quinta-feira, 14 de abril de 2011

Grigory SOKOLOV ao vivo

Ontem fui ouvir o grande Grigory Sokolov. Com os meus filhos e com a minha Amiga Regina, para quem consegui um bilhete à última da hora porque a minha nora teve de ficar com os meninos.



A nossa Casa da Música, sala Suggia, a abarrotar, até havia cadeiras no palco, fenómeno a que nunca tinha assistido. Coro cheio, camarotes repletos, plateias sem um lugar vago. Ninguém quis perder este concerto, tal é a fama dum pianista que de mediático nada tem, figura pesada, pequena, cabeleira branca, mãos papudas. Senta-se ao piano dois segundos depois de fazer os cumprimentos e a partir daí transfigura-se. Só conseguimos ver os seus dedos a dançar sobre as teclas, nuns cambiantes de tons maravilhosos, seguros,sem deslizes. Um silêncio total que até arrepia. Ninguém se atreve a espirrar ou a tussir, não há telemóveis, nem mexer nas cadeiras. As plateias rendem-se à magnificiencia do executante.

Dois concertos de Bach, um à moda italiana, outra à francesa, a torrente de notas ao ritmo barroco. Uma beleza para quem aprecia o compositor alemão, como eu. Repetitivo talvez, mas impregnado de misticismo e beleza espiritual. Na segunda parte, Schumann, arrevezado, obrigando a malabarismos com as mãos que se trocam, que deslizam sobre as teclas, que se levantam e baixam com força, sentimento a rodos, pausas em que quase não dá tempo para respirar.

Por fim, as palmas, um estrondoso aplauso de pé, que o pianista agradece sem se demorar, como se tivera receio de ceder à tentação de agradar demais. À segunda vinda ao palco, senta-se e toca um encore. Chopin, Schubert, Rachmaninoff, não sei bem qual. E a cada chamada ao palco, presenteia-nos com mais uma peça, até chegar às sete, já com a plateia a debandar, pois é meia noite e no dia seguinte tem de se trabalhar.

Ficaria ali esquecida a ouvi-lo, pois cada momento a mais é mais um sonho realizado.

Fica aqui um excerto de um concerto dado em Paris com um Prelúdio de Chopin: