domingo, 28 de outubro de 2012

Mozart ao Domingo


Oiço o concerto nº 23.  Piano. Um dos meus preferidos.

Volto à minha adolescência em Lisboa, àquela casa enorme, lindíssima, cheia de sol aos Domingos, aos almoços depois da Missa nos Jerónimos, ao fim do almoço na varanda, repleta de buganvília vermelha, a dar para o jardim, aos passeios na relva, às brincadeiras de criança, ao Mata, ao badmington, às ameixieiras em flor, a serenidade e a paz em família.

Um mundo que acabou. Um mundo que só se vê nas séries da TV. Um mundo que só restará na nossa memória, enquanto existirmos.

Uma nostalgia profunda neste Adágio, talvez um dos mais pungentes de Mozart, os sopros em sintonia perfeita com o piano, interpretado hoje por um rapaz novo, um dos galardoados do Prémio Rubinstein.

Este Adágio era ouvido religiosamente pelo meu Pai, talvez com os olhos fechados...como se deve ouvir música.

Salta subitamente o 3º andamento, revolto como a cabeleira do compositor no filme Amadeus, só faltam as suas gargalhadas zombeteiras para eu o ver ao vivo aqui no ecran. Os clarinetes, fagotes, flautas alegram-se ao som das teclas , que parecem querer dançar um foxtrot, cavalgando e terminando em trilos dextros. A orquestra anima-se toda, rejubilando por terem ultrapassado a nostalgia e o medo.

Manhã de sol quente e vento....outubro na despedida....mozartiana sem dúvida...sozinha em casa, gozo a paz deste domingo sem missa, sem mais ninguém, mas religiosa na memória da música.

Ofereço-vos aqui o grande SOKOLOV a tocar o concerto 23 completo. Bem hajas Mozart!

Um bom Domingo para todos.