Pelo menos é o que me parece quando olho para ele....vejo uma floresta, um regato meio alvoroçado, árvores e água num jogo de cores e luz. Mudei a foto que estava muito escura.
Fi-lo há dias, só hoje acabei. Acrílico sobre MDF, com gel para a textura. Tinta muito diluida,
Deitei-me passava das 2 e acordei há meia hora como se tivesse dormido tudo. Uma insónia persistente...
O dia amanhece, para variar está aquele nevoeiro tão característico do Porto, que só se dissipa pelas 9, quando o sol começa a brilhar forte. As árvores já estão cheias de folhas, numa semana a Primavera chegou em beleza e com força. A Casa Andersen , adormecida no meio do arvoredo envolve-se neste manto verde depois de exposta aos rigores do inverno. Vejo a torre daqui do meu sofá e sonho ir á outra vez disfrutar daquela vista fantástica sobre o jardim até ao mar.
É bom viver no meio das árvores, conquanto isso custe no dia-a-dia,
sem lojas nem locais mais animados. Esta rua é um sossego a esta hora, nem autocarros se ouvem....estarão em greve???
Sábado, o meu dia preferido....hoje quero sair ...ir a qualquer sítio lindo...
O nome não deve dizer nada a muita gente. Sobretudo a quem não ouve música alternativa, aquela que não é pop, nem country, nem soul, nem R&B, nem folk , nem rotulada e por isso não comercial.
Há música fantástica neste campo e desde há muito que me habituei a ouvi-la, sem me cansar, passando por fases em que oiço algumas bandas como os Tindersticks,
os Divine Comedy
ou os Magnetic Fields até à exaustão, outras em que não oiço nada de nada e me volto para os cantores eternos como Nick Cave ou Leonard Cohen ou ainda Andrew Bird.
Poderia enumerar mais de dez bandas que tenho gravadas aqui no I'Tunes e que também " pertencem" ao meu filho mais novo, que me aconselhou sempre bem neste capítulo, visto que é grande conhecedor do género.
Saiu agora um CD desta banda Lambchop, americanos do Tennessee, que me lembro de ouvir na praia de Ofir, no meu discman, ao passear à volta da língua de areia que forma aquela maravilhosa oferta natural.
Foram duas horas a ouvir Lambchop, os seus primeiros discos, com acompanhamento quase jazzístico e a voz inconfundível do vocalista Kurt Wagner.
Lambchop has consisted of a large and fluid collective of musicians focused around its creative centre, frontman Kurt Wagner. Initially indebted to traditional country, the music has subsequently moved through a range of influences including post-rock, soul and lounge music.
O novo album Mr M é excelente , na minha humilde opinião. Deixo aqui um vídeo só de instrumental, que deve ter sido inspirado na música brasileira e outro cantado que se entranha em nós.
Ou melhor no Cidade, shopping center construído com polémica, mas que se tornou rapidamente um local de convívio no coração da cidade, junto à Rotunda da Boavista, onde vão jovens e velhos, turistas, estudantes,mães de família como eu outrora, executivos, toda a espécie de "povo".
É um local bonito, em tons de azul ( tinha de ser) e que dantes - não há muito tempo - oferecia 4 filmes de tarde e à noite, todos independentes, em cinemas acolhedores, confortáveis e seguros. Não havia pipocas, mas à volta, a Praça da Alimentação estava sempre cheia, com gastronomia da mais variada. A comida manteve-se, os cinemas fecharam. Sintomático.
Não precisamos de encher a cabeça de ideias, nem de nos evadirmos para o país dos sonhos, mas é necessário continuar a encher o estômago de hamburgers, massa chinesa ou sopa de Pedra.Em breve esta cidade só terá lojas de alimentos, mercearias, supermercados, restaurantes, cafés e.....telemóveis e bancos, claro.
Cinemas, não.
Vi filmes fantásticos nesses 4 cinemas. Ainda lá estão os restos, pois o espaço não serviu para mais nada, nem sequer aproveitaram a sala maior que poderia ser um teatro ou sala de concertos. Um desperdício.
Passei a ir comer à Arcádia dentro da Livraria Leitura, onde se pode sentar e folhear os livros da moda , centenas de exemplares que todo o bicho-careta hoje consegue publicar, não sei com que fim e para que público-alvo. Ficção, não ficção, poesia, infanto-juvenil, jurídicos, bricolage, saúde, alguns de Arte, o diabo a 4. Não falta que ler...e não faltarão os leitores?
As lojas de CDs estão todas a fechar. Já não se vende música, pirateia-se o que se quer ou compra-se pela net. Lojas como a Melody sempre com uma escolha maravilhosa de música clássica, onde comprei raridades para flauta, um dos instrumentos que o meu filho e nora tocam. Já não resta nada. Lojas de roupa cada vez mais caras como a Throttleman e a Mango sobrevivem não sei como. É o franchise!:))
Vim um pouco nostálgica. Deve ser da idade, as boas memórias do passado são muitas e as más apagam-se.
Em casa oiço no Mezzo a Madama Butterfly, com Placido Domingo e Mirella Freni, que me faz sempre chorar...contava o meu Avô que tinha pedido namoro à minha Avó durante uma récita desta ópera no Coliseu de Lisboa.Que a música o tinha inspirado. Ela era linda e 17 anos mais nova, ainda prima afastada dele. Puccini acompanhou-os toda a vida. A música e o sofrimento expresso nesta ópera transcende-me. Plangente.
Ironica e dramaticamente, não consigo deixar de associar a morte dalguns locais desta cidade ao hara-kiri da minha querida Butterfly, que tudo perde no final trágico da sua curta vida.
Depois duma curta brincadeira no pátio da minha casa com a nova coqueluche dos miúdos - os populares Bey-Blades, espécie de piões que giram dentro duma pista tipo alguidar e travam lutas entre si até um parar, voltei a casa e sintonizei o BRAVA HD, novo canal de Musica Clássica.
Maravilha. KISSIN no seu melhor. Mais velho, com a cabeleira ainda mais alta ( tipo toucado do Nicolau Tolentino, lembram-se?), todo vestido de branco, com o seu "blackitie", tocando o primeiro concerto de Beethoven, o mais mozartiano dos seus concertos, mas já com muita da garra beethoveniana.
Sentimento, subtileza e clareza, mas não a magia do meu querido Sokolov. Este menino bonito, que foi considerado um génio em criança, já não nos faz parar como dantes. Reconheço-lhe talento, quem sou eu , afinal , para pôr em causa a sua genialidade? As notas saem alegres, vivaças, ritmadas, mas não tão leves como eu desejaria.
Também pode acontecer que isso se deva à gravação, que, na TV nunca é tão boa.
Este concerto é electrizante, duma jovialidade excepcional, faz-me lembrar alguns de Saint-Saens, com leitmotifs pujantes, sopros intervenientes, contracenando com o piano, numa troca de mimos vibrante.
O meu neto entrou hoje num concurso de piano em Vila Praia de Ancora e ganhou o prémio de interpretação, o que me orgulha muito. Não é um Kissin, a sua especialidade é o violino, mas o que sei é que ele pôe sentimento em tudo o que faz e isso é o mais importante. Os seus pianíssimos e fortissimos destacam-se, a virtuosidade já se nota desde pequeno.
A orquestra entusiasma-se neste final do 3º andamento. Os dedos de Kissin deslizam, cavalgam, saltitam ao ritmo dos violinos e clarinetes. Briilhante. Aplausos e Bravos estrondosos. Bendita BRAVA HD, que me permite estar numa sala de concertos sem sair de casa.
Instado pelas ovações, Kissin senta-se de novo e toca um Nocturno de Chopin. Lindo.
Como gostaria de ter a minha Mãe aqui junto a mim.Passam por mim névoas de memórias caladas , mas não adormecidas, momentos sublimes em família, ouvindo Chopin, as cortinas da janela estremecendo ao som e vibração do piano, a calmaria das tardes na nossa grande casa, onde se respeitavam estas horas de recolhimento e sossego espiritual.
Perante a insistência do publico entusiasmado, Kissin toca agora a Valsa Brilhante de Chopin.
Ó minha Mãe, vejo-a a si, sentada ao piano, desculpando-se por qualquer falha e pela falta de domínio das teclas insubordinadas...nostalgia da infância, gratidão e emoção, tudo junto. A certeza de que enquanto viver, nunca hei-de esquecer.