A tarde clareou.
O sol começou a brilhar e as gotinhas que repousavam nas folhas começaram a cintilar. Era a hora de ir em safari, não para ver animais ferozes, mas plantas magníficas que já amo como se fossem minhas.
Um dia escrevi aqui que gostava mais de plantas do que de animais e alguém ficou admirado. Hoje confirmei-o mais uma vez. As plantas são únicas, não há uma igual a outra, resplandecm ao sol à sua maneira, crescem em tamanhos diferentes, amarelecem ou não, conforme a estirpe, duram mais, duram menos, mas, enquanto duram, são belas como as grandes paixões.
Perdi-me no jardim da FCUP, aqui mesmo ao lado do Botânico, onde só se ouviam os pássaros no seu chilrear constante, dir-se-ia que conhecem Vivaldi e o entoam propositadamente para mim.
As áleas estavam cobertas de folhas, a erva repleta de pétalas de camélias, ouriços de castanhas aos milhares, cogumelos enormes, musgo, líquenes, tudo em harmonia. Era a Natureza no seu melhor, depois de uns dias de chuva, revigorante, esplêndida e convidativa.
Senti a falta dos meus netos que chamam a este jardim o "departamento", pois em tempos o meu filho trabalhou ali...já há uns quatro anos. Um deles tem lá um "escritório" debaixo das árvores e uns troncos que considera seus. A imaginação não tem limites...bendita idade.
Estar assim em uníssono com a beleza faz-me acreditar. E cito Alberto Caeiro, pois com ele me identifico.
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
O Guardador de Rebanhos