sábado, 20 de outubro de 2012

DIA DO POETA - Manuel António Pina ( 1943-2012)


Morreu o Poeta, um dia antes do Dia.

Foto de Fernando Cardoso

Morreu um dos melhores deste século. E Portugal não tem assim tantos.



Homenagem modesta aqui neste blogue onde a sua genialidade não cabe.

RELATÓRIO


É um mundo pequeno,
habitado por animais pequenos
– a dúvida, a possibilidade da morte – 
e iluminado pela luz hesitante de
pequenos astros – o rumor dos livros,
os teus passos subindo as escadas,
o gato brincando na sala
com o último raio de sol da tarde.
Dir-se-ia antes uma casa,
um pouco mais alta que um império
e um pouco mais indecifrável
que a palavra “casa”; não fulge.
Em certas noites, porém,
sai de si e de mim
e fica suspensa lá fora
entre a memória e o remorso de outra vida.
Então, com as luzes apagadas,
ouço vozes chamando,
palavras mortas nunca pronunciadas
e a agonia interminável das coisas acabadas.


E uma canção: Quand il est mort le Poéte do grande Gilbert Bécaud.



Quand il est mort le poète

Quand il est mort, le poète,
Quand il est mort, le poète,
Tous ses amis,
Tous ses amis,
Tous ses amis pleuraient.

Quand il est mort le poète,
Quand il est mort le poète,
Le monde entier,
Le monde entier,
Le monde entier pleurait.

On enterra son étoile,
On enterra son étoile,
Dans un grand champ,
Dans un grand champ,
Dans un grand champ de blé.

Et c'est pour ça que l'on trouve,
Et c'est pour ça que l'on trouve,
Dans ce grand champ,
Dans ce grand champ,
Dans ce grand champ, des bleuets.

La, la, la...

... des bleuets

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Na cidade

Tenho andado arredada do blogue.

Sem inspiração, com uma certa angústia, cansada de ouvir dizer mal de tudo, sem vontade de me pronunciar sobre o que se passa, pois iria certamente chocar muita boa gente de esquerda que me lê, e este blogue foi feito para dar alegrias e não depressões ou achaques:)

Fiz um quadrinho por estes dias, mais para descansar a cabeça do computador, ao qual estou amarrada quase todo o dia por necessidade de trabalhar no meu projecto e de adiantar serviço. Nunca se sabe, posso ter algum problema de saúde...

Hoje já está um belo dia de outono, sem chuva, nuvens brancas e algum calor. Bom tempo para estar na varanda a ouvir música no meu Ipod.

Um poema para acompanhar o quadrinho.

Uma Cidade

Uma cidade pode ser
apenas um rio, uma torre, uma rua
com varandas de sal e gerânios
de espuma. Pode
ser um cacho
de uvas numa garrafa, uma bandeira
azul e branca, um cavalo
de crinas de algodão, esporas
de água e flancos
de granito.

Uma cidade
pode ser o nome
dum país, dum cais, um porto, um barco
de andorinhas e gaivotas
ancoradas
na areia. E pode
ser
um arco-íris à janela, um manjerico
de sol, um beijo
de magnólias
ao crepúsculo, um balão
aceso
numa noite
de junho.

Uma cidade pode ser
um coração,
um punho.

Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"

Uma cidade pode ser um candeeiro no final da tarde....

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Homeland

Homeland é o nome duma série americana que conquistou este ano nada mais, nada menos que três Emmys, melhor série dramática, melhor actriz e actor principal.

Vi-a toda em inglês, mas já deram a primeira temporada na Fox e agora estão a dar a 2ª temporada, que promete ser tão excitante como a primeira.
O ambiente é tipicamente americano , nos bastidores da CIA , no Iraque e outros países exóticos, com muito suspense um ritmo infernal, como todas as séries do género. Gosto bastante e não me assustam, pois, embora bastante violentos, sobretudo a nível psicológico, trazem-nos interpretações magníficas e um suspense, que poucas séries inglesas e muito menos as portuguesas, contém.

Já vi muitas parecidas, mas a actriz principal, Claire Danes ( lembram-se da loirinha Juliet do Romeo  &...) interpreta agora o papel de agente da CIA, com doença bipolar controlada, e uma naturalidade e tensão absolutamente devastadoras. Adoro-a. O actor principal, inglês, que faz de Brody, veterano do Iraque condecorado, e mais tarde, membro do congresso, também é excepcional, mais contido, mas não menos enigmático.

Vale a pena ver- de preferencia no original....


Fica aqui um trailer para quem não conhece.

domingo, 14 de outubro de 2012

Anne-Sophie Mutter


Quando esta menina tinha 15 anos, li um artigo sobre ela numa revista especializada para o ensino do alemão. Contava que a adolescente fazia todas as semanas uma viagem da Alemanha à Suiça para ter aulas com a sua professora para além do horário normal de aulas do secundário. Já prometia vir a ser um prodígio a que se aliava a beleza física. Aos 13 anos tocou pela primeira vez em publico com a Filarmónica de Berlim.

Levei o texto aos meus alunos de alemão, que ficaram muito interessados na pequena. Não havia Internet, nem sequer vídeo, de modo que o que leram foi a única informação que tiveram.


Passados anos o nome desta violinista veio para as bocas do mundo, algumas vezes por ser considerada a teacher's pet  - aluna querida - do grande Karajan, que preteriu outros violinistas em favor dela.

Não sei se isso é verdade, mas Anne-Sopphie gravou para a Deutsche Gramophon  e EMI tudo o que há de obras para violino e tornou-se um ícon deste instrumento.

Hoje em dia já há muitos mais, mas ela continua a tocar com perfeição, como posso constatar neste programa do MEZZO, em que interpreta o concerto de Beethoven, o primeiro que ouvi em toda a minha vida, aos dez anos, pelo maravilhoso David Oistrach no Coliseu de Lisboa.

Também foi o meu primeiro disco vinil de música clássica, que ainda está em casa do meu ex- com muitos outros. Beethoven, sempre ele.