quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

De novo em viagem a Lisboa ( com F. Pessoa como epílogo)

Muito curta....só à capital e mesmo ao coração da dita.

O meu filho vai mudar de casa e a nova morada fica na Mouraria, terra do Fado nas Escadinhas da Achada. O nome diz tudo. Nunca vi tantas escadinhas na vida. Não pude tirar fotos porque chovia, estas são do google, mas voltarei lá mais vezes.
A casa dele é um T0, num beco com vista para o Largo do Caldas. Um candeeiro típico de Lisboa em forma de lanterna ilumina-lhe a cozinha à noite, quase não é preciso acender a luz. Tudo muito típico, mas frio...:)), sem aquecimento, com um esquentador diabólico ( Já me tinha esquecido destes hábitos lisboetas, mil vezes o cilindro do Porto!!
Como ele tinha exame amanhã, vim à noite no comboio das 8. A viagem foi linda, para lá e para cá, sempre a ouvir música e sossegada. Adoro viajar de comboio, sinto-me leve, independente, só, no bom sentido. Não preciso de companhia para viajar, adorava fazer uma viagem grande sozinha...um dia.

Tirei algumas fotos no caminho.

Portugal depois da chuva é mesmo lindo...os campos competem com os que vejo em Inglaterra, que neste momento devem estar brancos de neve. A minha filha diz que tem nevado todos os dias em Leeds e ela está feliz. Do quarto dela vê-se tudo coberto. Daqui a 15 dias estarei lá. Viajar agora é comigo.

E dado que ontem se celebraram os 75 anos da morte de FERNANDO PESSOA, fica aqui um poema a Lisboa do seu heterónimo, ÁLVARO DE CAMPOS:

Lisboa

Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono.
Como à força de sentir, fico só a pensar.

Se, de noite, deitado mas desperto,
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.

Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
A força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.

Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.


Álvaro de Campos, in "Poemas"