quarta-feira, 3 de março de 2010

Voltei à escola




Quando me aposentei há dois anos, em Janeiro de 2008, senti um enorme alívio por não ter de voltar à escola, sair da rotina que me obrigava a levantar as 7 todos os dias, apanhar um autocarro e o metro, para estar as 8.30 na escola.
Sempre gostei de ensinar, não é disso que se trata. O problema residia no ambiente terrível que se vivia nessa altura, a pressão exercida sobre os docentes, como se deles tivesse vindo todo o mal ao mundo, o label de calaceiros que nos colavam, a obrigatoriedade das aulas de substituição - algo que nunca foi pensado em termos de pedagogia, mas tão somente para babysit os alunos indisciplinados e fartos de escola, as aulas de 90m, a invenção mais estapafúrdia que alguma vez saiu da 5 de Outubro, as actividades no Clube de Línguas - todo decorado pelos profs, muito cosy , com revistas, filmes, actividades, etc,- mas que acabava por ser desperdiçado pelos alunos revoltados por não poderem sair, enfim, uma panóplia de contra-sensos e de traumas, que o império da MLR veio trazer a um lugar onde os bons professores cumpriam até mais do que lhes era pedido.
Muitos projectos fiz com os alunos - entrevistas gravadas num Congresso da APPI a vinte profs estrangeiros que nos visitaram, estudo e expo sobre as instituições inglesas do Porto, que nos levaram a visitar e conhecer seis locais e histórias diferentes, passeio ao Gerês com os alunos mais novos, com piquenique na mata ( e uma cabeça partida duma aluna que foi alvejada por outro alunos com uma pedra (!)), jornal em inglês financiado por mim quase inteiramente, culinária na biblioteca ( as célebres bolachinhas inglesas, cujo cheiro chegava ao andar de baixo), tudo isso fez parte dum percurso de que me orgulho e que ainda hoje é recordado com enorme saudade pelas minhas ex-estagiárias de há 20 anos, quando as encontro fortuitamente.

Pensava não voltar a dar aulas....e sentia-me feliz. Os manuais escolares, que fiz durante vinte e cinco anos também estavam em standby devido à lei dos seis anos de vigência, com que discordo plenamente ( já viram o que é ler agora sobre o Bush ou sobre a Margaret Thatcher, os Pink Floyd ou Dire Straits??? Os alunos acham uma seca...e compreende-se, de modo que o professor tem de substituir essas actividades por outras todos os dias, deixando de lado o manual, que custou 20 euros.

A Vivacidade, esse espaço super dinâmico que ainda agora me surpreende convidou-me há um mês para fazer um workshop de Inglês para pessoas já aposentadas ou interessadas em viajar e esquecidas do que eventualmente
aprenderam há mais de quarenta anos.
Na altura pensei NÃO, não sou competente para isso, nunca dei aulas a adultos, já não sei ensinar beginners , já não tenho elan nem dinamismo para motivar as pessoas.
Mas acabei por aceitar o desafio.
O Workshop centra-se em comunicação oral e auditiva, posso usar a Internet, CDs e musica, o que quiser.
Levei horas a preparar a primeira aula, que se realizou na 2ªfeira, pedi à minha filha que fosse a minha co-piloto, devido à sua juventude e conhecimentos da língua e lá fui expectante para a Vivacidade.
Tudo correu maravilhosamente...as alunas são cinco estrelas, a motivação é enorme, o ambiente é relaxante, cada pessoa assume uma personalidade diferente - Jessica, Ashley, Susan, Polly, Sarah, etc. são os nomes escolhidos - eu serei a Ms Simpson e a minha fila Ms Simpson Jr. Começámos por um Jogo do Galo com palavras inglesas e acabámos com o visionamento do trailer de Spanglish, um filme muito interessante sobre a diferença de culturas.


As alunas gostaram, hoje continuamos. E eu cheguei à conclusão de que ADORO ENSINAR...seja o que for...desde que os alunos queiram aprender. Sinto-me FELIZ.