameda de jacarandás - , a ouvir música de Leonard Cohen ( é quase um Deus para mim), a vibrar com o estrondo das ondas contra a rocha masoquista da Praia dos Ingleses e a confraternizar em silêncio com a minha filha, rochas, gaivotas, areia, turistas, navios, petroleiros, jactos e tudo o que a vista alcança.
Fui feliz naquela hora e perguntei-me se morresse naquele instante, se não era bem melhor do que ficar velha um dia e só ter e dar chatices aos outros. Pode parecer mórbido, mas não é, vem-me isto muitas vezes à mente quando estou no auge da felicidade. E só não morro porque os outros iriam ficar tristes, muito tristes sem mim. Faço imensa falta, acho eu.