domingo, 30 de maio de 2010

Para Alguem




ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

Gonçalves Crespo

Miniaturas
Este poema é dedicado à minha sogra que faleceu ontem aos 95 anos.
Foi uma pessoas muito importante na minha vida, com traços positivos e negativos, mas deixando em mim uma marca profunda, um exemplo de fidelidade a si própria e aos seus princípios e de dedicação às crianças, com quem conviveu durante 40 anos nos cuidados primários do Instituo Maternal do Porto. Foi uma das primeiras médicas a licenciar-se na FMUP, com enorme valor e coerência de princípios. Segundo ela, a Medicina é um serviço e não uma profissão para um indivíduo enriquecer. Desactualizada? Talvez, mas um exemplo de vida a seguir.

Que repouse em Paz!