sábado, 16 de julho de 2011

Do Porto à Luz

O nosso país é tão pequenino que se faz em 50 minutos. Incredible!!

E como é que ainda falam em regionalização?

Saímos do Porto as 2.20 e ao bater das 3.10 estávamos em Faro....a sair do avião e a ser bafejados com um vento quente, o cheiro a estevas, o ar de verão, a sensação de que já conhecemos a rota....há 45 anos que a fazemos quase todos os anos, de comboio, de carro, de camioneta, de avião...só não fui de barco nem de mota.
Este ano ja estive três vezes no Algarve, o que é um verdadeiro recorde. Não fosse a bendita Ryanair ( assim continue, mais as suas cornetas a festejar um vôo on time) e nunca o poderia concretizar. A viagem de comboio ou mesmo de carro é por demais fastidiosa e cansativa....o avião não vinha cheio, mas as pessoas tinham todas um ar feliz, vinham muitas crianças; uma delas perguntava à mãe ,curiosa, se ainda estávamos no nosso planeta!

Tirei fotos com o meu IPOD desde o Porto até Faro e nelas se vê como o nosso país é tão dispar, duma paisagem verdejante, que aqui não se vê bem por causa das nuvens, até ao Alentejo seco, castanho e amarelo, com a barragem do Alqueva, azul e luminosa, mas sem vivalma, por fim a ria Formosa, que é um rendilhado de verdes e azuis, que nenhum pintor sera capaz de igualar...e o mar azul, verde, imenso a perder-se nas neblina.

A minha filha já foi tomar um banho aqui em frente de casa, sopra um ventinho cálido, que não chega a arrefecer, daqui a nada vamos jantar à hora britânica no chamado Paraíso da Luz, o primeiro café que aqui apareceu, primeiro uma cabana de madeira tímida, onde tomávamos uns drinks ao fim da tarde, depois um mamarracho enorme com umas varandas colossais sobre a praia onde se estava bem, agora de novo uma casa simpática de madeira, com arquitectura bonita e com a vista magnífica da Rocha Negra ao fim do dia...

É bom voltar sempre....ao que é nosso e já foi dos nossos pais. Tudo aqui tem uma história desde as cadeiras de verga compradas em Loulé até aos ajulejos de Alcabideche ( salvo erro), um lenço trazido de Paris transformado em quadro , uma carapaça de caranguejo de Angola ou Moçambique, umas tenazes do fogão em ferro forjado da casa de Lisboa, um velho barómetro que o meu Pai consultava todos os dias e comentava a propósito....(sempre teve a mania da metereologia, como eu)...a caixinha de costura da minha mãe, a garrafa de champagne gigante transformada em candeeiro ( prenda do meu Padrinho ao meu Pai no dia do seu acesso a Professor Extraordinário, após o concurso), um quadrinho com barcos à vela que trouxeram de Itália, a estante cheia de livros antigos que eu própria escureci com viochene, os cadeirões de bambú com almofadas vermelho vivo, as almofadas que vieram da índia, lá fora a buganvília carregada de flores roxas e amarelas, enfim....um mundo de memórias, que ainda durarão mais uns 50 anos...assim a Família o queira e Deus tb.

Acabo esta entrada agora depois do jantar. O sol morre lá longe. Está-se bem aqui, sem TV, a ouvir o vento, vozes de crianças e risos de ingleses no bar atrás, já um pouco alegres...há um novo stand de gelados aqui junto à Fortaleza, vai ter sucesso com os gulosos dos meus netos. O vento á está mais fresco....mas amanhã é um novo dia do começo das nossas férias.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Férias II


Admiro muito aquelas pessoas que se metem num safari ou num cruzeiro ou mesmo numa viagem organizada, sem levar amigos, nem marido, nem filhos...vão mesmo à aventura, abertos ao desconhecido, cientes de que não terão o apoio de ninguém de família para os proteger em caso de doença ou de acidente. É bom e é mau. Mas deve ser completamente diferente.Nunca experimentei.

Já viajei sozinha, mas apenas para me deslocar daqui para ali, para a Inglaterra e Alemanha ou mesmo para os E.Unidos. Sempre gostei de aeroportos, de observar tudo com os meus olhos, de ocupar o tempo sem preocupações. Levar outras pessoas é sempre stressante, sobretudo quando se vai em grupo.
Fiz várias viagens de pacote com o meu ex-, fomos a países exóticos fabulosos, que nunca esquecerei, mas cada uma das viagens teve as suas peripécias e muito cansaço. Levantávamo-nos pelas 6 da manhã, tínhamos de fazer malas todos os dias, andar de camioneta durante horas, saltitar de lugar em lugar, demorar o minimo de tempo a ver cada monumento, seguir para a camioneta, ouvir os guias e dormitar, se possível. Mesmo assim, lembro-me da maravilha que foi para mim ver o deserto na Tunísia, os oásis, as miragens, o Coliseu ao fim da tarde e a cidade de Tunes com os seus mercados. Também adorei a Turquia, a Capadócia e Pamukale, o Egipto - o cruzeiro do Nilo é maravilhoso - a Jordânia ( Petra), Jerusalém, cidade única, Praga e Budapeste, etc.

Quando tinha 47 anos fui num curso de férias a Nottingham em Inglaterra, com uma bolsa, sozinha com duas colegas. Tive, pela primeira vez depois de vinte anos de sufoco, uma sensação maravilhosa de liberdade. Estar sem os filhos e marido durante 20 dias, com pessoas mais novas, professores de todo o mundo, num ambiente universitário, fez-me sentir anos mais nova e gozei todos os momentos dessa aventura como se fossem os últimos dias de vida. Ainda tenho um caderno onde os 57 participantes e professores me escreveram dedicatórias. Hoje tenho saudades desses dias, das actividades criativas que fizémos durante o curso, dos colegas inteligentes e simpaticos que lá encontrei, da minha auto-estima que estava em zero e subiu bastante...dos passeios, da paisagem inglesa que adoro e até da chuvinha que as vezes caía, antes do sol aparecer e inundar tudo de uma luz branca, muito pura.

Também passei férias adoráveis nos EU, primeiro só com o meu filho em Ítaca, local espectacular no inverno, com 15 abaixo de zero e toda a paisagem branca e gelada ou quando os meus queridos netos foram para Boston por oito meses. Boston é uma cidade muito interessante e estar com eles foi uma experiência divertida e diferente. Não gostei muito foi das horas de avião que são compridas e cansativas...mas NY é inexplicavel. Os musicais e o teatro são únicos.Time Square, o passeio de barco até a Staten Island, a Brooklyn Bridge ao pôr do sol, estar ali com o meu filho mais velho foi talvez dos momentos mais felizes da minha vida. Também com ele fui a Veneza...e nunca mais esquecerei aquela surpresa no Carnaval de 2000, antes de ele se casar.

Ficaria aqui a escrever horas e horas sobre locais e sensações...mas isto é apenas um "para mais tarde recordar"...como diz o anuncio da Kodak. Mais tarde recordamos...recordaremos ate morrer...esquecendo o que foi mau, não correu bem, os pequenos problemas, e lembrando as grandes surpresas, os momentos encantados, os olhares, os sorrisos, o carinho....tudo o que deve fazer parte dumas férias bem passadas.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Férias



A ideia de férias vem sempre com uma auréola, algo de místico, de prazer incontornável, de alegria e liberdade.

Sempre gostei de férias, não me lembro de alguma vez ter chegado ao tempo delas com remorsos por não ir trabalhar :), com preocupação de nada ter para fazer :), de não saber como ocupar o tempo livre :) ou com medo do terrível vácuo que se abria no meu panorama a partir dali.

Houve momentos em que não notava grande diferença entre os dias de aulas na universidade e as horas a estudar em casa para os exames; mas a esses, não chamo férias, apenas dias de estudo, bem duros muitas vezes, com calor insuportável, livros e cadernos cheios de notas, a cabeça pesada , a memória assoberbada de conhecimento pouco útil. Muitas horas passei a ler, a estudar, a fixar factos, ideias, a analisar textos, autores,poemas ou peças de teatro. Li 13 peças de Shakespeare para um exame de Lit Inglesa, anotando-as no meu livro de obras completas, que tinha comprado por tuta e meia na Feira do Livro, em Inglês, mas que tinha uma letra que nem com lupa se lia bem :).E afinal, para quê, se nunca ensinei Shakespeare aos alunos???

As verdadeiras férias começavam quando acabava o estudo...quando acabavam as aulas nas escolas e vinham alguns dias de sossego. Férias eram aqueles dias quentes de verão, passados na praia da Carcavelos ou em Sintra ou em Cascais ou no Guincho com os irmãos e amigos, numa maré de displicência juvenil, felicidade descontraída, ilusão de que tudo era o paraíso.

Férias devia significar a ausência de programas fixos, liberdade total naquilo que se faz, se veste, se come, se sonha e se dorme. Poucos, porém, podem usufruir dessa sensação, porque todos nós temos a mania de programar tudo e até de nos irmos em viagens, onde cada minuto é monitorizado por um guia, pela família ou até pelos amigos com quem estamos.

Penso que cada um de nós devia fazer férias sozinho. Pelo menos por uns dias. Mas o nosso instinto gregário e as cordas que nos prendem aos demais figurantes desta novela é sempre mais forte e acabamos por passar férias a pensar nos outros, nos filhos, nos netos, nos amigos dos filhos, nos nossos amigos, ou até em desconhecidos!

Venham as férias...com apensos ou sem eles...quando se está aposentado, a vida parece ser uma vivência de férias ininterrupta. A diferença não é notória.

O melhor das férias, dizia um dos meus filhos é o ANTES....e eu acrescento e, por vezes, o DEPOIS, quando olhamos para as fotografias, filmes ou vídeos e temos saudades...daquilo que já não volta.

E aqui fica uma canção que, de tão cândida, me faz sorrir.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Evasão

Eu bem digo que ando em maré de evasão....ontem sentei-me com esta tela à frente e em meia hora pintei este quadrinho que diz tudo o que me vai na alma. É uma paisagem bucólica, luminosa, um céu mais britânico que português, campos amarelos....

Ando um pouco inquieta, ansiosa por estar com os meus filhos e netos noutro lado qualquer, a respirar oxigénio, a correr, a brincar, a apanhar sol. O meu filho mais novo acabou o CEJ com notas brilhantes s escereve no FB que só vê uma palavra à frente: praia, praia, praia,,,,,estou como ele.

Sei que a nossa Praia da Luz nos espera, o mar imenso e transparente, a água fria, o jardim já sem a palmeira, mas com a vista ainda mais alargada...há momentos que se têm de repetir todos os anos para que sintamos continuidade e segurança, agora que os anos passam e que já não há muito mais a esperar. Sempre adorei o mar e fui das mais entusiastas aquando da compra daquela casa pelos meus pais nos anos 60. Lá passei muitos fins de semana com eles sozinha e férias sem fim que se prolongavam até Outubro por vezes. Tomava banhos todos os dias, quer a água estivesse a 18º como a 23º e até mergulhava das rochas directamente para aquela "piscina", que se formava por entre as rochas. Os meus filhos gravaram em vídeo as peripécias que por lá passámos e até fizeram uma telenovela mafiosa com amigos. Eram noites de serenatas, música, amizade com estrangeiros, churrascos e alegria. Aquele foi sempre o meu escape do Porto, o Paraíso e afinal, o único legado dos meus Pais. Nem os meus rmãos compreendem o meu apego aquele local, onde gostaria que as minhas cinzas fossem espalhadas.

Ontem fiz um vídeo de algumas pinturas minhas a pedido do meu irmão. Só foca o mar...foram pinturas feitas em ocasiões muito diferentes, algumas toscas nos meus primórdios, mas todas elas se centram neste tema. Escolhi uma sonata para violoncelo e piano de Beethoven a acompanhar.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Maré de inspiração e saudade



Gosto deste termo "maré"...que se usa mais para maré de azar ou de sorte do que para outros estados de alma...
A verdade é que , talvez porque no sábado vôo daqui para outro lado, em férias, tenho sentido uma enorme liberdade nestes dias, assim como um enorme desejo de expressar alguma coisa através dos pincéis, das mãos ou mesmo das teclas.

No dia 8, teria feito a minha Mãe anos e nada escrevi sobre isso. Já faleceu há quase dez anos e embora nunca me tenha recomposto completamente - pois ela faz-me falta todos os dias - a verdade é que as datas deixam de ter significado numa eternidade que existe para além da Vida. Comprei-lhe uma rosa, , pu-la numa jarra ao pé do seu retrato jovem e sorridente e a rosa está linda, como ela o foi. Nâo seria especialmente bonita no físico, mas era-o como pessoa inteira. Tinha uma personalidade muito forte e eu admrava-a imenso, até certa idade, achava que ela tinha sempre razão e sabia tudo. Depois percebi que, como em todas as pessoas da sua geração, havia tabus e ela não falava de certos temas com os filhos. Nunca teve conversas como as que já tive com os meus filhos, a proximidade não era assim tão grande e o à-vontade também não.
Mas aparentemente, esse tipo de conversas só me fez falta mais tarde, quando estava para casar e mesmo depois, pois não havia ninguém que me pudesse dar conselhos como ela.
Culturalmente, a minha Mãe era superior, nunca tinha andado na escola secundária, mas recebera o ensino todo em casa, com professores excelentes, de modo que sabia muto mais do que se aprende na escola, sobretudo na área das línguas, música, arte e humanidades. Lia tudo e a sua memória permitia-lhe recordar passagens inteiras de livros já lidos há muito tempo. Nunca me lembro da minha Mãe sem um livro ao pé, sobretudo antes de haver Tv na nossa casa, o que aconteceu só em 1969, quando o Homem foi à Lua. A minha Mãe coleccionava os suplementos literários de todas as revistas, Marie Claire, Elle, Femmes d'Aujourd'hui, assim como instruções para trabalhos de mãos, catalogadas por assunto. Muitos desenhos de bordados tinha e adorava arrumar tudo em caixinhas feitas por ela e enfeitadas com papeis colados.Aprendi a fazer quase tudo de mãos com a minha Mãe e ainda hoje quando tricoto, penso nela e nas tardes de paz que passávamos na saleta a conversar, ouvir música e a tricotar.

Não sei o que ela diria dos meus quadros, infelizmente só comecei a pintar há pouco tempo, mas ela apreciava o que fazíamos e dava valor à nossa imaginação...quer fosse a escrever, quer a bordar, quer a tocar piano.
Tenho muitas saudades de ir com ela à Baixa de Lisboa, comprar as linhas na retrosaria da Rua da Conceição ou à papelaria Fernandes, onde o Sr. Barrelas nos vendia os lápis e papéis. O passeio terminava com um lanchinho na Ferrari ( ai os batidos de morango que lá faziam!!) ou no Expresso no Rossio ( aí eram batidos de iogurte e banana deliciosos), antes de irmos apanhar o autocarro 43 à Praça da Figueira. Ainda tenho peças de enxoval comprados nos Grandes Armazens do Chiado, que hoje é um shopping todo renovado.

Há dias fiz este quadrinho do fundo do mar. Acho que ela ia gostar, porque nunca vi ninguém gostar tanto de mar como ela...assim como havia de se deliciar com o meu filho a tocar esta peça de Debussy, que não consigo ouvir sem me virem as lágrimas aos olhos...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

No reino dos azuis

Enquanto a minha filha cozinhava uma bela pasta de atum no WOK, sentei-me a fazer-lhe companhia e descobri uma telazinha, que em tempos tinha enchido de pastel de óleo só para experimentar o efeito. Ficou muito mal, o pastel não adere à tela e não faz efeito nenhum. Resolvi cobri-lo todo com acrilico duma cor azul esverdeada que comprei ontem e que é deslumbrante. Com branco comecei a desenhar formas sem muito nexo, nem intenção. Fiquei com um fundo que me lembrava o luar, um lago, algo de etéreo, mas faltava um foco central. Usei então a minha cor preferida - aquela que mais uso nas minhas pinturas, creio - o azul prussiano, para delinear uma árvore que atravessou o espaço, em poucas pinceladas. Fi-la com uma espátula, que acumula mais tinta e a espalha dum modo mais agressivo. Gostei do efeito. Aperfeiçoei o fundo, dando-lhe mais profundidade, e sobretudo , mais mistério.



Quando acabei, a pasta estava pronta e deliciosa. Foi a cereja no topo do bolo.

Lembrei-me agora duma canção que a minha filha colocou hoje no Facebook e que é cantada por uma das cantoras mais puras que conheço. Chama-se Loreena McKennitt. É canadiana e as as músicas são semore acompanhadas de instrumental exótico e harpa tocada pela própria, o que realça ainda mais a pureza da sua voz. A canção chama-se Greensleeves, é uma melodia tradicional de amor.