quinta-feira, 11 de março de 2010
Down memory lane
Torre de Belém - colagem. Autoria Stewart Scott- 23 Novembro de 2004 - 11 de Março de 2010
A expressão inglesa no título significa recordar, relembrar factos ou memórias passadas...algo que se faz muito na velhice ou depois dos 50 quando uma metade da vida já se foi e o resto já não surge tão glamoroso ou prometedor.
Nunca fui nostálgica da infância....tive muito, posso dizer que a minha infância foi relativamente calma e despreocupada, mas não uma infância feliz com recordações inesquecíveis. Talvez por ter muitos irmãos - somos oito irmãos - senti-me sempre um pouco só no meio de muita gente. E sempre achei que se vivia numa família etiquetada de feliz, como muitas desse tempo, pois não sofríamos de apertos financeiros, vivíamos numa casa linda e com espaço para todos. Na adolescência, quando comecei a querer ser eu, e não apenas um elo da correia, a vida só era agradável a 100% fora de casa, na escola onde tive uma vida activa para alem das aulas, compromissos na Jecf e amigas q.b.etc.
Em casa só me sentia bem sozinha,no jardim grande da minha casa no Restelo - eram tempos de outra senhora, lembro - ou a ler de fio a pavio os romances que a minha Mãe escolhia para nós. Eram livros muito bons para meninas - colecção das Raparigas-e eticamente recomendáveis. Estar com as minhas irmãs significava ter de dar conta de tudo o que pensava, fazia, decidia ou sonhava. Tudo era muito controlado pelas minhas irmãs mais velhas, pelos meus pais, até os filmes que víamos, namoriscos ou as amizades. Daí não me terem ficado grandes saudades da vida familiar desses tempos. Havia festas, jovens, danças e aniversários, mas nem sempre muito felizes para mim, pessoalmente.
Tudo isto para explicar que me afastei progressivamente da família, entrei numa de introspecção a partir dos 14 anos, passei pela fase da religiosidade, era beata e vanguardista simultaneamente, como a minha amiga Helena, que agora é política notável.Andava pela capela do Rato, como muitos jovens da minha idade e meio social.
Muito passeei pelo Restelo, bastante desertico nessa altura, adorava ir até aos Jerónimos, sentar-me no escuro da Igreja, ler os Evangelhos, que têm partes lindíssimas , meditar, ir até à Torre de Belém - era só atravessar a linha e estava do outro lado, junto ao rio. Na Torre podia-se entrar sem pagar e aqueles muros davam-me a sensação de estar a viver uma aventura dos Cinco.
A Torre de Belém faz parte da minha infancia e juventude assim como o Mosteiro dos Jerónimos, onde casaram os meus irmãos.
Esta foto que o meu amigo Stewart me enviou hoje e que levou horas de trabalho e pesquisa nos seus arquivos fotográficos é um espelho do que foi a minha juventude, planos vários, parecidos, quiçá paralelos, mais felizes, menos felizes, belos porque já passados...
Obrigada, Stewart. Como vês, as tuas fotos contam uma história: a minha.