quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ainda sobre a morte da nossa palmeira da Luz



Falei aqui num poema ou texto que um dos meus sobrinhos teria escrito e oferecido à minha Mãe, que o guardou até ao momento em que nos deixou, assim como gaurdou outras histórias - umas que escrevi aos 10 anos e ainda tenho - desenhos feitos por nós, cartas e postais. Ela dava muita importância a estes pequenos gestos criativos e nós sentíamo-nos mais valorizados, ainda que jovens ou adolescentes.

Para alem do poema o Pedro desenhou um sketch a preto e branco da Calheta, o lugar onde fica a nossa casa da Luz e a palmeira surge aí num dos lados, como elemento indispensável....

Transcrevo-os aqui em homenagem a uma árvore que nos deu a todos muita alegria visual e a certeza de que enquanto durasse, a nossa família se reuniria ali naquele local, feliz, contemplando a vista, que, essa, nunca deixará de existir. Sonho muitas vezes que lá estou e em geral, o sonho transforma-se em pesadelo pois o mar está repelente, escuro, a praia reduzida a nada...acordo aflita para me certificar que tudo não passou dum receio injustificado. Ano após ano, aquela prainha continua, maior ou menor, as crianças vão nascendo na nossa família - só trisnetos já são uns 26 quase 27, se não estou em erro. Outras palmeiras nascerão também para alegria dos nossos descendentes...

DIZ-ME PALMEIRA


Diz-me, palmeira, que vês tu daí?
Os barcos à mercê do vento Norte?
As rochas descobertas pela maré?
Mais um banhista que perdeu o pé?
Ou um pescador banhado pela sorte?
Verás a fortaleza imponente?
O pôr do sol na Ponta da Gaivota?
As traineiras com peixe para a lota?
Ou o esquiador que passou de repente?

Diz-me, palmeira, que ouves tu daí?
O sotaque algarvio do jardineiro?
O seu constante e alegre assobio?
O cão que passou, lesto, e fugiu?
Ou o idioma esquisito de um estrangeiro?

Palmeira, que imaginas tu daí?
Na praia grande, que pensarás ver?
A alegria de toda a multidão?
O calor sufocante deste verão?
Ou as ondas do Levante a bater?
O gelado da menina gulosa?
Ou o dragão ofegante a rugir,
Da cova ameaçando sair
Na Rocha Negra, ao fundo, misteriosa?

Diz-me palmeira, que vês tu daí?
Porque eu, antes de mais, vejo-te a ti...


Pedro Cordeiro - 198...