São flores do campo, simples , leves, à menor brisa as suas pétalas dum vermelho vivo agitam-se e dobram-se quais meninas num atelier de ballet. O coração é negro e o pé muito verde e muito fino, embora forte, cravejado de penugem que não pica, só afaga.
Adoro papoilas desde a minha infância. Tínhamos-las aos montes em redor da nossa casa nos terrenos baldios, que ninguém esperava se tornassem jardins um dia.
Saltávamos o muro baixo da nossa casa e estávamos no oeste.
Eram pedregulhos, espigas, cardos, urtigas, mil e uma flores silvestres, sapos, lagartixas, bichos de conta, joaninhas....essas agarrávamo-las e metíamos em caixinhas de fósforos.
Joaninhas e papoilas, todas elas vermelhas e negras, graciosas e perenes na nossa infância despreocupada. O cheiro ficáva-nos nas mãos durante horas.
Um dia aprendemos a fazer meninas com as papoilas, dobrávamos as saias para baixo e com o caule apertávamos a cintura, deixando o corpete verde do lado de cima.
Imaginávamos que seriam duma escola, em que o uniforme era todo vermelho - um pouco como o nosso do QES - sempre brincámos muito às escolinhas, fossem elas de papel, de cartão ou de papoilas! Ser professora já me estava na massa do sangue.
Entretanto um amigo meu enviou-me estas fotos de papoilas, malmequeres e joaninhas....agradeço-lhe do fundo do coração pois por alguns minutos voltei a sentir o cheiro a lavado do campo em flor.
Ontem e hoje fiz mais um quadrinho em homenagem às papoilas....um campo cheio de elas....a perder de vista...quem me dera estar ali...naquele momento da minha infância feliz.
Ai noite de Lua
Meu lume de arder
O finas areias
O clara manha
O rubras papoilas
Da cor da roma
O rosto da terra
E abismos do mar
Ouvide o seu canto
De longe a arfar
Abriram-se as velas
Mal rompe a manha
Na luz e nas trevas
Lá vai a louça
Da morte zombando
Na aurora lunar
Num jardim suspenso
Do seu folgar
Zeca Afonso
Adoro papoilas desde a minha infância. Tínhamos-las aos montes em redor da nossa casa nos terrenos baldios, que ninguém esperava se tornassem jardins um dia.
Saltávamos o muro baixo da nossa casa e estávamos no oeste.
Eram pedregulhos, espigas, cardos, urtigas, mil e uma flores silvestres, sapos, lagartixas, bichos de conta, joaninhas....essas agarrávamo-las e metíamos em caixinhas de fósforos.
Joaninhas e papoilas, todas elas vermelhas e negras, graciosas e perenes na nossa infância despreocupada. O cheiro ficáva-nos nas mãos durante horas.
Um dia aprendemos a fazer meninas com as papoilas, dobrávamos as saias para baixo e com o caule apertávamos a cintura, deixando o corpete verde do lado de cima.
Imaginávamos que seriam duma escola, em que o uniforme era todo vermelho - um pouco como o nosso do QES - sempre brincámos muito às escolinhas, fossem elas de papel, de cartão ou de papoilas! Ser professora já me estava na massa do sangue.
Entretanto um amigo meu enviou-me estas fotos de papoilas, malmequeres e joaninhas....agradeço-lhe do fundo do coração pois por alguns minutos voltei a sentir o cheiro a lavado do campo em flor.
Ontem e hoje fiz mais um quadrinho em homenagem às papoilas....um campo cheio de elas....a perder de vista...quem me dera estar ali...naquele momento da minha infância feliz.
E aqui fica uma canção a propósito:
Ai noite de Lua
Meu lume de arder
O finas areias
O clara manha
O rubras papoilas
Da cor da roma
O rosto da terra
E abismos do mar
Ouvide o seu canto
De longe a arfar
Abriram-se as velas
Mal rompe a manha
Na luz e nas trevas
Lá vai a louça
Da morte zombando
Na aurora lunar
Num jardim suspenso
Do seu folgar
Zeca Afonso