Cansada de vozes e de barulho político-financeiro, desanimada com o país e com os media em geral, sintonizo para o MEZZO e como dizem os ingleses, o que lá vejo " is music for my ears"...uma orquestra maravilhosa toca a Pastoral - 6ª Sinfonia - de Beethoven.
Música transcendente, evoca em mim sentimentos de paz, harmonia, beleza, natureza, vontade de viver. Do primeiro ao último acorde, fico suspensa num halo de luz, de bem-estar e felicidade espiritual.
O Homem não foi feito para falar, falar, falar.....mas para ouvir. Ouvir é essencial e se não ouvíssemos, não falaríamos.
Infelizmente a criança ouve, ouve, mas a partir do momento em que fala, deixa de querer ouvir, quer impor a sua fala e a sua vontade. Berra para se fazer ouvir. Verifiquei isto mesmo hoje com o meu neto mais novinho que tem dois anos e que fala pelos cotovelos, embora eu não o compreenda tão bem quanto gostaria...tive de ir experimentando não sei quantos extractos do Youtube até perceber qual dos desenhos animados é que ele queria ver....para além do Noddy que é a sua grande paixão. Felizmente, descobrimos umas canções infantis muito engraçadas e acabámos os dois por nos entender à maraviilha a ouvir a versão soft de Atirei um pau ao gato, que termina com uma quadra memorável em brasileiro: "Não atire o pau ao gato porque o gato é um animal e como animal, ele é seu igual" Concordo a 100%!
Os clarinetes e as flautas continuam a encher esta sala de brilho. Vem aí o terceiro andamento.... que descreve a tempestade no campo. Vejo daqui os campos verdes do Yorkshire, com os céus toldados, roxos, negros, a ameaçar chuva e lá longe a claridade da bonança que se seguirá à tempestade. Os sopros continuam animados, oboés, fagotes, trompas transmitem o dramatismo do temporal. Mas mesmo esse é de tal modo harmónico que não quebra a paz. O flautim expressa a alegria dos camponeses naquela atmosfera rural. E à trovoada, sucede de novo a claridade.
Como será possível não gostar desta música, não sentir nada ao ouvi-la, desconhecê-la?
Será que sou demasiado elitista e que exijo demais? Como é que a Escola ignora a Música nos dias de hoje? Nas minhas aulas ela tinha um papel fundamental porque sendo professora de lingua inglesa, tinha a possibilidade de a ouvir. Ainda me lembro dum episódio de Os Simpsons, em que a música de fundo era esta sinfonia - ela aparecia por oposição à violência dos desenhos animados que os miúdos viam. Usei o episódio para despoletar nos alunos o gosto por Beethoven e eles aderiram.
Bem aventurado MEZZO. Basta de FMIs, de paleio rotativo, de nuvens negras, de ameaças, de futuros apocalíticos. De tempestades sem bonança.
Recuso-me a aceitar tais perspectivas de futuro.
Como dizem os ingleses, e desculpem se os cito de novo: "Every cloud has a silver lining" . Todas as nuvens têm uma fímbria de prata.