quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Capital e a Invicta


Lisboa - vista do rio
Ontem chorei em Lisboa....a cidade da minha infância e juventude, a capital dos meus sonhos de adolescente, o lugar onde fui educada debaixo da protecção solar e estrelar dos meus pais e irmãos, privilegiada desde que nasci até que parti.
Nunca mais voltarei para esse lugar "estranho", onde me sinto agora lost in translation. Mixed feelings quando nela penso, doi-me ver escorrer tanto dinheiro para uma cidade que segundo os michelins deste mundo já tem tudo o que é preciso e ainda quer mais. A minha cidade-berço é preguiçosa, presunçosa e ambiciosa até dizer basta.
Ler uma Mª João Seixas afirmar com a sua soberba inata que o Porto não necessita duma Cinemateca - quem é que ela pensa que é? - ou que os comboios chegam e sobram ( vê-se...), que os portuenses têm complexos - chamar-lhe-ia raiva contida - porque são incapazes de atrair os turistas, blablabla enche-me de revolta.

Quando namorava o meu marido, a minha sogra dizia-me muitas vezes sem grande jeito: "Lisboa é grande demais, não gosto da Baixa lisboeta, as lojas são todas muito dispersas, uma pessoa perde-se. Gosto muito mais da Baixa do Porto, onde tudo é mais aconchegado e as lojas têm tudo o que há de melhor, assim houvesse dinheiro para gastar....:). E depois, o rio de Lisboa ´é tão largo, não é espelhado, não dá curvas, nem é azul, como o Douro, a vista quando se chega de comboio ao Porto ( pela D. Maria...) é lindíssima, a de Lisboa, mesmo a da ponte, não se compara, é tudo feio junto à estação de S. Apolónia.Não gosto mesmo nada dessa cidade."Ela tinha as suas razões de queixa.

Irritavam-me aquelas observações ainda por cima ditas em sotaque tripeiro....mas são em parte verdadeiras. Basta mudar...de cidade e de vida.


Monumento aos pescadores, vulgo Anémona - Matosinhos

Ainda me lembro duma conversa que tive com o meu marido-to-be no PACO, um restaurante junto à Gulbenkian, em que fiquei furiosa de ele dizer que os portuenses trabalhavam a sério e os lisboetas só corriam dum lado para o outro todo o dia , queixando-se nos cafés da lufa-lufa da sua vida complicada. Achei a ofensa máxima e perdi o apetite....mas realmente quando penso na minha vida em Lx - verifico que 2/3 da minha adolescência foi passada em autocarros a percorrer a cidade...autocarros onde até fazia tricot para entreter o tempo e aguentar as viagens até ao Restelo ou à faculdade e liceu. Poderia ter tido uma média bem superior na FLUP ( só tive 15) se não perdesse metade do tempo nos transportes e se me dessem tempo para estudar mais e melhor.
A rua onde morei durante vinte anos - 1951-1971

Depois deste fim de semana, em que passeei no Porto como uma turista com os meus amigos woophians, mais uma vez tive a certeza de que esta é a melhor cidade do pais para se viver.
Bom sucesso no coração do Porto
A rua António Cardoso, aqui junto à do Campo Alegre, onde vivo - é mais bonita que todas as ruas do Restelo onde vivi, cheia de árvores centenárias e com um jardim histórico a 5m a pé de minha casa. Em dez minutos estou junto ao Oceano Atlântico
a cheirar a maresia e a ver as regatas a sublinhar o horizonte. As gaivotas trazem-me todos os dias novas do estado do tempo , pousando no candeeiro aqui junto à minha varanda. Os meus netos vivem aqui pertinho, tem o colégio alemão para onde vão a pé; e, se quiser respirar ar puro, posso voar para o Parque da Cidade onde espraio a minha vista até ao mar. Que posso querer mais?

Todas as fotos foram tiradas por mim este ano. As fotos de Lx são do Google!! Clicar!