Lá fora chuvisca de vez em quando, mas quando as nuvens não estão muito espessas, abrem-se clareiras luminosas de uma cor dourada-prateada magníficas. As árvores saúdam esta luz benfazeja, brilhando em todas as suas gotículas. Uma imagem que se alia ao cheiro característico da humidade entranhada na natureza, só possível nestas épocas de invernia.
O meu neto assobia melodias várias enquanto constrói uma carro em LEGO, bem complexo, com peças minúsculas, que só com uma faca se conseguem separar. Fugiu do irmão mais novo, que não o deixa trabalhar em sossego. É um encanto estar aqui acompanhada desta criança, com os seus sete anos - segundo uma amiga minha é a idade do ouro - cheios de sonhos e auto confiança. Carinhoso, q.b. independente e meigo. Trata-me por Vovó, o que me comove. Na cozinha, pinto e preparo um assado ao mesmo tempo. Vou-lhe fazer peixinhos da horta, a ver se ele come vagens ( diz que não gosta). O meu quadro está um pouco gótico, mas hoje enveredei pelo roxo e lilás, cores de que que gosto muito. São invernias também. Nos intervalos dos assobios, ponho a tocar os Improvisos de Schubert. Maria João Pires no seu melhor.
Quereria guardar estes momentos e metê-los num cofre para os abrir quando, já senil, não puder viver a 100% e os netos já forem grandes , estiverem ocupados e eu rodeada de estranhos. É uma imagem que me assusta.
Há dias li no blogue do meu amigo Pedro Freire de Almeida, Novo Mundo uma notícia sobre um concerto da jovem cantora portuguesa, EMMY CURL que se ia realizar aqui no Porto. A notícia vinha acompanhada dum vídeo da mesma. Ao ouvir a canção, não pude deixar de me surpreender, não só pelo timbre de voz como pelo encanto da melodia e harmonia de todos elementos. Resolvi ir à página indicada pelo bloguista e lá tinham várias canções da compositora e vocalista de apenas 19 anos, que já é um sucesso fora dos círculos do mainstream. Porque, como diz o Pedro, esta rapariga ainda vai dar que falar, achei interessante apresentá-la aqui.
Eis um extracto dum artigo do Notícias de Vila Real:
Emmy Curl é o alter-ego de Catarina Miranda, uma jovem cantora e compositora de 19 anos nascida em Vila Real. Recentemente foi anunciada como um dos nomes que integram a edição deste ano de dois festivais de Verão, Sudoeste TMN e Delta Tejo. A juntar a isto, Emmy é uma das propostas da colectânea Novos Talentos Fnac 2010.
Começou pelo nome Emmy e agregou Curl (caracol em português) pois desde sempre desenha espirais. Aos 11 anos compôs a sua primeira canção mas cedo a sua aptidão para a música foi sobressaindo. Ainda na barriga da mãe, “já estava a ser cultivada com música”, tendo os pais como grande influência na sua inclinação artística. “Os meus pais faziam canções antes da minha existência, durante e ainda hoje”, refere Emmy que aos oito anos recebeu uma máquina de gravar voz e “era viciada em gravar tudo, inclusive as aulas da primária”. Aos 15, completou três anos de formação de guitarra clássica e iniciação ao canto lírico no Conservatório Regional de Vila Real. “Foi suficiente para mim, a partir dessa formação fui moldando esse conhecimento àquilo que já sabia e que ainda procuro”. Para Emmy Curl, “Trás-os-Montes é um antro de inspiração de todo o poeta, músico ou pintor”, sendo que a sua maior inspiração provém da Natureza e inevitavelmente das “paisagens do Douro e das Serras do Alvão e Marão”.
Apesar de transmontana orgulhosa, Emmy sabe que o que surge na capital e bem longe dos montes tem maior impacte nacional. “Tem meios mais fáceis de divulgação, as pessoas que importam estão lá, o que faz com que a troca de informação com as pessoas certas seja mais rápida”. “Viver longe do mundo citadino apenas traz-nos inspiração. O resultado final é sempre melhor quando lá (capital) chegamos e expiramos o que de mais belo trazemos do campo”, disse.
No que toca a edições, Emmy está ainda no início da sua carreira discográfica. Ainda este ano, foi escolhida por Henrique Amaro – radialista da Antena 3 – para integrar a colectânea Novos Talentos Fnac 2010, onde se apresenta com o tema “Seafire And Its Waltz”, gravado com o produtor Mário Barreiros. Esta compilação, nas lojas desde segunda-feira, já lançou nomes revelação da música nacional como Deolinda ou Rita Red Shoes e para Emmy não é mais que uma porta aberta para a expansão da sua curta carreira musical. “Já me foram abertas algumas portas e o CD só agora foi lançado, mas acredito que me levará mais longe”, revelou.
Para Outubro, está previsto o seu disco de estreia mas entretanto Emmy tem um longo Verão pela frente. Entre showcases em Fnacs um pouco por todo o país, a cantora pop vai marcar presença em dois grandes festivais de Verão. A 3 de Julho estará no Festival Delta Tejo em Lisboa e cerca de um mês mais tarde, a 6 de Agosto, no Festival Sudoeste TMN na Zambujeira do Mar, este com maior projecção do que o primeiro. “Vou ter uma banda a tocar comigo, um contrabaixo, um baterista e uma rapariga que faz percussão e back vocals”, adianta a menina da voz melodiosa. Apesar de novas nestas andanças e ainda muito pouco mediatizada, Emmy espera “uma boa recepção” por parte do público e deseja que este esteja “receptivo e com vontade de ouvir coisas novas”.
Este fim de semana vai-se realizar um evento, que penso merecer as honras duma Entrada neste blogue. Não é a cimeira da NATO da qual já sabemos mais do que o suficiente, mas uma manifestação cultural de calibre maior. Transcrevo parte da carta que recebi do meu professor Domingos Loureiro com informação detalhada do acontecimento. Este fim de semana, a Velha-a-Branca, em Braga, vai encher-se de arte recebendo a segunda edição do V-A-B art fest. São 30 artistas e várias personalidades ligadas às artes que se vão apresentar no espaço da Velha-a-Branca, no Museu Nogueira da Silva e na Casa do Professor. A inauguração das exposições será esta sexta-feira, pelas 21h30, havendo às 22h00 uma conferência com o Prof. António Quadros Ferreira (Dois Anos, dois Momentos: 1974 Manifesto de Vigo, 1976 Grupo Puzzle). António Quadros Ferreira é Professor Catedrático da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e artista, além de autor de várias publicações sobre arte. Durante 3 dias a Velha-a-Branca apresentará vários eventos como exposições de artes plásticas, conferências e workshops. Todos os eventos são gratuitos, à excepção dos Workshops (Ilustração e Desenho/Pintura) que terão um preço simbólico de 15 € (25€para os dois).
Já cá não estão, mas para nós, a família, serão sempre os pilares desta grande prole: oito filhos, vinte e um netos, trinta bisnetos, dos 69 anos ao 1 dia de idade. Espero não me ter enganado nas contas:)
Os meus Pais viveram sempre um para o outro e para os filhos. Viveram bem, gozando todos os momentos que a vida lhes proporcionou, o meu Pai procurando tornar o país melhor no campo da Pediatria, a minha Mãe, cuidando de nós e ajudando-o , sendo ela também parte integrante do seu brilhante projecto de vida e carreira. O meu Pai faleceu faz em Dezembro trinta anos, a minha Mãe sobreviveu-lhe mais vinte e dois anos, nunca o esquecendo e orgulhando-se sempre muitissimo do seu marido, de quem falava a toda a hora aos netos e bisnetos. teriam agora 98 e 92 anos, respectivamente, o que não foi possível, infelizmente.
Fomos privilegiados, sem dúvida e por isso, aqui fica a memória deles, que, à medida que envelhecemos, se nos torna mais nítida e transparente.
Duas peças de música que cada um apreciava e que me comovem sempre que as oiço.
Fui buscar o meu neto mais velho ao colégio, depois do treino de futebol, para o levar a um concerto na Escola de Música Silva Monteiro, reputadíssima academia de grandes músicos desta cidade,onde o meu neto aprende a tocar piano com um professor da Universidade de Aveiro, que mostrou interesse em dar-lhe aulas. Quando lá chegámos, estavam muitas pessoas reunidas no átrio. O concerto constava de seis peças, uma sonata de Beethoven - 1º andamento, tres peças de Chopin, das quais saliento o Estudo opus 10, nº4, que o rapaz, Raul Peixoto da Costa, de 16 anos, tocou magistralmente. As outras duas peças eram espectaculares, a de Lopes Graça, Música Festiva nº 14 muito original e vistosa, outra, Sugestão Diabólica Prokofiev, igualmente rebuscada e difícil. O meu neto ficou com os olhos em bico quando o viu trocar as mãos e tocar na madeira em alternância com as teclas na peça do compositor português. Todo ele vibrava. Findo o concerto, propus-lhe irmos jantar os dois à Alicantina, um restaurante muito popular que fica na zona, o que lhe agradou imenso por poder comer um prego no prato e beber um sumo. Fica feliz com pouco, este meu neto. À vinda para casa, perguntei-lhe: Lembras-te quando eras pequenino e a Avó te contava histórias no caminho do colégio para casa? E comecei a contar-lhe: Era uma vez um Mocho e uma Raposa. O Mocho estava no cimo duma árvore....ele interrompeu-me logo com jeitinho: Vóvó, não era um corvo? ". Desatei a rir com a minha lacuna...e ele acrescentou filosoficamente: É que as raposas não andam à noite pelos campos....". Uma lição do neto à Avó (já gágá). Continuei a contar a história agora com o corvo no seu lugar. As objecções continuaram: "Como é que o Corvo falava com a Raposa e o queijo não caía?". Respondi: É que ele falava com a boca cheia, como tu, a comer o gelado! Marquei um ponto, finalmente!:))
Assim se acabou a tarde. O pequenito já estava com sono e ainda tinha de tomar banho antes de dormir. Suspirou: Mas porque é que eu fui jogar futebol? Devia era ter ido à piscina como o mano para não ter de tomar banho! . Eram 8 horas.
Fica aqui um Estudo de Chopin em memória destas horas preciosas.