quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Leitura fora de casa



Li ontem no I uma reportagem interessante sobre as leituras que se fazem nos transportes públicos em Lisboa. Pelos vistos ainda há quem leia no metro, nos autocarros, pendurado nos varões, em pé. Aqui no Porto é raro ver pessoas a ler nos autocarros, mas a falar ao telemóvel são às dezenas, incomodando todos os utentes e fazendo-nos tomar parte nas conversas desenxabidas que por vezes têm com amigos e familiares.Nos comboios, então, nem se fala. Tenta-se dormitar e só se ouvem toques, qual deles mais embirrento e pessoal.



Sempre li nos transportes em Lisboa. Fazia todos os dias o percurso Restelo-Cidade Universitária, no tempo em que o metro era um centímetro e não me adiantava para nada. Tinha de apanhar o autocarro 12 até ao Calvário ( nome sugestivo), aí esperar pelo 38 que percorria quase Lx inteira até ao Hospital de Santa Maria. Levava uma hora e meia por vezes. Escusado será dizer que lia, lia e voltava a ler. Até fazia tricot, muita camisola foi feita por ali.Sempre gostei de ler livros de fio a pavio - Gone with the Wind, Exodus, Guerra e Paz, Os Irmãos Karamazov, são alguns exemplos - até que há uns anos deixei de poder ler sem óculos. Os óculos complicam-me a vida, embora ainda consiga ler letras maiores, como o jornal I, por exemplo, sem eles. Só tenho 1,5 dioptrias.
Lembro-me dum ritual sagrado que cumpria amiude: ia apanhar o autocarro 43 à Praça da Figueira, donde ele partia, e comprava o JL que vendiam no chão junto à paragem. Deleitava-me a ler sobre literatura e novos livros de poesia, cinema e artes. Era barato.
Também li muito Shakespeare nos autocarros, apesar da letra minuscula e da complexidade da escrita. Só para a cadeira de Literatura I tive de ler treze peças em inglês, conhecer os enredos, localizar citações, enfim, um trabalho ciclópico que hoje já ninguém faz. Lêem a tradução ou os resumos já feitos na Internet. Nós tínhamos exames no anfiteatro, em que era possível consultar as obras, mas as citações baralhavam-se no nosso espírito e era bem difícil distinguir as comédias das tragédias, pois S. é sempre denso e filosófico.

Sobre Shakespeare, há um história engraçada que não resisto a contar.
Quando a Internet começou já há uns bons doze anos, quis preparar uma sessão da APPI sobre as possibilidades que se abriam, através dela, na preparação de aulas completamente diferentes e inovadoras. Ao fazer uma busca sobre Shakespeare, que na altura era tema obrigatório no 12º ano, encontrei inúmeros sites em que jovens faziam perguntas sobre os enredos das peças, de modo a poderem realizar os seus trabalhos da escola. Num forum sobre TPCs, um jovem pôs esta questão: Alguém me pode ajudar? Queria saber o nome de todas as personagens que morrem no final da peça Hamlet.. O forum era inglês ou americano. Uma das respostas foi : I wish I knew it ( Quem me dera a mim saber isso).