O LIVRO
| 
É então isto um livro, 
este, como dizer?, murmúrio, 
este rosto virado para dentro de 
alguma coisa escura que ainda não existe 
que, se uma mão subitamente 
inocente a toca, 
se abre desamparadamente 
como uma boca 
falando com a nossa voz? 
É isto um livro, 
esta espécie de coração (o nosso coração) 
dizendo “eu” entre nós e nós? 
 | 
| As coisas | |
| 
Há em todas as coisas uma mais-que-coisa 
fitando-nos como se dissesse: “Sou eu”, 
algo que já lá não está ou se perdeu 
antes da coisa, e essa perda é que é a coisa. 
Em certas tardes altas, absolutas, 
quando o mundo por fim nos recebe 
como se também nós fôssemos mundo, 
a nossa própria ausência é uma coisa. 
Então acorda a casa e os livros imaginam-nos 
do tamanho da sua solidão. 
Também nós um dia tivemos um nome 
mas, se alguma vez o ouvimos, não o reconhecemos. | 
O segundo andamento do belo concerto de Vivaldi que o meu neto já toca dum modo que impressiona.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
