Quando eu comecei namoro, em 1965, as meninas tinham de fazer um enxoval, ter um conjunto de roupas que se consideravam indispensáveis para qualquer casal. Esse enxoval era feito aos poucos, por nós com ajuda da minha Mãe, que cheia de paciência nos ensinava a fazer as bainhas dos lençois, os ajours, os bordados, as rendinhas.
O meu pai abriu-nos uma conta no banco que recebíamos aos 21 anos e que serviria para o nosso enxoval ou casamento ou mesmo para outros desígnios como ir viajar. Gastei algum, indo na minha viagem de curso, estando na Alemanha a tomar conta de crianças e na Áustria a aprender alemão à minha custa. Isso responsabilizou-me bastante, fez-me crescer e aprender a sobreviver sozinha.
Habituada a viver numa família grande, sentia muito a falta dos meus irmãos e mãe, chorava por vezes à noite, na Alemanha onde nem telefone tinha. Escrevia muitas cartas ao meu namorado, mas aqueles dias nunca mais passavam. Não tinha quase dinheiro nenhum, mas passava o tempo a namorar as lojas da Grafen Strasse em Viena...
Penso que hoje os jovens já não sentem tanta necessidade de sair de casa, há muitos que ainda vivem com os pais - não foi o caso dos meus filhos - instalam-se e as mães aceitam essa situação, convencidas de que estão a zelar pelos interesses deles.
Sinto a falta dos meus filhos rapazes - chego a estar semanas sem falar com o mais novo que mora a 15m da minha casa - e pouco vejo o mais velho pois tem uma vida diabólica, mas compreendo que não há obrigações, nem deveres, tudo deve vir do afecto que eles sentem - ou não- por mim. Detestaria que se sentissem na obrigação de me vir visitar ao fim do dia, como o meu ex- fazia com a minha sogra. A independencia é a coisa melhor que há. Enquanto for possível....
Estou a ver um programa Toda a Verdade em que se fala de autoritarismo e a falta dele. É curioso ver como os pais se sentem culpados por não terem educado os filhos com mais obediência e obrigações. Os proprios filhos, franceses, dizem que os pais culpam sempre os profs quando eles têm má nota, sem querer ver se os filhos estudaram ou não para terem uma boa nota.
Fala-se agora das palmadas físicas, ninguém concorda com elas....eu também não. Preferia dar dois berros a bater nos meus filhos. E não suporto ver mães a bater nos filhos porque nunca a minha mãe me bateu ou foi fisicamente agressiva. Acho insuportável.
Tenho andado a trabalhar muito nos meus livros. Escrevo menos, mas agora vieram-me estas ideias à cabeça...e apeteceu-me falar convosco.