sábado, 31 de março de 2012

Um quadro impressionista

Pelo menos é o que me parece quando olho para ele....vejo uma floresta, um regato meio alvoroçado, árvores e água num jogo de cores e luz. Mudei a foto que estava muito escura.

Fi-lo há dias, só hoje acabei. Acrílico sobre MDF, com gel para a textura. Tinta muito diluida,

6 da manhã

Deitei-me passava das 2 e acordei há meia hora como se tivesse dormido tudo. Uma insónia persistente...

O dia amanhece, para variar está aquele nevoeiro tão característico do Porto, que só se dissipa pelas 9, quando o sol começa a brilhar forte. As árvores já estão cheias de folhas, numa semana a Primavera chegou em beleza e com força. A Casa Andersen , adormecida no meio do arvoredo envolve-se neste manto verde depois de exposta aos rigores do inverno. Vejo a torre daqui do meu sofá e sonho ir á outra vez disfrutar daquela vista fantástica sobre o jardim até ao mar.
É bom viver no meio das árvores, conquanto isso custe no dia-a-dia,
sem lojas nem locais mais animados. Esta rua é um sossego a esta hora, nem autocarros se ouvem....estarão em greve???

Sábado, o meu dia preferido....hoje quero sair ...ir a qualquer sítio lindo...

Para já vou dormir mais um bocadinho:)

sexta-feira, 30 de março de 2012

Lambchop

O nome não deve dizer nada a muita gente. Sobretudo a quem não ouve música alternativa, aquela que não é pop, nem country, nem soul, nem R&B, nem folk , nem rotulada e por isso não comercial.
Há música fantástica neste campo e desde há muito que me habituei a ouvi-la, sem me cansar, passando por fases em que oiço algumas bandas como os Tindersticks,
os Divine Comedy
ou os Magnetic Fields até à exaustão, outras em que não oiço nada de nada e me volto para os cantores eternos como Nick Cave ou Leonard Cohen ou ainda Andrew Bird.

Poderia enumerar mais de dez bandas que tenho gravadas aqui no I'Tunes e que também " pertencem" ao meu filho mais novo, que me aconselhou sempre bem neste capítulo, visto que é grande conhecedor do género.
Saiu agora um CD desta banda Lambchop, americanos do Tennessee, que me lembro de ouvir na praia de Ofir, no meu discman, ao passear à volta da língua de areia que forma aquela maravilhosa oferta natural.
Foram duas horas a ouvir Lambchop, os seus primeiros discos, com acompanhamento quase jazzístico e a voz inconfundível do vocalista Kurt Wagner.

Lambchop has consisted of a large and fluid collective of musicians focused around its creative centre, frontman Kurt Wagner. Initially indebted to traditional country, the music has subsequently moved through a range of influences including post-rock, soul and lounge music.

O novo album Mr M
é excelente , na minha humilde opinião. Deixo aqui um vídeo só de instrumental, que deve ter sido inspirado na música brasileira e outro cantado que se entranha em nós.



quarta-feira, 28 de março de 2012

Saudades do antigamente

Dantes ia ao cinema aqui no Porto. Na cidade.
Ou melhor no Cidade, shopping center construído com polémica, mas que se tornou rapidamente um local de convívio no coração da cidade, junto à Rotunda da Boavista, onde vão jovens e velhos, turistas, estudantes,mães de família como eu outrora, executivos, toda a espécie de "povo".



É um local bonito, em tons de azul ( tinha de ser) e que dantes - não há muito tempo - oferecia 4 filmes de tarde e à noite, todos independentes, em cinemas acolhedores, confortáveis e seguros. Não havia pipocas, mas à volta, a Praça da Alimentação estava sempre cheia, com gastronomia da mais variada. A comida manteve-se, os cinemas fecharam. Sintomático.
Não precisamos de encher a cabeça de ideias, nem de nos evadirmos para o país dos sonhos, mas é necessário continuar a encher o estômago de hamburgers, massa chinesa ou sopa de Pedra.Em breve esta cidade só terá lojas de alimentos, mercearias, supermercados, restaurantes, cafés e.....telemóveis e bancos, claro.
Cinemas, não.

Vi filmes fantásticos nesses 4 cinemas. Ainda lá estão os restos, pois o espaço não serviu para mais nada, nem sequer aproveitaram a sala maior que poderia ser um teatro ou sala de concertos. Um desperdício.
Passei a ir comer à Arcádia dentro da Livraria Leitura, onde se pode sentar e folhear os livros da moda , centenas de exemplares que todo o bicho-careta hoje consegue publicar, não sei com que fim e para que público-alvo. Ficção, não ficção, poesia, infanto-juvenil, jurídicos, bricolage, saúde, alguns de Arte, o diabo a 4. Não falta que ler...e não faltarão os leitores?
As lojas de CDs estão todas a fechar. Já não se vende música, pirateia-se o que se quer ou compra-se pela net. Lojas como a Melody sempre com uma escolha maravilhosa de música clássica, onde comprei raridades para flauta, um dos instrumentos que o meu filho e nora tocam. Já não resta nada. Lojas de roupa cada vez mais caras como a Throttleman e a Mango sobrevivem não sei como. É o franchise!:))

Vim um pouco nostálgica. Deve ser da idade, as boas memórias do passado são muitas e as más apagam-se.

Em casa oiço no Mezzo a Madama Butterfly, com Placido Domingo e Mirella Freni, que me faz sempre chorar...contava o meu Avô que tinha pedido namoro à minha Avó durante uma récita desta ópera no Coliseu de Lisboa.Que a música o tinha inspirado. Ela era linda e 17 anos mais nova, ainda prima afastada dele. Puccini acompanhou-os toda a vida. A música e o sofrimento expresso nesta ópera transcende-me. Plangente.

Ironica e dramaticamente, não consigo deixar de associar a morte dalguns locais desta cidade ao hara-kiri da minha querida Butterfly, que tudo perde no final trágico da sua curta vida.

domingo, 25 de março de 2012

O primeiro concerto de Beethoven

Depois duma curta brincadeira no pátio da minha casa com a nova coqueluche dos miúdos - os populares Bey-Blades, espécie de piões que giram dentro duma pista tipo alguidar e travam lutas entre si até um parar, voltei a casa e sintonizei o BRAVA HD, novo canal de Musica Clássica.

Maravilha. KISSIN no seu melhor. Mais velho, com a cabeleira ainda mais alta ( tipo toucado do Nicolau Tolentino, lembram-se?), todo vestido de branco, com o seu "blackitie", tocando o primeiro concerto de Beethoven, o mais mozartiano dos seus concertos, mas já com muita da garra beethoveniana.

Sentimento, subtileza e clareza, mas não a magia do meu querido Sokolov. Este menino bonito, que foi considerado um génio em criança, já não nos faz parar como dantes. Reconheço-lhe talento, quem sou eu , afinal , para pôr em causa a sua genialidade? As notas saem alegres, vivaças, ritmadas, mas não tão leves como eu desejaria.
Também pode acontecer que isso se deva à gravação, que, na TV nunca é tão boa.

Este concerto é electrizante, duma jovialidade excepcional, faz-me lembrar alguns de Saint-Saens, com leitmotifs pujantes, sopros intervenientes, contracenando com o piano, numa troca de mimos vibrante.

O meu neto entrou hoje num concurso de piano em Vila Praia de Ancora e ganhou o prémio de interpretação, o que me orgulha muito. Não é um Kissin, a sua especialidade é o violino, mas o que sei é que ele pôe sentimento em tudo o que faz e isso é o mais importante. Os seus pianíssimos e fortissimos destacam-se, a virtuosidade já se nota desde pequeno.

A orquestra entusiasma-se neste final do 3º andamento. Os dedos de Kissin deslizam, cavalgam, saltitam ao ritmo dos violinos e clarinetes. Briilhante. Aplausos e Bravos estrondosos. Bendita BRAVA HD, que me permite estar numa sala de concertos sem sair de casa.

Instado pelas ovações, Kissin senta-se de novo e toca um Nocturno de Chopin. Lindo.

Como gostaria de ter a minha Mãe aqui junto a mim.Passam por mim névoas de memórias caladas , mas não adormecidas, momentos sublimes em família, ouvindo Chopin, as cortinas da janela estremecendo ao som e vibração do piano, a calmaria das tardes na nossa grande casa, onde se respeitavam estas horas de recolhimento e sossego espiritual.

Perante a insistência do publico entusiasmado, Kissin toca agora a Valsa Brilhante de Chopin.
Ó minha Mãe, vejo-a a si, sentada ao piano, desculpando-se por qualquer falha e pela falta de domínio das teclas insubordinadas...nostalgia da infância, gratidão e emoção, tudo junto. A certeza de que enquanto viver, nunca hei-de esquecer.