terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ver o Porto a definhar

Não gosto de me lamuriar ou de fazer deste blogue um rol de queixas, mas ontem foi demais. Resolvi ir à Baixa - nós chamamos Baixa na realidade a uma área que fica bastante alta na cidade. A Rua de Santa Catarina, a Praça da Batalha, as ruas de Passos Manuel e 31 de Janeiro ( que em tempos conhecia do Monopólio, apenas:) são ruas de sobe e desce, como o é quase toda a zona histórica do Porto. Em tempos estas rua regurgitavam de gente, ostentavam lojas caras e com pergaminhos, conhecidas de todas as senhoras elegantes, que não adquiriam as suas roupas num qualquer chinês ( não existiam ainda), nem sequer em armazéns no estrangeiro. Ainda me lembro de a minha sogra só comprar sapatos na Gentil e de o meu ex- ter os seus fatos manufacturados na Piloto. Nenhuma das lojas sobreviveu à fúria dos shoppings, que assolou os arredores do Porto nos anos 90.
Ontem constatei a morte de mais de dez lojas daquelas que eu frequentava, a Casa Forte, onde comprei muitos artigos para os meus filhos, a Tamegão, onde se encontravam artigos para a casa de todo o género, as mercearias finas junto à Casa Chinesa, a única loja que vendia chás de todo o género avulsos e artigos asiáticos extremamente difíceis de encontrar na cidade.
Tapumes e tapumes, carregados de posters a anunciar eventos artísticos, grafittis de mau gosto, lixo, jornais e desperdícios...encimados por árvores lindíssimas nos tons outonais. Quase chorei, ao subir Sá da Bandeira, uma das ruas mais comerciais do Porto. Será que não haveria mesmo maneira de manter estas lojas tradicionais abertas? Elas eram símbolos do comércio nortenho, davam um colorido e
uma patine a estas ruas, as pessoas sentiam-se bem melhor percorrendo estes passeios do que metidos em shoppings onde todos os estabelecimentos são iguais, não têm história, nem caché.
Que histórias encontramos numa Zara, num Cortefiel, num Body Shop ou num Modelo-Continente? Que vendedores nos ficam na memória? São armazens de produtos, cheios de luz, música péssima, kms de corredores pejados de latas, frascos, frutas, roupas, livros e CDs, plantas, mobílias, cuja intenção é apenas vender, vender, vender....não criar laços entre vendedores e clientes, uma semana trabalham uns,noutras trabalham outros, não se fixam caras e muito menos corações.
Não sou sentimentalista, mas sou sentimental. Tenho saudades das lojas da Baixa de Lisboa, onde ia com a minha Mãe, nos anos 60. E agora já tenho saudades do Bolhão ou da Bruxelas , ou... das papelarias...
Outono tristonho...uma cidade que adormeceu, como no conto da Bela Adormecida. O problema é que já
não há príncipes Encantados e a esperança destes locais já morreu. Não há reparação possível.