Ontem fiz a minha árvore de Natal,mais cedo do que é habitual e talvez por mera necessidade de sentir algum calor e luz nesta época que, outrora, era de grande bulício e frenesim.
As aulas estavam a acabar depois dum período cansativo de três meses, os testes tinham de ser corrigidos , as avaliações feitas atempadamente, os níveis ou notas atribuídos, antes de se pensar em Natal, em enfeites, prendas ou o que quer que fosse. Deixava tudo para a última hora e os dias 22 e 23 eram passados a comprar coisinhas para a minha enorme família ou a acabar tricots que sempre ofereci aos meus sobrinhos ou filhos. Gostava daquela azáfama que só acabava no dia 26, depois de termos tido a consoada em minha casa, com a família do meu ex- a 24, e da corrida a Lisboa para o jantar de Natal, a 25, em casa da minha Mãe. Não aguentava aquela maratona e quase sempre o Natal acabava em lágrimas, sem qualquer razão especial.
Os dias a seguir eram de ressaca...nem Ano Novo queria festejar.
Sempre gostei de dar aos alunos uma réstea de magia e trazia filmes relacionados com a época, pedacinhos de ficção mais sugestivos, alguns jogos e muita , muita música de Natal no último dia de aulas. Fiz uma vez um calendário de Advento com caixinhas de fósforos forradas de dourado e coladas a uma fita de papel crepe vermelho. Abria-se uma caixinha antes de começar a aula e dentro dela havia a foto de um dos alunos que, nesse dia, tinha de fazer qualquer "gracinha" para os colegas em inglês, antes de comer o chocolate ou rebuçado respectivo. Tudo isto trazia um colorido diferente para a Escola, onde não havia grandes manifestações de solidariedade.
Uma vez, resolvi trazer um leitor de cassetes e pôr a tocar música de Natal na sala de profs; depois de uma certa estranheza, houve vários colegas que se queixaram do "barulho", de modo que compreendi que era inútil, há pessoas que não vibram com nada...e que todos os dias é Natal...para elas!
Ainda não trouxe os meus netos a verem a árvore. Em geral eles gostam ainda mais do presépio por causa dos bonecos espalhados pelos montes cobertos de musgo, dos cogumelos pequeninos que brotam aqui e ali, as pinhas prateadas e as velas. As figuras são antigas e todos os anos a decoração é diferente, conforme o material que tenho à mão. Não gasto dinheiro em enfeites.Está tudo guardado em caixas e só sai à liça nesta época.
As noites são escuras, mas há luz em minha casa.